26.

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- Que foi que essa moça fez, mamãe? - perguntou uma garotinha. - Alguma coisa ruim?

- Como prefere, Lili?

- A senhora não precisa ir a lugar nenhum com ele, moça - disse o motorista atrás de Cole.

Ele não deixaria um marido violento tirar a esposa indefesa de seu ônibus.

Lili fitou Cole. Ele estava com os dentes cerrados e o maxilar tenso. Seus olhos brilhavam como chamas amareladas. Seu corpo parecia mais sólido que a rocha de Gibraltar. Não voltaria atrás, e ela não queria ser responsável pela confusão a bordo do ônibus.

- Oh, está bem, eu vou. - saiu ao corredor depois de pegar uma pequena valise. - Tenho outra mala no compartimento de bagagem - disse delicadamente ao motorista, ciente de que todos os olhares estavam voltados para ela.

Os três desceram. O motorista abriu o compartimento de bagagem sob o ônibus. Ao lhe entregar a mala, perguntou:

- Tem certeza de que quer ir com esse homem? Ele não vai machucá-la, vai?

Lili sorriu.

- Não, não. Não é nada disso. Ele não vai me bater.

Depois de fuzilar Cole com o olhar e resmungar alguma coisa contra as imprudências que ele cometera nas estradas, voltou para o ônibus. Um momento mais tarde, já ia pela estrada, os passageiros esticando o pescoço à janela para ver as duas pessoas que ficaram no acostamento.

Rígida, Lili se voltou para encarar Cole. Deixou cair à bagagem com um enfático baque.

- Que belo espetáculo, Sr. Sprouse. Que esperava ganhar com isso?

- Pretendia tirá-la do ônibus e impedi-la de fugir feito um coelhinho assustado.

- Bem, talvez eu não seja outra coisa - gritou ela, dando vazão às lágrimas que vinha reprimindo desde a cena na casa paroquial.

- Que pretendia fazer, Lili? Ir a uma clínica de abortos em Dallas?

Ela cerrou os punhos.

- Nem considerei essa possibilidade desprezível!

- Que ia fazer então? Qual era a sua intenção. Ter o bebê e entregá-lo à adoção?

- Não!

- Escondê-lo? - ele avançou um passo. A resposta que Lili daria à pergunta seguinte era de suma importância para ele. - Você não quer o bebê, Lili? Tem vergonha dele?

- Não é nada disso - gemeu ela, cobrindo a barriga com ambas as mãos. - É claro que eu o quero. Eu já o amo.

Cole relaxou os ombros com alívio, mas sua voz ainda conservava um timbre irritado.

- Então por que resolveu fugir?

- Eu não sabia o que fazer. Seus pais deixaram claro que não me queriam mais lá.

- E daí?

- Daí? - ela fez um gesto na direção que o ônibus acabava de seguir. - Nem todos têm coragem de sair perseguindo um ônibus. Ou de viajar de moto a cento e cinquenta quilômetros por hora. Eu não sou como você, Cole. Você não se importa com o que as pessoas pensam. Faz o que bem entende. - espalmou a mão no peito. - Eu não sou assim. Eu me preocupo com o que as pessoas pensam. E estou com medo.

- De quê? - perguntou ele, empinando o queixo com hostilidade. - Dessa cidadezinha cheia de cabeças medíocres? De como essa gente pode prejudicar você? Qual é a pior coisa que podem lhe fazer? Falar mal? Desprezá-la? O quê? Ninguém precisa da amizade de quem é capaz de fazer isso. Está com medo de sujar o nome de Dylan? Eu também não gosto de imaginar esses hipócritas pensando mal dele. Mas Dylan morreu. Não vai saber disso. E o trabalho que ele iniciou continuará. Você mesma cuidou disso, organizando a rede de coleta de doações. Pelo amor de Deus, Lili, não seja tão dura consigo mesma. Você é a sua pior inimiga.

𝐄𝐗𝐏𝐋𝐎𝐒𝐈𝐕𝐄 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍  彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora