CAPÍTULO III - Parte 1.

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Quase três dias se passaram desde a morte da pequena Aeriel. Mahina estava em fase crescente, faltando pouco para ficar completamente cheia, e Sallah estava sentada na pequena varanda do quarto - onde passou a maior parte dos últimos dias - admirando-a, em luto.

Lucius estava no pequeno estábulo de Caranthir, terminando de escovar a crina do grande animal. Guardou o que estava usando e contornou a casa para entrar. Da porta era possível ver o jovem mulher na sacada, que, sob a luz de Mahina, parecia brilhar. Seus longos cabelos brancos estavam soltos e ficaram num tom extremamente prateado. A franja desfiada quase cobria seus olhos, mas seu tom azul foi realçado naquela iluminação. Uma dama tão bonita, com um semblante tão triste... Ele queria respeitar o espaço que ela precisava, e ao mesmo tempo queria fazer o possível para animá-la.

O rapaz estava nas escadas, indo chamar Sallah para jantar, quando bateram a porta. Eruvalon tomou a frente e foi atender o chamado, que normalmente, a essa hora da noite, eram para ele. Abriu a porta e um ser encapuzado, de pele levemente azulada e cabelos azul-escuros estava parado ali. O velho ficou inerte ao identificar a criatura. Isso durou alguns longos segundos.

- Estou procurando Sallah... É aqui que ela está, certo? - o Cianterano quebrou o silêncio.

Seu Valon apenas o deu passagem para que entrasse, boquiaberto.

- Meu nome é Arael. Venho pelo chamado de Sallah... - explicou enquanto tirava seu capuz.

Lucius e a garota já estavam descendo os degraus e ouviram o visitante. Eles se olharam e correram até a sala.

A jovem o reconheceu prontamente: era o cianterano que a acompanhou após o ataque, junto de Aerandir e outra pessoa.

- Boa noite, Sal... - foi interrompido por um abraço inesperado da moça.

A quietude foi cortada por Lorelei, que saiu da cozinha enxugando sua louça, ao derrubar um prato no chão ao ver aquele rapaz azulado no meio de sua sala. Sallah assustou e soltou-se dos braços de Arael. Lor andou até seu esposo e pegou na mão dele, que finalmente proferiu:

- Achei que estavam extintos...

- Precisamos parar de vir à superfície após a guerra. Deixou de ser seguro para nós...

- Por quê...? - a jovem questionou.

- Quando descobriram que nosso mineral é mágico, começaram a nos matar para consegui-lo. - apontou para a jóia em sua testa - Apenas alguns sabem da nossa existência... Seu avô era um deles, Sallah. E a pedra que ficou com você, nós que o demos...

- Será que foi por isso que atacaram a vila? - Lucius indagou.

- Talvez, mas não sabemos em que momento descobriram sobre a Ciantera na espada de Bargon. Ele nem a usava mais... Enfim... Foi por isso que nos chamou?

- Não! - Sallah estava quase se perdendo em seus pensamentos - Foi por isso... - ela e Lucius mostraram suas iguais folhas prateadas.

Neste momento o cianterano arregalou os olhos:

- Finalmente!! - animado - Guardem isso com cuidado! Preciso voltar! - ele disse já cobrindo a cabeça.

- Não vai nos explicar nada!? - o jovem humano estava sedento por respostas.

- Eu não sou a pessoa certa para contar isso para vocês! - Arael estava a caminho da porta - Hoje foi uma noite arriscada para vir, Mahina está quase cheia... Voltarei com Aerandir após a Noite Clara! Cinco ou seis dias depois...

- Antes de ir... - Lucius parou o visitante - E aquela que ficou para trás...?

O estrangeiro mudou a feição:

- Ela não ficou para trás... - e saiu.

- O que quer dizer, filho? - Seu Valon foi até o rapaz.

- Quando passei por Mistara, vi uma cianterana próxima ao rio...

Eruvalon deu um tabefe no braço do rapaz:

- Como assim você viu uma cianterana antes e não me contou? - esbravejou.

O jovem passava a mão no local do tapa:

- As coisas foram acontecendo e não pensei que fosse relevante...

- DESDE QUANDO VER UM CIANTERANO NÃO É RELEVANTE?

- Bff...

Os dois olharam para Sallah, que estava com as mãos sobre a boca acobertando a risada. Lucius sorriu.

- Que tal sentarmos para jantar? Já está tarde! - Lorelei puxou o marido pelo braço.

O moço olhava a jovem com afeição:

- Vamos...

Silver Leaves - O Dragão Negro (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora