Silver Leaves - O Dragão Negro (COMPLETO - SEM REVISÃO)

CAPÍTULO VI - Parte 1

A cada trezentos e sessenta e cincos dias, o baile mais esperado do ano acontecia em Algathar e Selenthar, em seus respectivos continentes. A festa era aberta a todos sem a necessidade de convite prévio, somente, por um Acordo de Cavalheiros, era de praxe que se dispusessem de seus melhores trajes. Neste ano, o Baile seria no dia vinte e seis do décimo ciclo de Mahina, o dia o qual Aegnos também apareceria, na mesma fase lunar que a primeira, com sua forma quase cheia, sendo que seu pico de luz seria dali a dois dias. Na ocasião, portanto, Antares se pôr mais cedo era uma vantagem, pois a festa seria mais longa.

Lucius terminava de fechar as abotoaduras de sua camisa quando Eruvalon apareceu à porta de seu quarto:

- Está pronto? Karin está ficando ansiosa lá embaixo...

- Sim... - pegou seu costume preto, combinando com suas calças, e o sobretudo de cor branca, com detalhes em dourado e forro escuro, que estavam em cima da cama e desceu.

Faziam dois dias que chegaram de Méruen e Karin já sentia-se em casa. Ela estava próxima à porta quando o rapaz chegou à sala. Usava um vestido vermelho de fina renda, que sutilmente misturavam-se à saia rodada de cetim de mesmo tom. Com uma capa branca adornada em pedrarias por cima, amarrada abaixo do pequeno busto, marcando-lhe bem a cintura já acentuada pelo quadril largo.

- Vamos nos atrasar! - impaciente.

- Antares acabou de se pôr, Karin. Estamos em tempo... - abriu a porta e, educadamente, deu a passagem para a dama.

A pequena carruagem de madeira, puxada por apenas um cavalo castanho estava aguardando há poucos minutos. O boleeiro abriu a porta do veículo e os dois cavalheiros auxiliaram a moça a subir, Lucius entrou em seguida e foram levados até o Castelo. Karin estava eufórica, era apenas seu segundo baile. Já o rapaz não tinha interesse nesse tipo de evento, e este seria o seu primeiro. Marcaria presença apenas porque esperava encontrar Sallah no grande salão. Questionava-se se Aerandir a acompanharia, mas lembrou em seguida que os cianteranos estão vivendo em segredo.

Chegaram cedo na festa. Não haviam nem cem pessoas ali dentro ainda. A música era tranquila e garçons passavam servindo taças de vinho. Na lateral do salão via-se uma bancada com enormes barris, onde provavelmente pegavam-se as cervejas. O ambiente era enorme, com um pé direito e janelas altíssimas, cobertas por lindas cortinas azuis e suas franjas prateadas. As grandes colunas brancas apresentavam detalhes também na cor prata. Árvores secas, com delicados lampiões pendurados a seus galhos, faziam parte da elegante decoração. Mesas redondas, cobertas por toalhas brancas e com pequenos arranjos floridos em tons de azul e branco, com lugares para até seis pessoas começavam aos poucos a serem ocupadas e rapidamente os Guardiões fizeram o mesmo. Foi uma experiência interessante chegar cedo, pois assim conseguiram ver o salão de um jeito que não veriam caso estivesse cheio.

Aos poucos a festa foi ganhando vida. As mulheres com seus vestidos longos, rodados e cheios de babados, bordados ou rendas, com seus cabelos em penteados mirabolantes ou cheios de adornos. Os homens apareciam com seus melhores ternos ou costumes, alguns usando cartolas, outros usando chapéu-coco. Feliceos e Leporideos também marcaram presença com tecidos finos e leves cobrindo-lhes parcialmente seus corpos diferenciados, e até alguns Elfos deram o ar da graça - tinham fama de antissociais. As músicas tornaram-se mais alegres com danças coreografadas, o que rendeu a Lucius alguns convites para dançar vindos de Karin e de outras mulheres, uma vez que com frequência sentava-se à mesa - esta próxima a escada, na expectativa de ver Sallah chegando.

A primeira melodia lenta começou e Karin foi arrancar o jovem, de novo, de sua cadeira. Próximos ao fim da dança, após um giro, ele enfim avistou a aguardada no topo daquela escadaria. E foi ali, vendo-a descer lentamente os degraus, que ele sentiu um rebuliço no peito. Não sabia se era porque não a via há um tempo, ou se era porque ela estava estonteante naquele vestido esvoaçante, quase no mesmo tom que seus cabelos prateados, que estavam bem arrumados num penteado despojado, meio preso, jogado para o lado direito e com um lindo arranjo de ramos do lado esquerdo.