Capítulo 22

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Os passos decididos de Wiliam , quando alcançou o lado de fora do galpão, falharam. Se nos últimos vinte minutos ele se mostrou centrado, confiante em sua decisão, aquela motivação se esquivou. Deixando de lado toda a sua emoção, e sabe-se lá porque ele foi tomado por aquele sentimento estrangeiro, somente uma coisa martelava em sua cabeça constantemente: ele cometera um erro.
Um erro tão grande, que as consequências seriam, sem sombra de dúvida, enormes. Mas quanto tempo estas consequências iriam demorar a alcançá-lo?! Ele intimamente torcia que elas só aparecessem no final de sua vida, depois de conquistar tudo aquilo que lhe fora destinado.
Liam Klotz, que acompanhara Wiliam durante todo o tempo no galpão, observou atentamente as feições do político pelo retrovisor do carro. Sensato e sagaz, Liam tentou confortar o outro:
— Você agiu da maneira correta, Wiliam . Nada do que aconteceu naquele galpão vai chegar a conhecimento público. – ponderou. – Maite , sabe o quanto dar com a língua nos dentes a prejudicará.
Wiliam suspirou pesadamente.
— Eu me precipitei demais Liam, nunca agi desta maneira. – confessou o Senador com um quê de arrependimento. Liam observou atentamente o político que fitava o horizonte perdido em seus próprios pensamentos.
Todo o caminho até a sua residência, Wiliam ficará revivendo toda a ação que havia desenrolado naquele galpão. A atitude de Maite , seu olhar perdido, confuso. O constante riso de escárnio que Daniel portava antes da chegada de sua meia-irmã. Toda aquela situação parecia fazer com que fosse deslocada, uma experiência extra-corporal, nada parecia ter sentido ao político. E Wiliam sabia disso.
Ele sempre fora conhecido por sua excepcional capacidade de resistência, de levar as situações mais extremas a consequências mais satisfatórias a si. Ele nunca, em toda a sua carreira, seja como militar, seja como político, cometeu um ato que não fosse calculado, todas as suas ações, mesmo quando cometia assassinatos contra civis na guerra do golfo, sempre fora visando um único fator: conquistar uma imagem heróica, de um homem sobrevivente.

Mas o que aquele assassinato a sangue-frio, contra alguém que não interferiria na sua vida, e que pouco poderia lhe causar problemas nas suas ambições políticas podia deixá-lo tão inquieto? Não fora o olhar de desespero de Maite que o incomodava, muito menos a retaliação que ela poderia cometer contra ele, era algo mais intimo, algo muito mais sinistro que se passava em sua cabeça.
Wiliam mal percebera quando o seu capanga, Liam, deixou em sua casa, e com um breve aceno de cabeça seguiu diretamente a seu escritório, onde passou a murmurar mentalmente cada detalhe.
Mesmo quando Liam lhe havia mostrado o grau de intimidade entre Maite e Daniel no dia de seu casamento, o político em nenhum momento havia pensado em atentar contra a vida o rapaz. Claro, ele era uma constante ameaça aos seus avanços políticos, mas mesmo com as constantes visitas intimas de Maite a ele, tudo era mantido com a maior discrição e nunca, nenhum de seus oponentes conseguiria chegar a este caso extraconjugal, ou até mesmo as suas próprias aventuras.
Mas então, porque ele atirara contra a vida de Daniel Arenas?
Obviamente ele tinha um ciúme da relação de cumplicidade que existia entre Maite e Daniel, contudo esta cumplicidade estava muito mais no fato de compartilharem o mesmo sangue do que os lençóis. Também não era necessariamente por conta da pratica recorrente de incesto, Wiliam era perspicaz e principalmente culto o suficiente que incesto sempre esteve no cerne de todas as famílias poderosas do planeta. Então, o que poderia ter o feito agir com tamanha precipitação e crueldade?
A resposta apesar de demorar a lhe surgir, lhe apareceu tão clara quanto o cristal do copo de uísque que segurava em suas mãos.

Durante toda a sua afiliação com Liam Klotz, Wiliam sempre confiou indistintamente no julgamento do alemão, afinal Klotz parecia um aliado muito competente e prestativo. Mas a dúvida que sempre esteve assombrando os pensamentos Wiliam ao longo dos últimos meses ganhou uma camada nova e extremamente plausível: e se Liam estava jogando um jogo duplo? Tudo o que fazia, que parecia ser a favor de Wiliam , era buscando alcançar os objetivos de outra pessoa?
Liam, apesar de vestir a carapuça de detetive particular, é um dos criminosos mais talentosos de todo mundo, sempre sabendo priorizar as relações que mais lhe dariam lucro. E não apenas lucro financeiro, mas principalmente um lugar no cobiçado rol de criminosos mais honráveis do planeta.
Como detetive, Liam conseguiu informações que nem mesmo a CIA, a NSA, o FBI ou o exército dos EUA, com todos os seus recursos conseguiu. Obvio que quando se anda em um mundo marginalizado, muitas informações são quase como um pote de moedas douradas no final de um arco-íris, contudo, as informações que ele havia conseguido sobre Fernando Colunga , eram muito ambíguas e qualquer agência de segurança, com a mínima capacidade de investigação conseguiria, contudo não as tinha.
Fernando Colunga , apesar de ser um gênio do crime organizado, não era desconhecido das agências de segurança, e por anos eles tentavam frustradamente conseguir que fosse o mínimo rastro da vida do homem, fosse por meios legais ou ilegais. Porém, Liam conseguira informações, tão óbvias que pensando calmamente qualquer agência teria conseguido, mas nunca haviam conseguido. Descobrir a paternidade de Maite não era algo impossível, e Liam provou ser muito fácil conseguir. Armou um confronto entre Marcia e Fernando com uma perícia ímpar. E sempre estando ao lado de um político influente como Wiliam conseguira dar todas as informações que pareciam pertinentes ao político.

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