Oceania, Logo Após O Acordo...
Não que a Austrália fosse o melhor dos lugares para se passar o tempo livre para os humanos daquela época (ainda mais com a quantidade de perigos e falta de auxílio medico quanto a venenos), mas para Crowley era perfeito. Se transformava em uma cobra e entrava mais e mais floresta adentro, esbarrando com alguns animais tão peçonhentos quanto ele se não mais. Alguns até o tentavam afrontar, mas geralmente ou os fazia sair correndo ou acabava por construir uma amizade muda com alguns os quais salvava de situações de perigo ou que simplesmente o respeitavam.
Ele nunca precisou de fato dizer o que ele era ou quanto de poder possuía, pois diferente dos humanos, os animais se utilizavam bem dos seus instintos.
Crowley estava muito pensativo até para o próprio gosto, mas prosseguiu indo para o mais distante que podia de civilizações humanas, nesse momento ele só queria ouvir os animais, os sons da floresta que te lembravam tanto o Éden e o seu anjo. Lembranças de tempos mais tranquilos, indo ainda mais longe, nos tempos antes da Queda. Como ele tinha saudades do seu amigo e parceiro. Como tinha saudades das conversas de horas e horas, das brincadeiras sarcásticas, dos flertes que sempre lhe rendiam um beijo ou carinho mais delicado.
Amava sentir a presença de Aziraphale por perto, ela lhe trazia uma paz gloriosa que já sentia no céu, mas ao seu ver era como estar com uma parte mais sutil da criação ao seu lado. Ouvir seus risos e doces melodias quando cantava eram um acalanto ao seu coração.
Por justamente esse motivo decidiu se afastar, para saber como iria agir depois do acordo que selaram. Crowley pensou na forma como lidava com os demônios no inferno, sempre distante e sarcástico à um nível que criassem ainda mais barreiras. Lá isso não era um grande problema, pois todos faziam a mesma coisa, mesmo os demônios mais atirados e dados a luxúria ainda se mantinham presos dentro de si mesmos, só mostrando suas fraquezas para si mesmos e deixando elas óbvias para quem já tivesse um olhar treinado para identificá-las. Era uma das coisas que Crowley admirava e temia em Beelzebub, pois de uma forma a qual nem ele mesmo entendia bem, ela conseguia ver através da escuridão de qualquer demônio, podia descobrir seu ponto fraco tão fácil como respirar. O único que Crowley imaginava que ela não conseguia alcançar o fundo era o próprio Lúcifer.
Pensar no seu "mestre" dava arrepios em Crowley, ainda se lembrava de quando saiu das entranhas do inferno e deu de cara com os duques, lordes e o próprio - agora intitulado - Satanás, e teve um medo tão grande de que soubessem que ele ainda se lembrava de tudo que mal reparou no olhar o qual Satã lhe lançava. Só conseguiu parar para observar os olhos de glóbulos escuros e íris azuis celeste de Beelzebub, que ele podia jurar ter visto compaixão, mas foi por um centésimo de segundo tão rápido que até hoje não sabe o por quê de não ter esqueci disso, pois só pode ter sido sua imaginação, nunca mais viu nada mais além de análise fria vindo daqueles mesmos olhos.
Crowley achou uma árvore de tronco curvado onde poderia se deitar e apreciar a noite. Tomou a forma humanóide, abriu suas asas, sentindo um alívio enorme ao fazê-lo, soltando um suspiro no momento que jogou os cabelos para trás e estalou os dedos para ficar com roupas confortáveis. Se instalou no tronco grande como se o mesmo fosse um divã, suas asas negras chamuscadas largadas ao lado. Levou os olhos ao céu se perguntou de verdade, pelo primeira vez, se valia mesmo a pena ainda ter lembranças tão distantes se essas só lhe causavam dor. Depois de pensar por muito tempo, Crowley chegou a conclusão de que sim, valia a pena ainda ter suas memórias, mas que agiria de forma completamente diferente agora. Não daria indícios de que se lembrava de algo como normalmente fazia, não estaria completamente aberto para Aziraphale toda vez que o visse, pois isso só o estava machucando, ferindo de formas que nem no inferno ele achou piores. Portanto decidiu que criaria a mesma distância entre eles as quais ele criou com os demônios, mesmo sabendo que não seria igual, pois podia ser alguém que o agradava próximo de Aziraphale (alguém melhor, e que o inferno não o ouça pensar isso), mas resolveu mentir a si mesmo naquele momento. Dizendo que conseguiria ser exatamente da mesma forma oca e seria melhor assim.
Quando Crowley encontrou novamente com Aziraphale e agiu da forma como imaginou, não se entendeu quando começou a brincar com o anjo, mas feria menos quando brincava, feria menos quando fingia que estava tudo bem, pois ele não podia mais pensar que Aziraphale iria lembrar de si ou desenvolver o mesmo afeto que ainda tinha.
Crowley resolveu somente deixar fluir. Poderia não ter seu amante mais uma vez, mas poderia conseguir seu grande amigo de volta, e isso para ele era o primordial. Talvez assim suas noites se tornassem menos frias, quando seu coração voltasse a se aquecer.
Crowley não percebeu quando saiu de cima do tronco e voltou a ser serpente horas depois quando o Sol começou a nascer, mas suas asas completamente negras clarearam dois tons.
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A Queda
RomanceUma história por dentro da história de Aziraphale e Crowley através dos tempos, desde a Queda até os dias atuais pós-quase-Apocalipse, tendo sua base de trajetória nos acontecimentos dados no terceiro episódio da série e com algumas cenas históricas...