Capítulo 17

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Maite sentiu seu sangue gelar. Não só gelar, ela sentiu um medo, um temor incompreensível. Como se todos os sonhos que havia realizado nas últimas semanas não passasse de um castelo de cartas precariamente construído, que ao bater uma suave brisa o levou para baixo.
Os olhos de Wiliam encaravam os de Maite com fervor, ansiosos para descobrir o que tudo aquilo significava, o que tudo aquilo era. Aquelas informações ao longo dos últimos dias tinha o deixado inquieto, mas tudo o que passara com Maite nos primeiros dias de casado era inestimável, era incrível.
Então a pergunta era: será que o que ela dissesse interferiria na relação dos dois? Wiliam só poderia começar a articular essa ideia depois que ela se abrisse com ele.
O silêncio entre os cônjuges era ensurdecedor. Pesado. Sufocante.
Maite sabia que não havia para onde fugir. Seus olhos desviaram-se de Wiliam e encarou a pasta que ele havia jogado sobre a mesa de centro. Seus olhos focaram-se sobre informações específicas. Um bom lugar para começar.
– Esse casamento significa tudo para mim, William . Você é tudo para mim! Isto – ela apontou para a bagunça de papéis sobre a mesa. – é um passado. Meu passado. Não me envergonho dele, de jeito nenhum e também nem posso, mas nada disto aqui importa mais. Eu não sou mais esta pessoa. Eu sou sua esposa e é isso que realmente importa! – exclamou com grandes lágrimas brotando por seus olhos.
Wiliam analisou o semblante de sua esposa. Ele realmente via honestidade em suas palavras, em suas ações, reações. Em seu olhar. Mas aquilo não bastava, ele precisava de mais, e Maite sabia disto, por isto preferiu ser honesta, quer dizer, o tão honesta quanto podia naquela situação.
– Sei que vendo isto, lendo o que possivelmente diz todos esses papéis posso não parecer uma pessoa de confiança. – ela suspirou. – E talvez eu não seja, mas Wiliam, eu sou humana, e como qualquer ser humano eu erro, ou melhor, ajo com motivos egoístas.
A expressão do político ganhou um leve tom curioso, mas ele continuou calado. A jornalista preferiu pegar a deixa.

– Minha vida estava uma merda em Chicago, eu trabalhava em um emprego medíocre, tinha uma vida medíocre. Acho que esta é a vida para a grande maioria que termina a faculdade, que apesar do meu currículo brilhante, não conseguia um emprego aceitável. – ela deu de ombros. – Foi quando um colega me disse que havia se inscrito no MBA de Ciências Políticas da George Washington e estava pleiteando uma vaga de estagiário no Post. – Maite riu sem humor. – Ainda não era o emprego dos sonhos, mas era uma possibilidade de um emprego dos sonhos. Trabalhar no Post sempre fora um sonho de infância, então talvez fosse o momento de realiza-lo. – sorriu com um brilho infantil.
"Apesar de estar trabalhando em um jornaleco de quinta categoria em Chicago, o salário que eu ganhava mal pagava uma quitinete, pior a que eu morava aqui, em Harold Ickes" – os olhos de Wiliam se arregalaram em surpresa. – "Você foi prefeito de Chicago, sabe o que estou querendo dizer. Harold Ickes não é um dos melhores bairros para se viver em Chicago, mas era o que eu podia pagar." – deu de ombros.
"Meu padrinho, como você deve saber, Fernando Colunga, se propôs a me ajudar com as despesas, me ajudar a alugar um loft em outro lugar, mas eu nunca aceitei, não queria o dinheiro do meu tio assim, ainda mais um dinheiro vindo da forma que vem." – deu de ombros.

Toda aquela história era uma boa mentira. Maite sempre morou em Downtown em Chicago, óbvio que não era um apartamento de luxo, ainda mais por causa do seu trabalho no jornal mais sensacionalista e mentiroso da cidade, mas ainda assim, Fernando sempre a ajudou, sempre que precisasse – ou não – Fernando lhe enviava uma grande soma em dinheiro, por isto que a morena tinha uma vida confortável, boas roupas, calçados excelentes, tratamentos estéticos de alto valor. Não era uma vida de luxo, como a que vivia com Wiliam nos últimos meses, mas era confortável a sua medida. Entretanto se o político decidisse procurar se realmente ela viveu em Harold Ickes era fácil ver que era verdade, Fernando mandava em quase tudo por lá, e Daniel tinha uma propriedade naquele bairro onde consequentemente, Maite passava muito tempo.
"Toda verdade pode ser manipulada para aquele que está escutando." – Maite aprendera cedo aquilo, antes mesmo de ir para a faculdade de jornalismo.
A morena assumiu um olhar culpado e um semblante derrotado, antes de enfim continuar a sua história.
– Eu não gosto do que eu fiz, mas eu precisava vir para Washington, e só Fernando poderia me ajudar, foi então que fui até ele e comecei a aceitar o seu dinheiro. – ela encarou os olhos do seu marido. – Por muito tempo, na verdade até poucos meses eu vivia com o dinheiro proveniente do crime organizado. – deu de ombros pesarosa.
– May... – começou Wiliam, mas a morena ergueu um dedo pedindo silêncio de seu marido para que continuasse a sua história.
– Como você sabe, fui aceita no MBA e também consegui o estágio no Washington Post, minha carreira estava começando a decolar, mas então conheci Koko Stambuk. – ela suspirou pesadamente. – Eu não me orgulho nada disso, mas Koko é um homem elegante, atraente, e de alguma forma eu atrai a sua atenção, ele me cortejava, propondo um futuro brilhante para mim, e fui inocente o suficiente para cair na sua conversa. – mentiu mais uma vez a jornalista.

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