Cap. 3

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- Com licença, professora. – eu falei, interrompendo a explicação da Augustin ao abrir a porta do laboratório. Ela apenas parou de falar e me olhou de cima a baixo, com uma cara de desprezo, erguendo uma sobrancelha.

- Como eu estava dizendo, o relatório de hoje deverá ser entregue na próxima aula, porque a última parte dele deverá ser entregue em forma de pesquisa. – ela continuou, um pouco irritada. Nem preciso dizer que o Castelli ficou me medindo desde que eu fechei a porta do laboratório até quando eu me sentei num dos bancos. Tadinho, ele pensa que aquela cachorra dá a mínima pra ele. Tenho pena desses pobres meninos iludidos.

A professora Augustin logo terminou de explicar, sem dirigir um olhar sequer na minha direção, e foi se sentar em sua cadeira. Geralmente ela colocava os pés sobre a mesa e ficava de braços cruzados, apenas nos observando com seu risinho debochado, mas hoje ela parecia preocupada com alguma coisa. Ela não deixou de se sentar daquele seu jeito folgado, mas sua expressão estava fechada e o olhar perdido vagamente entre os alunos. Não que eu estivesse reparando nela nem nada, eu só notei esse comportamento estranho porque passei metade da aula sonhando acordada com tudo que tinha acontecido entre eu e a srta. Abdallah e, consequentemente, acabava observando as pessoas ao meu redor mais do que de costume. Meu coração ainda estava acelerado e minhas pernas estavam bambas só de lembrar dela me levantando do chão e me abraçando tão apertado.

Durante mais uma de minhas viagens pelo interior do meu cérebro, me peguei observando a professora Augustin. Meus olhos viajavam pelo seu rosto, analisando cada detalhe, até que ela retribuiu meu olhar de um jeito incomodado, como se tivesse notado que eu a observava há algum tempo. Arregalei meus olhos, surpresa comigo mesma, e continuei copiando o relatório da lousa evitando ao máximo aproximar meu olhar dela. Por que toda vez que ela me olhava agora, eu sentia um calafrio? Assim que ela me olhou de volta, me lembrei do beijo no elevador, e do quão tenso foi aquele último olhar. Talvez fosse medo de que ela pudesse me atacar de novo a qualquer momento ou algo do tipo.

A aula rapidamente acabou, e como eu tinha chegado um pouco mais tarde ao laboratório, estava igualmente atrasada na cópia da lousa em relação ao resto da classe. Resumindo, enquanto todos iam embora, eu ainda estava copiando o relatório, com as mãos trêmulas. Experimenta beijar sua professora linda, maravilhosa e inalcançável e depois copiar uma folha inteira de lição pra você entender o que eu passei.

Quando todos já tinham saído, vi de rabo de olho que a professora Augustin me encarava. Tentei me apressar, mas tudo que consegui foi pular uma palavra e ser obrigada a passar corretivo na folha. Enquanto eu soprava o líquido pra que ele secasse logo, pude ouvi-la bufar e se levantar, caminhando lentamente até a janela e observando o exterior do prédio com a testa franzida. E foi aí que eu percebi que meu sopro ficou mais fraco quando meus olhos sem querer se fixaram na bunda dela. O que estava acontecendo comigo? Por que esquentou de repente?

- Perdeu alguma coisa, Nasser? – ouvi a voz dela reclamar, e rapidamente ergui meu olhar até encontrar seu rosto, ainda virado pra janela. Com a maior cara de ânus, abri a boca várias vezes na tentativa de dizer algo, mas como nada saiu, apenas voltei a copiar. Ela soltou um risinho debochado e começou a balançar a cabeça negativamente. - Num dia ela enfia uma caneta no meu braço, no outro ela fica secando a minha bunda. – ela disse, e eu voltei a copiar pra não deixá-la ver minha cara roxa de vergonha. - Afinal de contas, o que você quer?

A srta. Augustin virou seu rosto na minha direção, e me encarou de um jeito impaciente. Eu soube bem o que dizer, apesar de ter sido pega de surpresa por ela ter tocado no assunto tão repentinamente.

- O que eu quero? Engraçado, a senhora só menciona as partes que lhe convêm. Por que não mencionou também o dia em que me agarrou dentro do elevador contra a minha vontade? – respondi, frisando bem a última parte e olhando-a com raiva.

My Biology - VamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora