Capítulo 06

2.3K 210 221
                                    

Temari achou que fosse ser fulminada pelo olhar de Shikamaru durante o jantar. Ela se limitou a fingir que comia. O olhar escuro e gelado que vinha daquele homem a fez tremer de frio e receio, reduzindo-a a um monte de cinzas sobre a cadeira.
O que ela queria era que um buraco se abrisse no chão e a tragasse. Queria qualquer coisa, menos estar lá. Queria poder se trancar em seu quarto e não sair mais.
Mas não havia escapatória. Shikaku Nara gostava de jantares formais, com família e convidados corretamente trajados. Por isso ela se forçou a vestir aquele alinhado vestido azul-esverdeado de seda que Shikaku queria que ela usasse, fez um coque alto e elegante nos cabelos e sentou-se à mesa para encarar o pior tipo de tortura alimentar.
Não fazia idéia do que era aquilo que estava comendo, mas sabia que tinha o gosto e a textura de serragem cozida e que não conseguiria engolir nada, pois estava com a garganta completamente tapada.
E Shikamaru Nara a ficou observando o tempo inteiro como uma ave de rapina que espreita sua vítima longamente até chegar a hora de dar o bote certeiro.
Ela estava na verdade muito surpresa de ele não a ter denunciado ao pai ainda. Estava esperando por aquilo desde o momento em que Shikaku fez as apresentações na piscina, quando sentiu que seu coração parou por alguns momentos enquanto ela aguardava as palavras que destruiriam a ela e a sua família.
Mas, para sua enorme surpresa, nada disto aconteceu. Shikamaru deu um jeito de controlar sua profunda fúria, mas Temari viu a raiva que seus olhos deixavam escapar debaixo do esforço gigantesco que ele estava fazendo para se conter e falar normalmente com o pai.

— A senhorita Sabaku e eu já nos apresentamos um ao outro — ele disse tranqüilamente. Tão tranqüilamente que Temari quase entrou em choque com a facilidade com que ele emulava uma calma que ela sabia ser falsa. — Você é um homem de sorte, pai, de ter uma noiva tão linda.

Então, quando ela menos esperava e quando estava menos preparada emocionalmente, Shikamaru a surpreendeu ao lhe estender a mão para um cumprimento formal.

— É um prazer conhecê-la, senhorita Sabaku.

A palavra "prazer" foi tingida com um tom levemente sardônico que lhe soou como provocação. E ela teve vontade de recuar ao toque daquela mão quente, mas sabia que não podia deixar Shikaku perceber que havia algo errado. No momento, Shikaku estava sorrindo, satisfeito e orgulhoso enquanto observava o que ele acreditava ser o primeiro encontro entre sua noiva e o filho distanciado que acabara de voltar para casa. O sorriso dele desapareceria muito rapidamente se ele suspeitasse que ambos já se conheciam, quanto mais se soubesse as circunstâncias em que se conheceram.
Só de pensar nesta possibilidade Temari sentiu que a mão que cumprimentava Shikamaru começou a tremer. Ele sentiu também, e apertou a mão dela com força. Ao olhar no fundo de seus olhos, Temari sentiu o perigo que latejava dentro de Shikamaru, a mais pura repulsa que deles transbordava. Era como se ele estivesse lhe comunicando algo através do aperto impiedoso de sua mão.

"Eu posso lhe quebrar rapidamente com a maior facilidade, tão facilmente quanto posso esmagar sua mão", ele parecia dizer. "E o farei, assim que me der vontade".

Desde então ela estava esperando que ele agisse. Desde as apresentações na piscina. Depois ela foi para o quarto tomar banho e se trocar para o jantar. Teve de deixar pai e filho a sós, já que não tinha desculpa para continuar com eles, mas se arrumou o mais rápido que pôde, aterrorizada pela idéia de voltar à sala de estar e descobrir que Shikamaru resolveu contar tudo ao pai.
Chegou até a imaginar a cara feia de Shikaku e o olhar triunfante de Shikamaru, repleto de cruel satisfação. Lutando para controlar o medo que lhe dominava, o medo de Shikaku lhe mandar arrumar suas coisas dizendo que queria que ela e sua família fossem para o inferno e lá apodrecessem, ela mal conseguiu comandar as pernas para voltar à sala de estar.
Mas, ao que parecia, Shikamaru não havia contado nada. Se tivesse contado, Shikaku não teria se aproximado com um sorriso para lhe dar uma bitoca na bochecha e lhe oferecer uma bebida.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora