O orgulho de um pai

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Kiba chegou muito cedo na distribuidora. Exatamente um minuto depois de o caminhão estacionar e os fardos de jornal começarem a ser descarregados.

— Bom dia! — Foi cumprimentando os funcionários. Contra o peito, bem agasalhada, estava Sumire na mochila-canguru, dormindo profundamente. Apesar de tudo, a bebê já estava acostumada à rotina do pai.

Aquele era o primeiro arubaito de Kiba. Ele tinha que entregar duzentos jornais dos assinantes daquele bairro. Gradativamente as mídias digitais tomavam espaço na vida do consumidor, mas o Japão era um país com grande fluxo de impressos, para sorte de Kiba.

Complicava porque ele tinha que entregar todos aqueles jornais antes das seis da manhã, mas não podia usar bicicleta, por causa da filha. Então chegava bem cedinho, pegava as duas sacolas de lona com cem exemplares cada e pendurava nos ombros, saindo pelo bairro silencioso ainda às escuras para fazer as entregas.

Já tinha memorizado cada um dos endereços. Não havia trânsito e ele tinha um ótimo condicionamento físico.

Conseguia entregar todos os jornais em menos de duas horas! Quando voltava para devolver as sacolas vazias, via os outros entregadores saindo nas bicicletas que a distribuidora emprestava. Daquele jeito era tão mais rápido... e fora de cogitação. Kiba não tinha com quem deixar a filha durante as madrugadas. Preferia mantê-la sempre consigo.

Depois disso ia para os arredores do Parque Ueno, onde conseguia economizar uns trocados graças a generosidade de estranhos. Ficava vagando até dar o horário do segundo arubaito. Por padrão, cochilava um pouco sentado, aquecido pelo calor de Sumire aconchegada em seu peito, mas naquela manhã não conseguiu dormitar! Ficou atento, desejando reencontrar o bom samaritano que pagou o café da manhã no dia anterior. Aburame Shino... que homem misterioso, com aqueles óculos de sol e o casaco que escondia quase toda a bela face. É... fazia tempo que outro cara não despertava a atenção de Kiba, foi impossível não ficar animado com a possibilidade de vê-lo de novo.

Infelizmente isso não aconteceu.

Mas a sorte andava ao lado do rapaz. Kurenai, uma mulher que trabalhava nos arredores passou pelo parque e flagrou Kiba. Se ofereceu para pagar-lhe o café da manhã, não pela primeira vez, certamente não pela última.

Com o "de sempre" garantido (misso lamen com o dobro de carne), Kiba podia desviar a preocupação para outros fatores. O leite com vitaminas de Sumire, que comprava em kombini, já vinha aquecido e com tudo o que a bebê de um ano precisava para manter-se saudável. O dinheiro para comprá-lo era sagrado, Kiba podia estar morrendo de fome, que jamais desinteirava os valores da refeição da filha.

A alimentava no percurso do segundo emprego de meio período.

Uma transportadora terceirizada. Lugar que oferecia serviço para pessoas avulsas, sem nenhum vínculo empregatício. Era um bom local de trabalho, um grande galpão onde caminhões com numerosas cargas chegava para a redistribuição.

Kiba era grato por ter aquela oportunidade, dentro do galpão podia deixar Sumire num cercadinho improvisado com caixas de papelão e a funcionária da recepção mantinha um olho na bebê. Anko não se importava, ela amava crianças. E seu trabalho exigia atenção apenas para assinar a recepção das cargas conferidas pelos descarregadores, além de atender e fazer eventuais ligações telefônicas. Olhar Sumire ajudava a passar o tempo mais depressa!

Kiba, com seus vinte e três anos, era um dos trabalhadores mais jovens e bem dispostos. Tentava pegar os carregamentos mais pesados e descarregar as caixas maiores, para não sobrecarregar os companheiros mais velhos.

Fazia isso porque era um bom rapaz, já que todos ganhavam o mesmo salário, independente da quantidade ou do peso que desciam dos caminhões.

Os outros funcionários entenderam fácil a intenção que ele tinha em ajudar. Então, de comum acordo, cada dia a esposa de um deles "se confundia" e fazia comida em excesso. Para não perder o alimento feito a mais, doavam o bento para Kiba. Eram mais de vinte homens, "errando" assim cada um era responsável por bancar a comida extra uma vez por mês. Não pesava pra nenhum deles e ajudava um pai solteiro necessitado.

Laços (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora