Capítulo 2

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O mundo é cheio de coisas óbvias que por acaso ninguém nunca observa.

(O Cão dos Baskervilles, Sir Arthur Conan Doyle, tradução livre)


Ingreth Silva estava tendo um dia terrível.

Era fácil de perceber se você a conhecia bem, ela tinha uma pequena ruga na testa que dizia para as pessoas saírem do caminho dela, por o bem ou por o mal.

Claro, se você não a conhecesse bem, isso seria fácil de deixar passar.

Agora, junto com os olhos que pareciam disparar raios nas pessoas, seus passos pesados ​​e punhos cerrados, bem, você teria que ser cego para não perceber.


-Eu disse a ela, disse a ela para ficar. Nós poderíamos fazer compras juntas, assistir a um filme e eu até a deixaria passar um tempo na biblioteca, mesmo que eu odeie. Eu faria.

A cena toda era bem engraçada se você prestasse atenção nela. Quero dizer, lá estava ela - essa mulher alta, de pele cor de café, olhando fixamente para as paredes como se fossem responder.
Não, como se elas fossem se curvar e pedir desculpas. Profusamente.

A pobre 'ela' que Ingreth estava xingando? Essa seria eu. Maisie Pereira. Você sabe, sua própria narradora pessoal e fantasma amigável.

Eu deveria colocar isso em um cartão.

De qualquer forma, eu era aquela que estava atualmente sentada em sua cama e tentando o meu melhor para não rir - e isso por si só era muito legal da minha parte.

Veja bem, a maioria das pessoas tinha muito medo de Ingreth quando ela estava nesse humor - elas tendiam a se espalhar como ratos. Era engraçado.

Bem, ela não me assustava, e isso nem é porque eu não estou mais viva. Quero dizer, ela nunca me assustou - e eu sou de me assustar fácil. Ingreth era... barulhenta e ela tinha o pavio mais curto de todas as pessoas que eu conhecia, mas sua essência era de uma amiga amorosa, dedicada e protetora.

Então eu sabia que ela nunca me machucaria - bem, ela poderia me deixar surda, mas não seria de propósito. E ela pediria desculpas por isso mais tarde.

Mas naquele dia em particular, ela estava aproveitando. Não havia ninguém por perto para ouvi-la reclamar.

Bem, lá estava eu, mas ela ainda não sabia disso.

E ela estava terrivelmente preocupada. De fato, pouco antes de sairmos da escola naquela sexta-feira à tarde, antes de eu sair com Joanne para o que seria, eventualmente, minha morte, Ingreth havia me dito que tinha um mau pressentimento. Ela me pediu para não sair com Joanne, para ir a casa dela.

Mas não, eu era teimosa e queria comprar o novo livro de Rick Riordan, e se tivesse que suportar as provocações e zombarias de Joanne por um pouco, bem, valeria a pena.

Então chegamos lá, ela foi até a Starbucks para esperar seu novo namorado e me perguntou se eu poderia ir comprar um café para ela. Na minha pressa de ir à livraria ao lado, já era a minha vez na fila quando o cara me perguntou o que eu queria beber e minha mente se apagou.

O que Joanne disse mesmo?

Você vê, ela tinha me dito o que ela queria beber, mas eu tenho essa coisa onde eu desligo minha mente sempre que ela está tagarelando. Principalmente, porque eu sei que metade disso vai ser prejudicial ou ofensivo, então eu a bloqueio com pensamentos felizes.

É uma coisa que faço frequentemente, por isso é raro alguém me ver de verdade – porque eu geralmente sou essa pessoa alegre e feliz. O lado ruim é isso faz com que às vezes eu perca peças importantes de informação.

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