Lua parecia não crescer ou se desenvolver mais em idade, mas a cada noite se tornava mais madura e sinistra, fazendo o pavor que dela senti no começo voltar a surgir aos poucos.
Minha criança, embora incapaz de abandonar a sua sala, parecia de alguma forma ter acesso a algo de minha subconsciência, ou outra influência qualquer que não eu.
Só isso para explicar os interesses cada vez mais estranhos que tomavam a criança, sobre morte e sobre fuga, religião e ritualística, toda a sorte de coisas que eu, ciente de sua infância tanto quanto de seu perigo, sempre evitara discutir.
Por medo e nostalgia, eu me negava a aceitar que Lua estava obcecada em aprender mais para escapar de sua prisão. Nossos carinhos e nossas cantorias foram substituídos naquelas noites por incessantes questionário em que a garota simplesmente me usava para suprir suas necessidades intelectuais. A geniosa criança rasgava noite após noite aprendendo, perguntando e descobrindo, formulando, sonhando com a realidade que jamais visitaria. Eu, mesmo apreensivo, sentia ainda até mesmo uma certa alegria orgulhosa, uma admiração paterna por minha dita filha que tanto e tão velozmente evoluía.
Certo dia, ainda enquanto acordado, a irritação que já vinha sentido há certo tempo em minha pele rompeu em um corte sutil, singelo, mas totalmente perceptível, que por qualquer sinistra razão não sangrava. Assustei-me, mas recordei de minha Lua. Arrependido, lembrei daquilo que ordenara à criança sobre o uso de sangue. Estremeci. Percebi naquele instante não somente a razão de minhas dores nos braços como também de meu cansaço e fraqueza cada vez mais frequentes. Considerei também o oportuno fato de que cada vez eu comia menos e me via menos disposto, por consequência, dormindo mais dormia e passando mais tempo com Lua.
Aquela foi a primeira noite do horror. Ao encontrar com Lua, já estava irritado e assustado. A garota sorriu ao me ver e veio oferecer um abraço, mas me desvencilhei de seu toque. Com a voz grossa, inquisitiva, perguntei sem qualquer rodeio aquilo que me afligia.
"Lua, estava escrevendo hoje? Você está me cansando para que fique mais contigo?"
A garota não fingiu surpresa ou ignorância. Suspirou, aproximou-se novamente e me tomou pelo colarinho. Com uma violência em tanto selvagem, jogou-me ao chão. De súbito, não era mais criança: seu corpo fez barulhos aflitivos enquanto os membros se deformaram, até que Lua tinha o porte e a aparência como um todo de uma mulher adulta. Somente então ela se dignificou a me responder com palavras, sussurrando em meu ouvindo antes de lamber meu pescoço.
"Estava escrevendo sobre nós. E quero passar todo o tempo possível contigo."
Não me orgulho em dizer que minhas alegrias paternas simplesmente ausentaram-se naquele instante. Iludi-me de que não existia culpa já que Lua não existia de fato, mas o terror ainda assim me tomava. Creio ser possível tentar me defender supondo que perdi a lucidez naqueles minutos, que me fiz ferramenta simples. Mas...
A mulher me seduziu e ganhou com seu comportamento inquisidor, atraente mesmo que aterrador, dominante, poderoso sobre mim. Foi ela quem me despiu, lentamente, enquanto permaneci imóvel, respirando fundo e encarando as paredes de escrita ensanguentada. Foi ela quem me tocou a virilha, que despiu seu manto de linho me deixando ver pela primeira vez aquele corpo cheio que agora tinha. Foi ela quem, com as mãos, guiou-me para dentro dela, tanto quanto foi ela que se manteve a pular seus quadris largos enquanto mordia meu pescoço até que este sangrasse.
Acordei gritando e excitado, suando frio. Tremia de medo e de culpa, de horror. Não queria nunca mais ver Lua, mas também sentia, logo após acordar, um quase incontrolável sono, como se simplesmente não dormisse há dias.