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E o automóvel seguiu avançando no cinzento do amanhecer.

- Onde nós estamos? - Lili se sentou e piscou ante a luz do sol. Flexionou o pescoço e espreguiçou.

- Em casa. Quer dizer, quase. Você deve estar com fome. Eu estou morrendo.

Pelo pára-brisa marcado de insetos esmagados, ela viu que se encontravam no mesmo hotel de beira de estrada, na periferia de La Bota, em que Cole a havia deixado na primeira noite. Ele havia estacionado em frente à lanchonete.

- Eu não posso entrar aí com esta cara! - exclamou ela.

- Bobagem. Você está linda.

Abriu a porta do carro e, depois de parar para arquear as costas e espreguiçar-se, contornou-o e foi para o lado de Lili, que se entregara ao esforço inútil de alisar a roupa e ajeitar os cabelos.

- Eu estou horrorosa - disse quando Cole lhe tomou o braço e a ajudou a descer. Vacilou e se agarrou a ele. - Oh, meu pé dormiu. Você vai ter de me carregar.

- Não faz mal - ronronou ele em seu ouvido. - Mas você precisa saber que eu tomei certas liberdades quando você estava dormindo.

- Você é bem capaz disso. - Lili tentou fingir-se zangada, mas o brilho dos olhos a denunciou.

- Ei, o que é isso? - Alguma coisa lhe havia chamado a atenção à luz do sol matinal. Cole estendeu a mão atrás do banco dianteiro e pegou uma garrafa de champanhe fechada. - Puxa, veja só. Esquecemos de brindar com eles.

Com um muxoxo, Lili pegou a garrafa.

- Vamos guardá-la para depois do café.

- Caramba, eu criei um monstro! Você vai ser uma mulher com gostos caros. Eu devia tê-la acostumado à cerveja.

Grogues e cansados, subiram tropegamente os degraus rumo à porta da lanchonete. Cole a abriu bem no momento em que outro casal ia saindo.

Matthew e Melaine Sprouse.

Era uma tradição deles tomar o café da manhã fora todo sábado. Desde que os filhos aprenderam a cuidar de si mesmos, os Sprouse se permitiam essas duas horas semanais de solidão. As exigências da profissão de Matthew deixava-lhes pouco tempo, de modo que eles encaravam toda manhã de sábado como uma ocasião especial e passavam a semana planejando aonde iriam, procurando sempre escolher um restaurante diferente.

O casal se deteve estarrecido ao ver o estado da roupa de Lili à barba por fazer de Cole. A tentativa de passar a mão nos cabelos só serviu para chamar a atenção para quanto se achavam embaraçados. Seus lábios estavam naturalmente pintados pelos beijos apaixonados da noite anterior. A maquiagem ficara borrada durante o sono. Se olhassem com mais atenção, os dois velhos teriam notado a mancha na calça de Cole. Mas sua atenção estava concentrada principalmente em Lili, que sofrerá uma enorme metamorfose desde que a tinham visto pela última vez e que, agora, abraçava inconscientemente uma garrafa de champanhe.

- Olá, mamãe, olá, papai. - Cole foi o primeiro a romper o tenso silêncio. Pensou em tirar o braço da cintura de Lili para aliviar o constrangimento do momento, mas temeu que ela não conseguisse ficar de pé por si só. Acabava de tropeçar.

- Bom dia - cumprimentou Matthew com uma evidente falta de civilidade.

Melaine não disse nada, continuou olhando fixamente para Lili. As duas não tinham estado face a face desde a cena terrível, na casa paroquial, em que Melaine a acusara de haver seduzido Dylan. A expressão dura desta última mostrava que continuava achando que tinha razão em acusá-la.

- Matthew, Melaine - disse Lili com voz de súplica -, não é o que parece. Nós... Cole e eu fomos... Fomos levar...

Cole interferiu para ajudá-la.

𝐄𝐗𝐏𝐋𝐎𝐒𝐈𝐕𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍  彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora