Acordei sobressaltada. Uma sirene.
A polícia estava do lado de fora da casa, pronta para me prender por dar uma festa com bebidas alcoólicas para menores de idade.
Calma aí.
Meu cérebro iniciou. Não, não é a polícia. É só meu celular — o toque de papai.
O que é ainda pior.
Remexi o sofá. Nada de telefone. Em vez disso, senti uma perna. Perna de garoto. Perna de garoto jogada sobre a minha canela. A perna de garoto que não é do meu namorado.
Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. O que eu fiz?
IIIóóóIIIóóóIIIóóó!
O andar de cima. O toque de sirene estava vindo do andar de cima, o andar principal da casa de Vi.
Talvez eu devesse voltar a dormir... Não! Telefone tocando. No sofá com um garoto que não é meu namorado. Consegui me levantar sem acordá-lo e... hum, onde está minha calça? Por que eu estava no sofá com um garoto que não é meu namorado e sem calça?
Pelo menos estava de calcinha. E uma camiseta de manga comprida. Olhei em volta, à procura da calça. A única peça de roupa ao alcance era o vestido vermelho de Vi que eu tinha usado na festa, na noite anterior.
Aquele vestido era encrenca.
Corri até o andar de cima com as pernas à mostra. Ao chegar, quase desmaiei.
Parecia uma zona de guerra. Copos de plástico vazios cobriam o piso de madeira. Tortilhas semimastigadas despontavam do tapete felpudo como tachinhas em um quadro de avisos. Uma enorme poça — ponche? Cerveja? Algo que era melhor não tentar identificar? — tinha manchado a ponta da cortina azul-claro. Um sutiã branco de renda estava pendurado sobre o cacto de 1,20m de altura.
Brett estava vestindo uma bermuda de neoprene, o rosto afundado no sofá. Usava a toalha de mesa de linho roxa como cobertor. Zachary estava dormindo em uma das cadeiras da sala de jantar, com uma tiara de papel-alumínio sobre a cabeça, a qual estava caída para trás. A porta para os fundos estava aberta, e uma poça de água da chuva tinha ensopado o tapete.
IIIóóóIIIóóóIIIóóó! Telefone mais alto. Mais perto. Mas onde? No balcão da cozinha? No balcão da cozinha! Aninhado entre uma molheira cheia de guimbas de cigarro e uma garrafa de bebida destilada. Mergulhei até ele.
— Alô?
— Parabéns, princesa — disse papai. — Acordei você?
— Me acordou? — perguntei, o coração acelerado. — Claro que não. Já são... — Olhei para o relógio do micro-ondas. — 9h32.
— Que bom, porque Penny e eu estamos indo ver você!
O terror tomou conta de mim.
— O que isso quer dizer?
Papai riu.
— Decidimos fazer uma surpresa no seu aniversário. Foi ideia de Penny, na verdade.
— Espera aí. Sério?
— Claro que é sério! Surpresa!
Minha cabeça estava girando e tive vontade de vomitar, e não só por causa dos muitos, muitos, com certeza muitos copos de ponche batizado que havia consumido na noite anterior. Papai não podia ver aquele lugar. Não, não, não.
Ai, meu Deus. Eu havia violado 110 por cento das regras de papai. As provas estavam por todo lado, rindo da minha cara.
Aquilo não estava acontecendo. Não poderia acontecer. Eu perderia tudo. Se é que, depois da noite anterior, ainda me restasse alguma coisa para perder. Dei um passo à frente e um pedaço de tortilha grudou em meu pé descalço. Eeeca.
Puta m...
— Isso é ótimo, pai — disse, obrigando-me a responder. — Então... onde estão, exatamente? O avião acaba de pousar?
Por favor, que ainda estejam no aeroporto. Levariam pelo menos uma hora dirigindo do LaGuardia até aqui. Eu poderia tornar a casa apresentável em uma hora. Poderia encontrar a calça. Então jogaria fora as garrafas, os copos e as guimbas de cigarro, e aspiraria as tortilhas, talvez o sutiã, e talvez Brett e Zachary também...
— Não, acabamos de passar por Greenwich. Devemos chegar em Westport em 20 minutos.
Vinte minutos?!
Um gemido veio do sofá. Brett virou de barriga para cima.
— Está frio pra cacete aqui — disse ele.
— April, não tem um garoto aí, tem? — perguntou papai.
Gesticulei uma guilhotina com a mão no ar para mandar Brett calar a droga da boca.
— O quê? Não! Claro que não! A mãe de Vi está ouvindo a rádio NPR.
— Acabamos de passar pelo Country Club Rock Ridge. Parece que estamos adiantados. Chegaremos aí em 15 minutos. Mal posso esperar para ver você, princesa.
— Você também — respondi, engasgando, e desliguei. Fechei os olhos. Depois os abri.
Dois garotos seminus na sala de estar. Um usando uma tiara.
Mais garotos seminus nos quartos.
Garrafas vazias de bebida alcoólica e copos jogados.
E a mãe de Vi em lugar nenhum.
Eu era uma princesa morta.
![](https://img.wattpad.com/cover/26090391-288-k289948.jpg)