04.

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O que Dylan ia dizer se apagou por completo em sua mente no momento em que ele a viu. Aquela visão, ao mesmo tempo sensual e etérea, caminhou devagar até a porta, os pés descalços, fechou-a mansamente e a trancou. A luz dourada do abajur lhe banhava a pele, projetando a sombra de suas pernas na transparência da camisola.

— O que você... Onde arranjou essa... ãh... essa roupa? — balbuciou Dylan.

— Estava guardada para uma ocasião especial – respondeu Lili em voz baixa, estendendo as mãos para ele, tocando-lhe o peito. — Acho que é hoje.

Ele riu sem jeito. Enlaçou-lhe a cintura, embora frouxamente.

— Seria melhor guardá-la até o dia do casamento.

— E quando vamos nos casar?

Lili acomodou o rosto no peito desnudo pela camisa de algodão. Dylan se vestia com simplicidade, estava de jeans.

— Assim que eu voltar. Você sabe. Eu prometi.

— Já prometeu tantas vezes.

— E você sempre foi tão compreensiva — disse ele com fervor. Roçou-lhe os cabelos com os lábios, acariciou-lhe as costas. — Desta vez, não vou quebrar a promessa. Quando eu voltar...

— Isso pode levar meses.

— Pode — disse Dylan com tristeza, inclinando-lhe a cabeça para trás a fim de lhe ver o rosto. — Sinto muito.

— Eu não quero esperar tanto tempo, Dylan.

— Como assim?

Lili se acercou mais, encostando o corpo no dele, fazendo com que suas pupilas se contraíssem como se estivessem diante de demasiada luz.

— Me ame.

— Mas eu a amo, Lili.

— Eu estou dizendo... — ela umedeceu os lábios e respirou fundo. — Me abrace. Venha para a cama comigo. Vamos fazer amor.

— Lili... — murmurou Dylan. — Por que está agindo assim?

— Porque estou desesperada.

— E está me fazendo ficar mais desesperado ainda.

— Não quero que viaje.

— Eu preciso ir.

— Fique, por favor.

— É um compromisso.

— Case-se comigo — sussurrou ela com os lábios colados em seu pescoço.

— Vamos nos casar quando tudo estiver acabado.

— Eu preciso de uma prova de amor.

— Você tem todas.

— Então mostre. Ame-me agora.

— Eu não posso. Não seria correto.

— Para mim, seria.

— Não seria para nenhum de nós.

— Nós nos amamos.

— Por isso mesmo temos de fazer sacrifícios um pelo outro.

— Você não me deseja?

Apesar da hesitação, Dylan a estreitou com mais força e beijou seu pescoço.

— Desejo sim. Às vezes fico imaginando como seria bom ir para a cama com você e... Sim, Lili, eu a desejo.

Beijou-a. Entreabriu os lábios nos dela, deslizou a mão na curva de seu quadril. Ela reagiu apertando-o com mais força, roçando a coxa na dele. Suas línguas se encontraram. Ela gemeu.

— Por favor, faça amor comigo, Dylan. — pediu, agarrando-lhe a camisa. — Eu preciso de você hoje. Preciso do seu abraço, do seu carinho, preciso ter certeza de que você vai voltar.

— Eu vou voltar.

— Mas não tenho certeza. Quero fazer amor antes que você parta. — cobriu-lhe de beijos os lábios, o rosto, o pescoço. Dylan tentou se afastar, mas Lili continuou beijando-o. Por fim, ele lhe prendeu os braços e a arredou de si. Estava muito sério.

— Pense um pouco, Lili!

Ela o encarou como os olhos arregalados, como se tivesse sido esbofeteada. Sem fôlego, engoliu em seco.

— Nós não podemos fazer isso. Seria contra os nossos princípios. Amanhã cedo, vou partir numa missão enviada por Deus e não posso permitir que você, linda e desejável como é, me distraia. Além disso, meus pais estão me esperando. — inclinou-se e a beijou castamente no rosto. — Agora seja uma boa menina e vá se deitar. — Levou-a para a cama e afastou as cobertas. Obediente, Lili se deitou. Dylan a cobriu, esforçando-se para não olhar para os seios fartos. — Até amanhã. — sua boca tocou a dela de leve. — Eu a amo sim, Lili. Por isso não vou fazer o que está me pedindo.— apagou o abajur, saiu e fechou a porta, deixando o quarto na escuridão.

Lili se virou para o lado e começou a chorar. As lágrimas quentes e salgadas rolavam em seu rosto, molhando a fronha. Nunca se sentira tão abandonada, nem mesmo ao perder a família. Estava sozinha, mais sozinha do que em qualquer outro momento da vida.

Até mesmo seu quarto parecia estranho e desconhecido. Talvez fosse o efeito do sedativo. Ela tentou distinguir a forma dos móveis e o contorno das janelas na escuridão, porém tudo parecia borrado e confuso. Sua percepção estava embotada pela droga que tomara.

Lili teve a sensação de flutuar, de adormecer, mas as lágrimas continuavam escorrendo, impedindo-a de dormir. Que humilhação! Acabara de violar o seu próprio código moral. Oferecera-se ao homem que amava. Dylan jurava que a amava, mas a rejeitara pura e simplesmente!

Mesmo que não houvesse chegado a consumar o ato de amor, ele podia ter se deitado a seu lado, abraçando-a, oferecendo-lhe uma prova da paixão que afirmava sentir, deixando-lhe um fragmento de lembrança a que se ater enquanto ele estivesse ausente.

Mas a rejeição fora total. Afinal, que lugar ela ocupava na ordem de prioridades da vida daquele homem? Dylan tinha coisas mais importantes a fazer que amá-la e confortá-la.

Então a porta do quarto se abriu.
Lili se virou na direção do ruído e tentou focalizar os olhos marejados no facho de luz que se recortava na escuridão. Viu a silhueta de um homem no súbito clarão, um segundo antes quê ele entrasse e fechasse a porta atrás de si.

Lili se sentou e estendeu os braços para ele, o coração a saltar de alegria.

— Dylan! — exclamou.



𝐄𝐗𝐏𝐋𝐎𝐒𝐈𝐕𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍  彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora