| Prólogo |

2.3K 577 245
                                    

8 anos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

8 anos

Encosto o corpo no travesseiro macio da cama do hospital e termino de tomar meu café da manhã. Hoje mandaram um pão de sal fresquinho e saboroso com presunto e queijo. Humm... estava com fome! A única coisa que não curto muito é esse suco esquisito, com gosto de remédio, que preciso beber junto. Tem um gosto horrível, mas como sei que é importante para me manter em um peso saudável, nunca reclamo para a mamãe.

— Bom dia, minha flor! — Deise, uma das enfermeiras, aparece na porta do quarto, animada. — Como você está?

— Estou bem melhor, obrigada. Não sinto tanta falta de ar e parei de vomitar. Só tossindo um pouco.

— Que ótima notícia! — Sorrio, realmente feliz por isso, e arrumo a cânula de oxigênio no nariz. — Vamos tomar os antibióticos?

Mastigo o último pedaço de pão e aceno com a cabeça.

Desde que me lembro, todos os dias eu faço a mesma coisa: inalação, suplementos, vitaminas, remédios, atividade física, fisioterapia respiratória. Nomes complicados para algo que virou normal no meu dia.

Isso tudo me deixa tão cansada, tem hora que nem me sinto uma criança. Pareço até um dos médicos falando e explicando tudo. Somos forçados a amadurecer cedo para ficar bem.

Algumas vezes, infelizmente, preciso fazer a rotina no hospital ao invés de ser em casa. O cheiro daqui me deixa triste, não gosto dessas paredes brancas. Prefiro o cor de rosa do meu quarto.

Mesmo não gostando, tento obedecer direitinho o que me pedem para não deixar mamãe ainda mais nervosa. Odeio ver ela chorando baixinho à noite, na poltrona pequena e desconfortável que tem ao lado da cama.

Sei que quando tenho uma crise, mamãe tem medo que eu morra. Eu também tenho medo de morrer, não posso mentir.

Papai me ensinou a sempre dizer a verdade.

Ele contou ainda que a melhor forma de enfrentar os problemas é sendo resiliente e otimista. Achei essas duas palavras tão bonitas. Papai explicou que significa ser forte e confiante.

Por isso, tento afastar o medo da morte e mantenho um sorriso nos lábios durante todos esses 23 dias que estou internada por causa de uma pneumonia grave.

Nos meus 8 anos de vida, já tive essa complicação 19 vezes. Os médicos disseram que os pulmões são a parte do organismo mais afetada em quem tem fibrose cística – uma doença genética e sem cura.

Descobriram que eu tinha isso aos 4 anos, depois de muitas idas e vindas ao hospital. Sempre tive muita falta de ar, tosse com catarro, dor de barriga, dificuldade de crescer e de engordar, mesmo me alimentando certinho.

Eu queria que a lâmpada mágica do Aladim fosse de verdade e eu pudesse desejar ser uma criança normal. Foi difícil aceitar tudo isso no começo. Lembro de odiar a fumaça da inalação, de cuspir os remédios com gosto ruim, de fazer uma birra daquelas quando precisava ser internada.

Antes da última respiração [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora