Diferente

503 78 3
                                    

Teatro Globe - Londres 1601 d.C.

- Ser ou não ser eis a questão… - Aziraphale escutava atentamente tudo que era dito e se encantava a cada palavra. Fora os livros, o teatro e a música eram formas de arte humana que apreciava muito. Shakespeare era um tanto melancólico e dramático em sua peças, isso ele precisava admitir, mas a profundidade emocional não o afastava, pelo contrário, o fazia gostar ainda mais de apreciar aquelas pequenas e vazias (por parte do público) apresentações. Ele estava indo tão bem, faltava uma coisa ou outra para dar uma sobressaltada aos olhos da burguesia, mas tão pouco.

Seus pensamentos foram interrompidos quando uma jovem veio até si lhe oferecendo o que comer, aceitou as uvas, lhe dando uma moeda para pagar por elas e fazendo uma pequena graça nesse gesto, como se tivesse tirado a moeda do ar, e por mais que pudesse fazer isso de forma literal, Aziraphale estava apenas treinando suas novas habilidades como mágico ilusionista. Aprendera recentemente e estava realmente muito feliz com elas. Quando mostrou a Crowley o mesmo pareceu não ver um objetivo claro para aquilo além de tirar o tédio, ainda sim Aziraphale custava a admitir que estivesse entediado de alguma forma. Lembrava-se de ter perguntado a Crowley o que ele andava fazendo e o mesmo ter dito que dormia a maior parte do tempo disponível entre uma missão ou outra, coisa que não fez diminuir e sim aumentar a quantidade de vezes as quais se viam, principalmente após o acordo firmado entre ambos. Por conta desse fator que agora o anjo estava comendo uvas num teatro praticamente vazio e esperando o demônio levemente atrasado.

Pensando agora em Crowley, Aziraphale se permitia dizer a si mesmo que gostava da presença do demônio. Depois do dia em que fizeram seu acordo Crowley mudou o jeito que agia com Aziraphale, ficando mais brincalhão e sarcástico que o normal, as vezes até mesmo fazendo o anjo se sentir um tanto envergonhado com a forma como agia. Aziraphale pode notar que mesmo quando Crowley estava do seu lado, este ainda permanecia distante. A cada riso e brincadeira que fazia era como se estivesse testando uma nova performance. Isso com certeza não passou despercebido pelos olhos do anjo agora que parou pra pensar com mais clareza. 

- 'Cê não falou que ninguém perceberia a gente aqui? - "E falando no diabo…" Aziraphale pensou ao mesmo tempo que Crowley parou ao seu lado - Misturados na "multidão"

- Bom, - Aziraphale não pôde segurar o constrangimento - Era essa a ideia… - depois de levar alguns olhares por parte de Crowley.

Tão logo sua conversa no lugar quase vazio começou e está atraiu a atenção do próprio autor da peça, que estava a postos próximo ao palco. Shakespeare pediu para que parece a apresentação um instante.

- Deve ser uma daquelas história tristes do Shakespeare né? Arg… É por isso que não tem ninguém… - Crowley reclamou e o próprio autor que se aproximava pareceu não ouvir ou fingir que não. Aziraphale admite que parte de si se sentiu um tanto ofendido, pois ele adorava as histórias, mas outra dela queria rir. Mas o que fez foi pedir que Crowley ficasse quieto, pois lá vinha o escritor. 

- Senhores, eu poderia pedir um favor a senhores? - sem esperar resposta e gesticulando muito com as mãos ele prosseguiu - Vocês poderiam, em seu papel como público, dialogar com a nossa peça? - Crowley iria reclamar, mas Aziraphale falou antes.

- Ah entendi. Quando o fantasma do pai dele aparecer eu posso dizer "ele tá atrás de você!" - Shakespeare pareceu satisfeito com a resposta e continuou.

- Isso! Exatamente! Isso faz todos no palco se sentirem apreciados. Um pouco mais que isso. - ele se dirigiu ao rapaz no palco - Agora, por favor jovem rapaz, diga suas falas com naturalidade.

O rapaz no palco parecia cansado e irritado 

- Eu estou perdendo meu tempo aqui!

- Não! Está indo muito bem. Eu adoro essa… - Crowley, o rapaz e Shakespeare olharam para  Aziraphale - Falação. - riu sem graça, mas ainda querendo ajudar o rapaz, que ainda sim não pareceu satisfeito.

A QuedaOnde histórias criam vida. Descubra agora