30.

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Roxy entrou com um garrafão de vinho numa mão e uma sacola de supermercado na outra.

— Ei, o que é isso? — perguntou Cole, pegando a sacola para espiar seu conteúdo. — Chips, patê, pipoca e queijo!

— Foi o que eu disse, vamos comemorar — sorriu a moça com alegria. — E então, Lili? Está gostando do apartamento?

— Estou sim, é muito bonito.

— Como ficou lindo! — Roxy assobiou de admiração ao examinar a mobília nova.

Cole tinha pedido aos carregadores que arrumassem os móveis à medida que os iam trazendo para dentro, mas não sem antes consultar Lili quanto ao lugar de cada um. As peças se ajustavam perfeitamente às dimensões da sala.

— Vocês têm copos? — perguntou Roxy. — Venha, vamos brindar à casa nova. — sem ser convidada, dirigiu-se à cozinha. Cole a seguiu. Lili não teve escolha senão acompanhá-los, muito embora os três mal coubessem ali.

Cole abriu as embalagens, embebeu um chip no patê e o ofereceu a Roxy. Rindo muito, ela mordeu um pedaço ao mesmo tempo em que tentava desarrolhar o garrafão de vinho. O que Roxy não comeu, Cole pôs na boca. Depois lambeu os dedos.

Lili preferiu ficar no segundo plano, sentia-se fora de seu elemento em meio à diversão dos dois. Não estava com humor para festejar nada.

— Não é qualquer inquilino que eu recebo assim — disse Roxy a Lili enquanto tirava a etiqueta dos copos comprados aquela manhã e os lavava um a um. Estava muito à vontade, parecia não se sentir nada constrangida na cozinha dos outros.

— Mas, como você é amiga de Cole, e ele é meu amigo... Ai! — grunhiu quando este a agarrou por trás e a abraçou com força, as mãos prendendo-a pouco abaixo dos volumosos seios.

— Sua sem-vergonha, amigos até debaixo da água!

— Largue-me, seu louco, e vá cortar o queijo.

Lili se sentia demais ali. Não pertencia àquele grupo. Não sabia participar daquele tipo de camaradagem. Roxy dava a impressão de saber exatamente o que dizer para que Cole risse. As mãos dele pareciam acostumadas a tocá-la com frequência.

Por que aquela familiaridade a incomodava tanto, Lili não sabia. Mas, afinal, como esperava que eles se comportassem quando estavam juntos? Não eram amantes? Ela sabia disso. Mas saber e presenciar eram coisas muito diferentes. Doía-lhe no fundo do coração que, poucos segundos antes de Roxy aparecer, Cole a estivesse beijando com tanta ternura, com tanto fervor.

Será que ele era capaz de esquecer sua paixão conforme lhe conviesse? Acaso tinha esquecido que a estava beijando e dizendo quanto a desejava? Conseguia transferir tão depressa o seu afeto de uma mulher para outra? Tudo indicava que sim. A prova de seus desejos de camaleão estavam bem diante de seus olhos.

Servido o vinho, eles brindaram ao apartamento novo. Lili tomou um gole da bebida barata. Deixando o copo, pediu licença e, sem saber se tinha sido ouvida em meio às gargalhadas dos dois, foi para o banheiro e fechou a porta. Por pouco não vomitou no chão.

— Lili? — Cole bateu na porta do banheiro alguns momentos depois. Sua voz estava carregada de preocupação. —Algum problema?

— Eu já vou sair — gritou ela. Lavou o rosto, bochechou e passou os dedos nos cabelos.

— Está zangada conosco? — perguntou ele no momento em que Lili abriu a porta. — Eu sei que não gosta de bebida. Esta é a sua casa. Não queríamos ofendê-la.

Foi nesse momento que ela compreendeu que o amava. Provavelmente sempre o amara. Mas só naquele instante, ao vê-lo olhando para ela com ar tão constrangido, teve certeza de seu sentimento. Passara anos enganando-se a si mesma, tentando se convencer de que, se ficasse longe dele, a atração que sentia desapareceria. Mas, ao contrário, aquele sentimento ficara aninhado dentro dela como uma ostra na concha, reunindo grãos de conhecimento sobre Cole, um olhar, um toque, um som, até que seu amor por ele se transformasse numa pérola rara incrustada em sua alma. Queria cair em seus braços, sentir a sua força. Mas não podia. Era absurdo. Lili Reinhart e Cole Sprouse? Impossível. Ela estava grávida de outro homem, o irmão dele. Mesmo que não fosse assim, os dois não combinavam, um não servia para o outro. Acaso podiam existir criaturas tão diferentes? Era um despropósito pensar em ficarem juntos, em desenvolverem qualquer tipo de relação, em terem um romance, não havia a menor esperança. Ah, mas ela o amava!

— Não, não é isso, Cole — disse Lili com um sorriso amarelo. — É que não estou me sentindo bem.

Ele ficou tenso.

— O bebê? Algum problema. Está com cãibra? Sangramento? Que aconteceu? Quer que chame o médico?

— Não, não. — Ela pousou a mão em seu braço para tranquilizá-lo, mas retirou-a logo. — Só estou cansada. Passei o dia todo de pé e acho que não aguento mais.

— Eu merecia ser fuzilado — disse ele. — Devia tê-la posto na cama no minuto em que chegamos.

— Eu não tinha cama quando chegamos.

Ele forçou um sorriso.

— Bom, assim que a entregaram você devia ter ido se deitar. — tomou-lhe a mão e a conduziu à sala. — Diga boa noite, Roxy. Vamos embora para que madame possa dormir.

Roxy se levantou de um salto do sofá novo e olhou detidamente para ela.

— Você está pálida como um fantasma, meu bem — disse, encostando o dorso da mão no rosto de Lili. — Posso fazer alguma coisa?

Pode sim, ir embora, Lili teve vontade de gritar. E trate de ficar longe de Cole. A sua principal doença era o ciúme. Ela sabia disso, mas não conseguia evitar. Só queria ver a amante de Cole fora de sua casa.

— Não, vou melhorar quando descansar um pouco — disse com diplomacia.

A despeito de seus protestos, Cole e Roxy arrumaram a nova cama para ela, estendendo os lençóis ainda duros de goma.

— Se quiser lavar a roupa de cama amanhã para amaciá-la um pouco — sugeriu Roxy —, eu a ajudarei a levar tudo à lavanderia. Passe lá em casa.

— Obrigada — disse ela, plenamente consciente de que nunca na vida pediria um favor a Roxy Clemmons.

Uma vez arrumada à cama, guardaram os salgadinhos e o vinho. A porta, Cole segurou ambas as mãos de Lili.

— Tranque bem a porta.

— Pode deixar.

— Se precisar de alguma coisa durante a noite, a qualquer hora, vá ao apartamento de Roxy e telefone para mim.

— Não se preocupe...

— Vou me preocupar com você quanto eu quiser — atalhou ele. — Amanhã o telefone será instalado aqui.

— Mas eu não mandei...

Cole pousou o dedo nos lábios dela.

Eu mandei quando você estava no toalete depois do almoço. Agora vá se deitar e durma um pouco. Boa noite. — beijou-lhe a boca delicadamente. Passou a língua em seu lábio inferior com tanta suavidade que ela ficou na dúvida se era imaginação ou não. — Vamos, Roxy querida. Eu a acompanho até sua casa.

Lili fechou a porta. Cole ia levar Roxy para casa. Sem dúvida continuariam a festa interrompida. Ela se pôs a imaginar os dois juntos, as bocas unidas, os corpos entrelaçados. Ficou muito tempo deitada na cama nova sem conseguir dormir. Atormentava-a pensar em Cole com Roxy. Em Cole com quem quer que fosse.

Era muito tarde quando o ouviu ligar o motor da Corvette, ainda estacionada do lado de fora, e partir.

𝐄𝐗𝐏𝐋𝐎𝐒𝐈𝐕𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍  彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora