KEEP MY SECRET SAFE

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Primeiro dia no novo liceu e nunca estive tão nervosa. Tenho a perfeita noção de que vai ser (mais uma) nova etapa da minha vida e de todas pela qual já passei, só me trouxeram desilusões e infelicidades.

Meti o telemóvel a despertar para as 5:30am visto que ainda tenho uma longa viagem pela frente até Boston.

Desço para o tomar o pequeno-almoço e a minha mãe já está na cozinha e a mesa já coberta de comida. O típico pequeno-almoço americano, bacon e ovos.

- Hoje mal consegui dormir... estou ansiosa por ti, Blue. - diz-me a minha mãe ainda de costas voltadas para mim, estando ainda a cozinhar o resto do pequeno almoço, que acaba sempre por sobrar.

Começo a ingerir uma tira de bacon sem pronunciar uma única palavra de resposta. Já basta ter de lidar com a minha ansiedade sozinha, não quer ter de lidar com a de mais ninguém.

- Tens a certeza que não queres que te vá levar? - senta-se no lugar à minha frente e encara-me enquanto se serve de comida.
- Não. Vou ficar imenso tempo independente, onde vou ter de ser responsável e ninguém poderá cuidar de mim, para além de mim mesma. Quero que isso comece apartir de hoje, assim que colocar os pés fora desta casa. Mas obrigada. - lanço-lhe um leve sorriso e levo o garfo à boca.
- Sabes, - faz uma pausa para mastigar o que tem na boca- estou mesmo orgulhosa de ti. Estás mesmo a fazer este esforço para deixar Nova Iorque e os teus amigos. O teu pai também estaria orgulhoso de ti, se ao menos...
- Mãe, por favor. - interrompo-a e pouso os talheres - ele tomou a decisão dele.

Uns minutos de silêncio invadem a cozinha enquanto ambas comemos. Reparo nas horas que o microondas marca e tento apressar-me. Assim que acabo dirijo-me ao meu quarto onde vou buscar os três enormes caixotes repletos de tralha para levar. Fico uns breves instantes a observar o meu quarto e despeço-me dele interiormente.

- Vou meter as coisas ao carro. - digo quando passo pela cozinha mas duvido que a minha mãe me tenha ouvido por estar abafada pelo barulho das coisas dentro dos caixotes a bater umas nas outras.

Começo a encher a mala e certifico-me de que não me esqueci de nada. Roupa, objetos de higiene pessoal, livros para ler, os meus CDs e a pouca maquilhagem que tenho. Ah, e claro, a minha coleção de polaroids que me fazem recordar das melhores experiências que já vivi.

A minha mãe vem ao meu encontro e fica a observar-me a encher o carro.

- Cuida de ti, filha. - e estende-me a mão mas não consigo ver o que tem nela, pois ainda está com o punho cerrado. Abre-o e é o colar que o meu pai lhe dera há uns anos, antes de decidir acolher outra família. - Para te dar sorte! - dá-me um beijo na testa e um abraço acolhedor.
- Obrigada. Prometo que ligo todos os domingos, vou ficar bem.

Entro no carro e assim que me sento tiro do porta-luvas o meu maço de tabaco e escolho um cigarro. Despeço-me pela décima vez e arranco. Ainda consigo ver pelo espelho retrovisor a lágrima que a minha mãe carrega no canto do olho. Aceno-lhe e ela acena de volta.

Coloco um dos meus CDs a dar e começa a tocar a "Ivy" do Frank Ocean. Acendo o cigarro e aquele gosto familiar invade o meu paladar. Algumas pessoas fumam porque gostam, outras sem motivo. Eu fumo para morrer. Um pouco estúpido, não? Mas é assim que sou, gosto de ver sempre o lado negativo das coisas.

De Nova Iorque a Boston são 4 horas de viagem e ainda nem 20 minutos passaram. Não quero chegar muito tarde à residência pois apesar de não ter aulas hoje, quero ter tempo de organizar tudo no meu mini quarto que vai ser partilhado durante os próximos meses.

...

Estou quase a chegar e não consigo ignorar os arrepios que sinto no estômago, e a cada metro que ando, pior fica. Aquele lugar cheio de adolescentes vai ser a minha nova casa e espero integrar-me bem e habituar-me a estas novas caras que vou passar a ver diariamente.

Vejo um portão enorme com um edifício igualmente assim e está preenchido por pessoas, todas vestidas de igual forma. A cor verde tropa dos uniformes pinta aquele lugar.

Procuro um lugar no parque de estacionamento para poder encaixar o meu Fiat 500 branco. Respiro bem fundo assim que desligo o motor do carro e deixo-me cair para trás no banco. Tenho medo de enfrentar esta realidade.

Olho mais uma vez para o colar que a minha mãe me entregou e abro o medalhão que carrega uma fotografia sua. Está com os caracóis loiros incrivelmente bem apresentados e um aberto sorriso preenche o seu rosto. Aperto-o bem na palma da mão e mentalizo-me que vai ser a única maneira de olhar para ela durante o tempo que aqui estiver. Agarro de seguida na Polaroid que tenho presa na parte de dentro do vidro. Que angústia. A Polaroid tem as duas pessoas mais importantes da minha vida, para além da minha mãe. A minha melhor amiga, Holly, que está a viver com os avós em Orlando, visto que os pais trabalham fora do país e o meu namorado. Bem, ex namorado. Nunca me vou perdoar. Guardo a fotografia na minha carteira para ficar mais alcançável e poder olhar para ela sempre que tiver essa necessidade e finalmente ganho coragem para sair do carro.

Mando uma sms à minha mãe a dizer que cheguei e que está tudo bem e confirmo, uma última vez, a carta de admissão que o liceu me enviou para ver qual o número do meu quarto. K-12.

Dirijo-me à ala leste, onde fica o meu quarto, e atravesso os corredores gelados e sem fim, ainda a tremer. Está tudo bastante silencioso, felizmente, mas também são 10:30am e é sábado, portanto suponho que estejam todos a dormir depois de terem ido a uma daquelas house parties que há em todos os liceus. Recuso-me a frequentar alguma.

Finalmente avisto uma porta ao fundo do corredor, laranja, igual a todas as outras mas o que diz na tabeleta diferencia-a. K-12.

Tento abrir a porta, um pouco atrapalhada devido ao peso que carrego dos caixotes. Finalmente, acabo por conseguir.

Não acredito que estou a usar isto again para escrever histórias, não sei o que me deu. Mas espero que gostem!! Vou tentar acabar a história porque acabo por desistir sempre :)
Kiss