CAPÍTULO III - Última Parte

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Mal havia amanhecido e Lucius já estava acordado tomando seu café da manhã. Esperava Sallah acordar para amolar sua espada - não queria incomodar com o barulho que faria - para que, assim que ela partisse, fosse atrás de Raclav, seu instrutor de artes-marciais. Não pretendia ficar parado no tempo em que a garota estivesse fora.

Lorelei logo apareceu na cozinha, deu um beijo na testa do filho e sentou-se para comer. Sempre que Lucius acordava primeiro, preparava a refeição para todos.

    - O que aconteceu ontem? - curioso.

    - Ah… - sonolenta - A filha do Iorlas teve nenê. Foi um parto longo… - serviu-se de chá.

    - E estão todos bem?

    - Sim! Graças aos Dragões estão!

    - Que bom!

    Sallah e Eruvalon não demoraram a acordar e pouco tempo depois os recém descobertos Guardiões foram para a cocheira de Caranthir. O rapaz pôs-se a afiar seu equipamento enquanto a moça escovava o cavalo.

- Ele gosta de você… 

- Você acha? 

- Tenho certeza! Caranthir sempre foi arredio com estranhos, mas nunca foi com você.

Ela sorriu, fez um afago na cabeça do animal enquanto olhava-o nos olhos e voltou a penteá-lo. Ao terminar, guardou a escova e acocorou-se próximo ao belo rapaz, atenta a ele e a dedicação dele com sua espada.

- Quê foi…? - sentindo-se levemente constrangido.

- Obrigada por ontem… Na verdade, obrigada por tudo.

Lucius parou para jogar um pouco de água na lâmina e esboçou um sorriso:

- Não tem nada para agradecer... - colocou a longa espada em pé, encostada numa tora de madeira e levantou-se, tentando disfarçar que ficara com o rosto avermelhado.

A jovem também colocou-se de pé e sorriu.

- Vou comprar as coisas para o almoço… Quer alguma coisa?

Sallah negou e ele saiu.

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    A noite caiu mais rápido do que eles gostariam e Arael e Aerandir chegaram mais cedo do que eles esperavam. Lorerei estava abraçando a garota com um choro contido.

    - Lor… são só três ciclos… - Lucius estava com certa vergonha alheia pela mãe.

    - Promete que você volta? - a senhora estava com os olhos marejados.

    - Prometo! - Sallah sorria desajeitada no meio dos braços fofos da dona de casa.

    Eruvalon colocou a mão nas costas da esposa, que contra sua vontade soltou a jovem:

    - Até breve, minha cara… - e a abraçou rápida e carinhosamente.

    Lucius os acompanhou até a porta. Cumprimentou os cianteranos com um aperto de mão e estes lhe deram espaço para se despedir de Sallah.

    - Bom… é isso então… - a moça estava sem saber o que dizer.

    - Bom treino… - o rapaz tentava encontrar palavras.

    - Obrigada. Para você também…

    - Obrigado…

    Sallah deu dois passos para trás antes de se virar e ir.

    - Hey! - Lucius a chamou - Posso voltar para meu quarto? - brincou.

    - Vou pensar no seu caso! - ela riu.

    - Aerandir… Você acha que pode trazê-la antes do Baile? - o rapaz questionou.

    Aerandir e Arael se olharam, e este deu de ombros sorrindo.

    - Se ela se sair bem no treinamento, sim! - soou rigoroso e voltou a andar.

    Sallah deu uma última olhada para trás e acenou discretamente para o amigo. Ele retribuiu o sinal.

Já não estavam mais a vista quando fechou a porta. Ao virar-se para a sala seu pai o olhava com um sorriso malicioso:

 - Achei que ia beijá-la!

Lucius ficou roxo de vergonha.

- Valon! - a esposa deu uma cotovelada no marido, que riu.

O rapaz pediu licença aos pais e se retirou, indo direto tomar um banho.

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    Os três andaram rápido até sair de Algathar e pararam alguns bons metros após o portão da cidade.

    - Sallah, seu treinamento começa já. - Aerandir baixou seu capuz.

    - Tudo bem…

    - Como está seu condicionamento físico?

    - Acredito que bom.

    - Certo… Temos sete horas até Antares nascer. Precisamos chegar até a margem do rio antes disso! Quando precisar parar, avise.

    Sallah assentiu. Sentiu um frio subir pela espinha, pelo visto não seria fácil. E naquele momento começaram uma corrida rasa.

Se corressem direto, sem pausas, na velocidade normal de um Humano, levariam cerca de cinco horas. Mas a jovem não tinha uma resistência nem treinamento bons o suficiente para isso.
Aguentou a primeira hora e meia maratonando e precisou parar. Repousaram por vinte minutos e prosseguiram. Mantiveram o ritmo por mais uma hora e novamente pausaram para a moça retomar o fôlego, e fizeram mais dois intervalos desses.

Chegaram ao rio com tempo de sobra. O céu estava começando a perder o seus tons escuro, mas Antares ainda dormia.

- A partir daqui nós te levaremos. - Arael sorriu - Aproveite para descansar… 

Ele e Aerandir retiraram seus mantos e colocaram em pequenas bolsas que carregavam. Aconselharam Sallah a fazer o mesmo. Ela o fez vagarosamente, distraída admirando as grandes nadadeiras das costas deles, agora livres e abertas.

Pularam na água. Estava congelante. E assim como no dia em que foi resgatada, de repente estava respirando normalmente embaixo d’água. Mas dessa vez, teve a impressão de que o responsável por isso foi Arael. Também conseguiu reparar o quão longa eram as caudas deles. Se elas virassem pernas daquele tamanho, cada um deles seria consideravelmente mais alto. Aerandir a segurou por um braço, Arael pelo outro e, literalmente, a carregaram até Ciantera.

Silver Leaves - O Dragão Negro (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora