Oitavo Verso: sobre o passado, amor próprio e descobertas;

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Um coração partido me ensinou a ter amor próprio.


Já mencionei minha ex - e única - namorada aqui algumas vezes, mas tendo em vista os últimos acontecimentos na minha vida acho necessário contá-los como tudo aconteceu e porque Nancy foi de extrema importância na minha vida e não só porque ela foi minha primeira namorada, mas porque ela me ensinou a me colocar em primeiro lugar.

Conheci a garota de cabelos curtos e repicados num tom rosa, sorriso contido e gosto duvidoso para livros - digamos que eu tenho meus problemas com a saga Senhor dos Anéis -, quando estava na oitava série.

Nosso contato sempre se resumiu a cumprimentos formais até que Jisung resolveu jogar sete minutos no paraíso e fui obrigado a me enfiar com a garota num armário no meio da festa de aniversário do Jace, um garoto sem noção e sem amigos que sempre convidava meio mundo pra sua casa na esperança de que seu dinheiro pudesse impressionar os outros e com isso garantir algumas amizades, mas sua presença era apenas cobiçada por quem tinha algum tipo de interesse e isso não é, nem de longe, uma amizade. Mesmo assim, lá estava Jisung, Kate e eu, cada um com um motivo diferente para estar ali - Jisung queria beijar novas bocas, Kate queria impedir que Jisung beijasse qualquer boca e eu estava ali porque eu queria saber quais bocas Jisung tinha conseguido beijar -, sentados em círculo e jogando sete minutos no paraíso.

Já tinha dado meu primeiro beijo em Kate, então não era um ambiente inóspito, mas ainda me sentia desconfortável o suficiente para evitar esse tipo de contato e fui totalmente sincero com a garota quando entramos naquele guarda-roupa apertado.

Nancy entendeu, me deu apenas um beijo casto nos lábios e saímos de lá segundos depois.

E com isso eu me apeguei a ela.

Não por conta do beijo em si, mas porque ela me entendeu, percebe? Então passei a convidá-la para almoçar na mesa comigo e meus amigos. Engatamos uma amizade gostosa e aí veio o baile de final de ano e a convidei para ser meu par.

Começamos a namorar naquela noite.

Mas eu era um menino estranho, como já os contei nos primeiros capítulos. Eu não gostava de certos toques, não tinha vontade de beijá-la e quando acontecia eram apenas selos castos e realizados para satisfazer uma vontade dela de ter um contato íntimo comigo.

Até que ela cansou.

Não é como se eu não esperasse que um dia isso fosse acontecer. A gente assiste aos filmes, conhece casais próximos, então eu sabia que não era um bom namorado quando o assunto era intimidade e, sinceramente, não a culpo por procurar alguém que retribuísse seus carinhos e toques.

Eu a culpo por não ter me dito isso antes de transar com o cara que me batia no recreio.

Ela disse que queria conversar, eu fiquei de encontrá-la depois da aula, eu cheguei mais cedo em sua casa e lá estava o gostosão Simon, o meu pior pesadelo na escola. O cara que chamava Jisung de "bichinha", Kate de "asfalto" e eu de "cara suja". Que batia no meu melhor amigo e em mim e só nunca desferiu um golpe a Kate porque a gente se jogava na frente dela sempre que ele ameaçava, pois nós sabíamos que ele seria capaz de machucá-la.

E Nancy também sabia disso. Ela conhecia nosso histórico com aquele racista, homofóbico, babaca e todos os outros adjetivos ruins que posso pensar.

Eu já imaginava que ela iria terminar e passei vários dias sofrendo antecipadamente. Óbvio que me culpei, assumi a responsabilidade de não ter sido um bom namorado, mas fui além e me depreciei, me inferiorizei.

Sonetos - changlixOnde histórias criam vida. Descubra agora