Na Caneta da Poetisa

Iansã

🎶Vento forte, é vendaval
Aos quatro cantos
Ele pode me levar, me levar, me levar
Vento forte, é vendaval
É Iansã que veio pra me ajudar. 🎶

É minha mãe, a vida não anda fácil
E que ao menos a Senhora me escute.
E que na barra da sua saia
Do amor eu desfrute.

Mãezinha, é tão difícil respirar,
E olha que eu nem digo sobre a poluição desse ar,
Mas por tudo que anda a me sufocar.

Eu vim pra desabafar,
Pra alguma luz conseguir encontrar.
De joelhos no chão peço,
Que Deus e a Senhora à de me perdoar.

Perdoar por ser uma mulher,
Perdoar por ser para alguns atraente,
E eu dizer "não", os fazer
Ranger os dentes.

Minha mãe, a senhora me escolheu como sua filha.
Trago comigo sua espada,
Ando por essa vida como andarilha,
Mas nunca esqueço por quem sou guardada.

Ele gritou pra mim de novo essa noite,
Pela terceira vez pude sentir
O coração sair pela boca
E não conseguir reagir.

Filha de tempestade não curva pra ventinho,
Com um único olhar fiz ele falar fininho.

Espada cravada no peito,
Nunca mais será arrancada,
Mas pelo menos do toque do tambor
Eu sou afilhada.

Gostaria que esse mundo fosse diferente,
Que um pouco mais de amor
Se espalhasse por essa gente.

Chorei muito nessa vida
E muito ainda vou chorar,
Da ansiedade a depressão
Fui obrigada a transitar.

🎶Eu escrevi um pedido na areia
Pedindo a Zambi pra me socorrer,
Eu escrevi um pedido na areia
Mas foi Mãe D'Agua quem veio me valer🎶

De água salgada, muito já tomei
E eu não falo do mar,
Mas sim de cada lágrima
que veio a me afogar.

Sofrimento,
Coração quebrado que não conserta
Com cimento.
Lamento
Toda mãe, filha, amiga, mulher
Que morreu sem conseguir pedir
Um salvamento.

Amor próprio manchado, massacrado
Roubado.
Como os ventres das mulheres
Do povo escravizado.

Cordas na cabeça,
Não apenas pela estética,
E sim, por licença poética,
Por saber o que cada uma significa.
Resistência de meus ancestrais
Que até hoje se desqualifica.

Não importa que me falte melanina
E meus traços não sejam tão fortes
Mas eu sei o sofrimento de quem constituiu meu sangue.
Povo pobre marcado por tantas mortes.