09.

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Do altar, Lili olhou para a porta da igreja e, contra a forte claridade do sol lá fora, viu a silhueta de um homem alto que acabara de entrar. A última pessoa que esperava ver ali era Cole. Mas ele tirou os óculos escuros e atravessou o corredor atapetado da nave.

— Olá.

— Oi.

— Parece que preciso aumentar o meu dízimo — disse ele apontando com o queixo para o material de limpeza aos pés dela. — Será que a igreja não tem dinheiro para contratar uma faxineira?

Sem se perturbar, Lili enfiou o cabo do espanador no bolso de trás do jeans, deixando para fora as plumas alaranjadas.

— Eu gosto de fazer isto. 

Ele sorriu.

— Você parece surpresa em me ver.

— E estou mesmo — ela admitiu com franqueza.

— Há quanto tempo não entra na igreja?

Ela estava tirando o pó do altar para colocar o arranjo que acabava de chegar da floricultura. Os raios do sol se filtravam nos altos vitrais coloridos, fazendo as partículas de poeira dançarem alegremente no ar. A luz projetava um arco-íris em sua pele e em seus cabelos, que estavam presos num coque improvisado. Usava um jeans bem largo e um par de tênis já muito gasto. Cole achou-a linda como um botão de flor e mais sexy que nunca.

— Desde a Páscoa. — ele se sentou no banco da frente e apoiou os braços no encosto, estendendo-os a ambos os lados. Examinou o santuário e percebeu que não havia mudado, continuava exatamente o mesmo.

— Oh, sim — disse Lili. — Nós fizemos um piquenique no parque àquela tarde.

— E eu a empurrei no balanço. 

Ela riu.

— Como pude me esquecer disso? Eu gritava para que não me empurrasse com tanta força, mas você não parava.

— Mas você gostou.

Ela sorriu. O brilho travesso em seu olhar o encantou.

— Como sabe?

— Intuição.

Quando Cole também lhe endereçou um sorriso. Lili pensou que ele era capaz de intuir muita coisa com relação às mulheres: nenhuma sem malícia.

Ele, por sua vez, pôs-se a recordar a primavera anterior, o domingo de que estavam falando. Era Páscoa, o céu estava azul e límpido, o ar, quente. Lili trajava um vestido leve, solto, que ora oscilava ao redor de seu corpo, ora colava-se a ele com o sopro do vento do sul.

Fora delicioso puxá-la para junto do peito quando ela se sentou no velho balanço preso à árvore gigantesca por cordas grossas como seu pulso. Ele a segurou bem perto de si mais tempo que o necessário, provocando-a, ameaçando empurrá-la para frente, mas sem soltá-la. 

Aquilo lhe deu oportunidade de aspirar ao aroma fresco de seus cabelos, de sentir no peito o contato de suas costas esguias. Quando finalmente a soltou, ela riu com alegria de criança. A música daquele riso ainda soava nos ouvidos de Cole. Toda vez que o pêndulo do balanço a trazia de volta, ele empurrava o assento, quase lhe tocando os quadris. Não ousou tanto.

Era verdade o que escreviam os poetas românticos sobre as fantasias dos rapazes na primavera. As sensações viris lhe invadiram o corpo aquele dia, enchendo-o de impetuosidade, do desejo de acasalar-se.

Queria deitar-se na relva com Lili, deixando os raios do sol beijarem suavemente a sua face enquanto ele lhe beijava os lábios. Queria pousar a cabeça em seu colo e contemplar-lhe o rosto lindo. Queria fazer amor com ela, sem pressa, suave e delicadamente.

𝐄𝐗𝐏𝐋𝐎𝐒𝐈𝐕𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍  彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora