A noite após o ato carnal foi a última que compartilhamos em nossa amaldiçoada sala tomada por penumbra.
Lutei com todos meus esforços durante algumas horas contra meu sono, mas acabei me jogando outra vez no colchão outra vez, revirando-me. Estava pálido e temeroso. Não imaginava como reagiria ou o que diria à Lua quando a visse novamente. Por maior que fosse meu desejo de prolongar o tempo até nosso reencontro, o cansaço acabou por me vencer.
E lá estava Lua, sentada no canto a brincar com seus dedões dos pés e cantarolar, como se nada tivesse acontecido. Levantou o rosto e sorriu, corada, ao ver-me chegar. Levantou-se e me abraçou. Eu, atônito e quieto, ainda não esboçava reação.
Lua levou sua mão até a parte interna de minha coxa, uma malícia demoníaca brotando em seus olhos. Afastei-a. Com negativas da cabeça, os braços cruzados e uma expressão fechada entre a raiva e o pânico, apoiei-me na parede oposta à dela.
Lua se despiu. Com passinhos nas pontas dos pés, voltou a se aproximar de mim. Outra vez quis afastá-la, empurrando-a com as mãos desta vez, e disse firme:
"Não, Lua."
Lua se irritou:
"Mas eu preciso", ela tentou argumentar. Minha face deve ter exposto a estranheza e dúvida que tal comentário me trouxe, pois logo ela prosseguiu:
"Isso me deixa mais forte e disposta."
Eu entendi então. Lua sugava energia de mim através do sangue e agora também pelo sexo. Era esta a razão para seu desejo e era esta a causa de sua aparência cada vez melhor. Revoltei-me, neguei-a novamente com um grito. Reconhecendo a derrota, a mulher se afastou.
"Acho que finalmente consegui juntar uma melodia para nossa música, sabia?" ela desvirtuou, sorridente. Vestiu novamente seu pano sujo, tossiu e arrumou sua postura, irônica e formalmente se ajeitando para exibir seus avanços. Desconfiado, permaneci outra vez em silêncio.
A voz dela saiu, desta vez, num estridente e torturante agudo que estourava meus ouvidos e murchava minha alma. Eu sofria de dor, física e espiritual, e caí no chão me contorcendo enquanto ela, animada, cantava.
"Lua, Lua, Lua,
Está prestes a escapar, a garota do sonhar;Imagine a lua, Lua, Lua,
Pois breve vai estar lá fora a cantar
Olhando para a real lua, Lua, Lua..."Ela sorria indiferente ao meu sofrimento. Enquanto eu ainda estava jogado no chão, tossindo sangue e tremendo de dor, Lua se aproximou, logo ao concluir sua demonstração musical.
"É bem simples e ruim. Sou um tanto amadora ainda, acho", ela comentou e riu, sarcástica, ao tocar carinhosamente minha face e me dar um beijo de despedida. "Até daqui a pouco", despediu-se, no que foi a última vez que estivemos juntos naquele lugar, eu jogado ao chão ofegando, ela sorrindo curvada ao meu lado.
Acordei e percebi que, em algum momento do torturante pesadelo, acabara urinando.
