XIV - O Sr. De Courcy à sir Reginald Churchill

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Meu caro senhor,
Neste momento, acabo de receber sua carta que me encheu que assombro
como nunca antes me tinha ocorrido.
Suponho que é graças à representação que minha irmã tem feito de mim que
fiquei sob luz tão desfavorável a seus olhos e causou tanto alarme. Não entendo por que decidiu preocupar-se e preocupar a sua família, suspeitando um fato que ninguém exceto ela mesma, estou certo disso, concebeu como possível. Imputar
essa intenção a lady Susan seria arrebatar essa excelente sutileza que seus inimigos mais acérrimos nunca negaram nela.
Igualmente, muito baixas deveriam ficar minhas pretensões razoáveis de
suspeitar que albergo propósitos matrimoniais em meu comportamento para com ela. A diferença de idade é uma objeção insuperável e lhe rogo meu apreciado
senhor, que se tranquilize e não alimente mais suspeita que alterem tanto sua própria paz, como a relação entre nós.
Não pode ser outra minha intenção, ao permanecer com lady Susan, que a de desfrutar durante um breve período (tal como o expressaste bem) da conversa de uma mulher com grandes qualidades mentais. Se a senhora Vernon admitisse um pouco do afeto que dispensei a ela e a seu marido durante minha estadia, seria
mais justa com todos nós. Mas minha irmã está prevenida contra lady Susan sem convicção.
Pelo afeto que une a seu marido, que em si mesmo honra a ambos, não pode perdoar os esforços que lady Susan fez para evitar seu matrimônio. Atribuíram- se a seu egoísmo, mas neste caso, como em muitos outros, o mundo difamou a essa dama, no caso, os motivos de sua conduta for a equivocados.
Lady Susan tinha ouvido algo materialmente tão inconveniente sobre minha irmã que se persuadiu de que a felicidade do Sr. Vernon, ao qual sempre se sentiu muito unida, ficaria destroçada pelo matrimônio. É esta circunstância, que explica o verdadeiro motivo do comportamento de lady Susan e invalida toda a culpa que se lhe atribui. Deve servir para nos convencer do pouco crédito que
terá que dar às informações sobre outras pessoas em geral, posto que nenhum comportamento, por muito reto que seja, pode escapar à calúnia. Se minha irmã, na segurança de seu retiro, com tão poucas oportunidades de ser tentada pelo mal, não pôde evitar a censura, não devemos condenar apressadamente a aquelas pessoas que, vivendo no mundo e rodeadas de tentações, são acusadas de enganos que se sabe que poderiam chegar a cometer.
Culpo-me com severidade a mim mesmo de ter acreditado tão facilmente nas histórias difamatórias inventadas pelo Charles Smith contra lady Susan, pois que agora sei como a caluniaram. Quanto aos ciúmes da senhora Manwaring, é algo
absolutamente inventado por ele e seu relato de como ela se aproximou do pretendente da senhorita Manwaring tinha ainda menos fundamento.
Essa jovenzinha tinha induzido sir James Martin a lhe dar um pouco de atenção e, sendo um homem rico, era fácil entender que os planos dela incluíam o matrimônio. Bem sabido é que a senhorita Manwaring anda abertamente à caça de um marido e ninguém pode, portanto, compadecê-la por não poder aproveitar uma oportunidade para fazer desgraçado a um homem de mérito, devido ao superior atrativo de outra mulher. Lady Susan não pretendia nem de longe essa
conquista e, ao saber quanto afetava à senhorita Manwaring a indiferença de seu apaixonado, decidiu, apesar dos rogos do senhor e da senhora Manwaring, deixar a família.
Não tenho motivos para acreditar que ela recebesse propostas por parte de sir James, mas o fato de que partisse imediatamente de Langford, ao descobrir a relação dele com a senhorita Manwaring, faz que qualquer mente honesta tenha que absolvê-la de qualquer acusação. Estou certo que acreditará que tudo isto é certo e que, a partir de agora, saberá fazer justiça com as qualidades de uma mulher seriamente prejudicada em sua reputação.
Sei que lady Susan, ao vir para Churchil , atuava impulsionada só pelas intenções mais honoráveis e francas. Sua prudência e discrição são admiráveis, sua consideração pelo Sr. Vernon chega a igualar a que ele merece, e seu desejo de conquistar uma opinião favorável de minha irmã deveria ser mais bem correspondido do que se tem feito. Como mãe, não se pode fazer-lhe nenhuma objeção. O afeto sólido por sua filha fica demonstrado pelo fato de havê-la
confiado às mãos de quem atenderá sua educação adequadamente.
Entretanto, ao não possuir a cega e débil parcialidade da maioria das mães, a acusam de falta de instinto maternal.
Qualquer pessoa sensata, entretanto, saberia como apreciar e elogiar seu carinho bem direcionado e estaria de acordo comigo em que Frederica Vernon deveria esforçar-se mais do que até agora se esforçou em merecer a sensível atenção de sua mãe.
Escrevo-lhe, pois, prezado senhor, o que verdadeiramente sinto por lady Susan.
Com esta carta, saberá o muito que tenho em alta consideração suas
faculdades e avaliação de suas qualidades, mas se não ficares convencido com minha solene e franca afirmação de que seus temores são tem embasamento, será motivo de grande mortificação e desassossego para mim.

                  Seu, cordialmente, R. De Courcy

Lady Susan (Jane Austen)Onde histórias criam vida. Descubra agora