Capítulo 11

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" -Por que você levou aquela facada?

-Você teria feito o mesmo por mim.

Era verdade. Eu acho que nós dois sabíamos disso. Ainda assim, senti como se alguém estivesse cutucando meu coração com uma barra de metal fria."

O Último Olimpiano, de Rick Riordan, tradução livre.

A próxima coisa que eu me dei conta foi a dor. Muita dor. Não me lembro de sentir tanta dor assim, nem mesmo quando morri.

Era como... como se alguém estivesse derretendo a pele dos meus ossos. Ao mesmo tempo, senti como se estivesse amarrada a sete caminhões em movimento, cada um deles indo em uma direção diferente. Eu podia sentir o cheiro da pele queimando e ver flashes estranhos de luz atrás dos meus olhos.

Era... nauseante.

Além disso, existia um conhecimento sempre presente em minha mente... a percepção de que eu não era nada... nada além de um monte de átomos, eu acho. Esse conhecimento me fazia sentir vazia por dentro e me via agarrada às lembranças que me faziam... bem, eu.

Não havia muito, para ser honesta. Acho que passei tanto tempo tentando fazer todo mundo feliz que eu nunca me conheci realmente. Eu não conseguia nem mesmo sentir tristeza por isso - não conseguia sentir muita coisa além de dor.

Mas então me lembrei dos meus livros. E de dividir chocolate com Jace quando ele entrava no meu quarto. E de assistir filmes água com açúcar com Ingreth. E de sentir borboletas no estômago Dash enquanto eu o assistia durante as partidas de hóquei. Minha mãe me ensinando a fazer máscaras faciais (apesar do fato de eu nunca conseguir ficar quieta tempo o suficiente para elas fazerem efeito.) E meu pai me ensinando matemática (ou tentando, já que realmente não levo jeito com números).

O bolo especial da minha avó, apenas para grandes celebrações, e as provocações bem-humoradas dos meus primos. Então, ok, às vezes eles eram bem cruéis - e na maioria das vezes eles falavam mal de mim por trás. Mas... de repente eu me vi me questionando, e daí? Essas coisas também faziam parte de mim.

Os caminhões continuavam andando em direções diferente e eu precisava me agarrar com força a todas as partes de mim, não podia me dar ao luxo de ser exigente... Ou iria desaparecer. Eu tinha que lembrar que era gentil, mas que às vezes eu podia me distrair. Que eu não ligava muito para minha aparência, e que eu podia parecer distante até mesmo daqueles a quem eu amava - céus, eu estava mais distante do que nunca. Mas isso não significava que eu não ligava. Isso não significava que não importava.

Eu podia sentir meu corpo querendo relaxar, querendo que a dor fosse embora. Era como se houvesse uma pequena voz sussurrando no meu ouvido: Você sabe que não é boa o suficiente. Você sabe que não vale a pena. Tá vendo como você faz as pessoas sofrerem? Tá vendo como você os fez chorar? Por que você está lutando tanto para sobreviver? Não seria melhor deixar ir e se livrar da dor? Livrar-se de tudo isso?

Não posso dizer que não era tentador. Aquela voz... estava realmente alta agora, mas na realidade eu a ouvira a vida inteira.

Você nunca será tão boa quanto seus irmãos, então por que tentar? Eles nunca amarão você, então por que continuar se esforçando? Não é melhor sumir e se tornar outra pessoa por um tempo? Viver a vida de outra pessoa? Você não pode fazer ninguém feliz de qualquer maneira, então por que você vai continuar tentando? Eles ficarão melhor sem você.

Os sussurros continuavam indo e vindo, e em um momento eu só queria gritar para que parasse... e então a voz se tornava gentil, me dizendo tudo que eu precisava fazer era descansar.

OcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora