Lua levantou e veio ao meu encontro, sorrindo.
Abraçou-me calorosa, amorosa e delicada. Então me guiou para que sentasse junto dela.
"Dormiu bem?", ela perguntou com um risinho. Pelo absurdo, ri também, mas amargamente. Apontei para o desconhecido no sofá, querendo saber quem era.
"Será meu novo amigo. É seu filho, também", ela respondeu simplesmente. Surpreendi-me pelo parentesco e pelo filho recém-descoberto, mas compreendi o que ela dizia por "novo amigo". Eu fora usado por Lua e, agora velho, não tinha mais valor para ela. Minha amiga criara e usaria outro invólucro para seguir descobrindo o mundo. Talvez já tivesse feito o mesmo antes. Certamente, tentaria fazer depois. Provavelmente minha linhagem e muitos descendentes ainda teriam o desprazer de encontrar com a espirituosa e terrível garota.
"Você partirá amanhã. Achei justo te deixar ver o mundo uma última vez antes de falecer", minha amada contou, com a voz e a expressão sérias por um instante. Suspirei fundo, absorvendo a informação. Então dei de ombros, aceitando.
Ela me abraçou uma última vez em despedida, beijou minha bochecha e então tocou a testa de meu filho, desaparecendo. O rapaz acordou logo depois, sem saber o horror que naquela noite se escondera nos confins de sua mente. Levantou-se, alegando ter compromissos. Desconfortável e entristecido, guiei ele até a porta.
Apesar de tudo, tive certo deleite em aproveitar minhas últimas horas, sendo capaz de, no passar delas, integrar-me parcialmente da vida que tivera e dos avanços do mundo durante minha ausência. Escolhi detalhadamente uma última refeição e um último álbum de músicas para escutar; fumei alguns cigarros enquanto redigia este relato sobre minha trajetória.
Mas nada mais há para se dizer ou fazer. Após terminar o próximo parágrafo, deitarei para, finalmente, poder me deleitar em um sono de paz, sem ser incomodado por qualquer entidade oportunista cantarolando. Nenhuma outra onírica criaturinha adorável terá interesse em mim ou no tipo de repouso do qual gozarei agora.
Vou me deitar com certo medo e peço que, se isto alcançar alguém, enviem auxílio. Talvez nada disso tenha acontecido. Talvez eu seja só um velho esquecido e alucinando. Ou talvez uma criatura de sonho tenha realmente sequestrado minha vida. Talvez esteja simplesmente ensandecido, talvez esteja ainda sonhando. Não tenho certeza de nada além de que Lua roubou minha vida.
Boa noite e bons sonhos a todos.