Terceiro Verso: sobre espinhos, regatas e formigas;

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A gente deveria tirar as os espinhos antes de pegar uma rosa.



Eu tinha quinze anos quando estava planejando a surpresa para o dia das mães. Era um buquê lindo de rosas, maravilhoso, do jeito que a minha mãe merecia. Acabei arrumando aquelas flores no jardim da vizinha do Jisung (se lembram que eu disse que ele era meu companheiro de crime, não é? Esse foi um deles), e estava super feliz por poder dar algo tão significativo para a minha mãe.

Flores são significativas, não são?

Quando colhi as rosas, sem perceber, as retirei bem perto da raiz, não sentindo seus espinhos. Eles passaram totalmente despercebidos por mim até minha mãe estar gritando e jogando as flores longe porque foi segurar o buquê no meio e acabou machucando a mão.

Tinham tantos espinhos que eu sequer consegui contá-los.

Eu chorei, decepcionado pelo ato não ter dado certo. Realmente queria impressioná-la, mas aquilo me deixou uma lição importante, sabe? Por mais que a nossa intenção seja boa, precisamos ter cuidado com os espinhos que passam despercebidos e machucam os outros.

E foi vendo Changbin explodir de raiva que eu me perguntei: quem deixou os espinhos passarem despercebidos e machucarem Changbin daquela forma?




Changbin está sentado no sofá enquanto meus pais sentam nas poltronas dispostas a sua frente. Eu estou de pé, parado em frente à porta de casa e comendo um pedaço de pizza, enquanto ouço essa conversa delicada.

– E então eles disseram que não se importam que você fique aqui, mas não querem ter nada a ver com sua nova vida, Binnie. – posso ver o quanto minha mãe se ressente em passar ao sobrinho o que tinha acontecido na casa de seus pais – Eles também disseram que podem ajudá-lo a arrumar um emprego, algo que não seja relacionado à empresa, e que você terá sua parte da herança, como a casa, quotas da empresa, mas não poderá se tornar diretor ou qualquer cargo importante para não sujar a reputação.

– Nós sentimos muito por isso. – meu pai suspira – Tentamos um diálogo, mas conhece seus pais melhor do que nós, eles não aceitaram.

– Mas pelo menos eles aceitaram o ajudar com um emprego, isso é ótimo! – minha mãe tenta soar positiva.

– Eu não quero. – E lá está o Changbin que eu já havia visto na delegacia. Cabeça erguida, olhos cansados e pronto para uma guerra.

– Binnie... – minha mãe tenta remediar, entretanto o garoto já está de pé, passando as mãos pelo rosto e pelos cabelos pretos.

– Eu não quero a droga do emprego que eles têm para arrumar pra mim! – esbraveja – Eu vou arrumar um emprego sozinho, eu vou esfregar na cara deles que eu não preciso de ajuda, pelo menos não a deles, e eu vou me virar! – passa a andar de um lado para o outro, parece um animal preso, acuado, com raiva – Mas eu quero a herança! Ah! Como eu quero essa herança! Eu quero aquela casa, porque eu vou fazer questão de levar meu futuro marido para aquela casa e transar com ele em cada cômodo daquele lugar, com direito a brinde aos meus pais homofóbicos que vão estar se revirando no caixão enquanto o filho viado fode o marido em seu precioso lar!

Dito isso, ele caminha em direção a porta. Imagino que ele tentará sair, mas não é como se ele estivesse em condições de andar por aí, então bloqueio seu caminho e, quando ele força passagem, sussurro

Sonetos - changlixOnde histórias criam vida. Descubra agora