Capitulo 2

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A enfermeira Betty limpou e trocou as roupas da Alice depois da 2ª sessão de terapia de choque do dia. Os dentes da menina estavam cerrados e seus músculos ainda produziam espasmos involuntários por isso ela tinha que se proteger, uma ou outra vez, de um braço ou perna que se movessem muito rápido. Ela ainda gritava como havia feito no primeiro dia de internação e repetia as mesmas loucuras de ter o sangue sugado do corpo por alguém e morrer num fogo arrasador. Todos os outros funcionários não gostavam da menina, não apenas pelas suas palavras assustadoras, mas também pela sua falta de expressão, quase como se já estivesse morta. Pior era, talvez, quando ela revirava os olhos para trás. Mas a senhora Betty conhecia sua família e também gostava muito do professor Smith para se deixar afetar pelas loucuras dela. Ela era uma das poucas que olhava para Alice com mais pena do que medo.

Era início da noite e em poucas horas o turno dela acabaria. Alice ainda não estava sedada fortemente, mas ela estava sonolenta e parecia que ia dormir mais cedo hoje. E então ela ouviu o professor Smith entrar naquele corredor do sanatório, seus sapatos caros fazendo grande eco. Ele sempre visitava a menina Alice. Nem sua família mais o fazia, eles assinaram um termo depois de uma semana de tratamento, que concedia toda responsabilidade para o sanatório e resolveram encenar o funeral da menina. Isso deu mais fervor à pena da enfermeira Betty, mas nem ela poderia culpar os Brandon quando o doutor Mondego afirmou que não tinha mais o que fazer para melhorar o quadro da menina e que, infelizmente, ela não tinha mais cura. Aos 19 anos estava condenada a viver o resto da sua vida no sanatório. Não havia quem culpasse a família dela pela sua atitude. Enquanto a família nunca mais a visitaram, o professor Smith vinha quase todos os dias. Ele lia para ela, trazia comida e fazia-lhe companhia sempre que possível. A enfermeira Betty estava muito esperançosa que o seu comportamento estivesse mais relacionado com um interesse nela do que com uma possível afeição do professor com a sua ex-aluna. O professor era um homem muito bonito... Uma beleza de príncipe europeu ou mais, algo raríssimo naquela cidade pequena.

- Boa noite, Betty – Ele cumprimentou educado. O mesmo sorriso simpático e contido estava nos seus lábios, mas na mente da senhora Betty aquele era o sorriso mais caloroso do mundo. Ela nem reparava que a temperatura diminua quando ele estava presente, ela só sentia seu próprio rosto aquecer involuntariamente.

Ela tentou iniciar uma conversa simpática com ele, mas ele não estava com muito bom humor para conversar dessa vez. Cortando as frivolidades dela, ele questionou se a Alice já havia sido sedada e estava inconsciente. Diante da resposta negativa dela, ele resolveu agir logo.

- Bom, muito bem, senhora Betty, você poderia nos dar licença agora?

Mas a enfermeira não se mexeu. Já passava das seis horas, não era mais horários de visitas, e o próprio professor sabia disso, não costumava visitar tão tarde. Claro que dessa vez ela tinha que ser seu objetivo de estar no sanatório, Alice já estava quase adormecida e ele sabia muito bem que os pacientes dormem cedo. Ele precisava estar ali por ela. E além de tudo, ela não poderia deixá-lo sozinho no quarto com uma menina nessas condições. Ela abriu a boca para argumentar mais uma vez, mas ele parece ter entendido sua ideia apenas pela suas expressões.

- Eu não vou embora, enfermeira Betty. Vim conversar com Alice Brandon e pretendo fazer isso agora. Por favor, se retire.

A enfermeira irritou-se. Ele não esperava que ela concordasse com aquele absurdo, não é? Uma jovem de 19 anos, indefesa e inconsciente e um senhor de idade, juntos no mesmo quarto depois do horário de visitas. Não havia como aquilo ser mais inapropriado. Mas o olhar firme no rosto do professor impediu que a enfermeira Betty argumentasse, e, de repente, ela se levantou em choque e saiu.

Já fora da sala, ela se apoiou na porta que ela acabará de fechar atrás de si e ficou respirando com dificuldade. Como tinha ficado sem ar daquela maneira? A expressão no professor foi perturbadora, ela nunca tinha visto o rosto dele assim nos 20 anos em que o conhecia. Ela simplesmente não conseguiu contrariá-lo. Era absurdo concordar, mas ela teve que fazê-lo. A enfermeira virou-se e colou o ouvido na porta. Ele podia tê-la convencido a sair mas não podia evitar que ela ouvisse tudo. E se ele tocasse na menina ela iria gritar.

A Segunda Chance de Alice e Jasper - terminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora