Capítulo 04 - A Madrasta

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— Aterrissaremos em cinco minutos, senhor.
— Obrigado.

Shikamaru acenou com a cabeça ao ouvir as palavras do piloto. Não que precisasse ouvi-las. Já tinha visto com os próprios olhos como estavam perto de Helikos, o pequeno ponto no oceano que era a ilha particular de seu pai.
A ilha que já tinha sido o lar de Shikamaru, onde ele crescera.
Ainda garoto, quando voltava para casa após semanas na caríssima escola na Inglaterra que freqüentava a contragosto, obrigado pelo pai que resolveu que o filho tinha de ser um gentleman, ele sempre reconhecia cada detalhe da geografia do percurso de Atenas até a ilha. Quase se pendurava para fora da cabine do piloto para apreciar melhor a vista com todas aquelas ilhas diminutas e desabitadas que marcavam a rota para seu amado lar.
E quando via Helikos enfim, primeiro um pequeno ponto no horizonte, ele sempre dava vivas de felicidade pelo começo das férias.
Mas desta vez ele seu coração não estava disparado de excitação nem de seus lábios saía nenhum grito de entusiasmo. Em vez disso, ele apenas olhou para a rota familiar com uma expressão cínica e cética no rosto que encobria uma mistura complicada de emoções em sua alma. Estava de volta a Helikos após uma ausência de cinco longos anos, mas a ilha não era mais seu lar. Isto ficou claro após a briga com o pai. E agora ainda tinha essa nova noiva.
Shikamaru fez uma careta ao ouvir o motor se alterar subitamente, o que indicava que o piloto estava começando a descer. A noiva representava outra complicação desnecessária. Mas pelo pouco que sabia sobre ela, a união com toda certeza não era motivada pelo amor. Parecia mais um acordo de negócios.

— Acho que não vai perceber muitas mudanças na ilha.

Era o piloto novamente, interrompendo seus pensamentos com sua voz que vinha dos fones que ambos usavam.

— Imagino que não tenha mudado nada.

Shikamaru ficou olhando para a massa de terra cravada no mar brilhante. Ele não estava para conversa; na verdade, nem mesmo queria estar lá. Não estava com a menor vontade de conhecer a nova aproveitadora que o pai arrumou para si e fingir ser educado com ela. Shikaku Nara não era exatamente famoso por escolher mulheres inteligentes para se relacionar, de modo que, a não ser que a personalidade do pai tenha mudado dramaticamente em cinco anos, o jantar desta noite teria como objetivo apresentá-lo à sua futura esposa, ou seja, seria uma longa provação.
Principalmente porque sua mente estava bem longe de Helikos.
Desde o momento em que acordou naquele quarto de hotel e se viu sozinho que não conseguia tirar a misteriosa Temari de seus pensamentos. Passou a última semana tentando achar alguma pista daquela mulher com quem passara uma noite de sonhos, irias como não tinha nenhum ponto de partida, não conseguira chegar a resultado algum. Sabia que o melhor seria esquecer aquela história e tirá-la da sua cabeça.
Mas em apenas uma noite ela deu um jeito de entrar na sua mente de modo irreversível. Não conseguia esquecê-la. Até seus sonhos eram povoados por imagens eróticas da noite que passaram juntos. Ele sonhava que a tinha nos braços, sentindo seu corpo macio junto ao seu e aquele perfume que lhe enlouquecia.
Então ele acordava com o coração batendo desgovernado, arfando, empapado de suor como se estivesse realmente fazendo amor com ela, de verdade, não apenas em sonho. Mas evidentemente não era de verdade, a não ser pelo desejo pulsando em seu corpo.
Se pudesse ele teria dado uma desculpa qualquer para não vir. Mas a discórdia entre ele e o pai já tinha ido longe demais, e ele não podia fazer uma desfeita ao gesto de boa vontade que foi o convite.
A casa era bem como ele lembrava mesmo. No alto de um penhasco sobre o mar, a imensa e branca construção se espalhava por dois espaçosos andares, ambos com varandas com vistas estonteantes para o oceano. Uma ampla entrada em forma de arco dava em um terraço enfeitado com bandeiras onde havia uma piscina oval com uma casinha que às vezes acomodava convidados.
Quando Shikamaru chegou a porta já estava aberta e uma mulher baixinha, gorducha e de cabelos escuros correu até ele.

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