Cap. 33

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Meu despertador tocou, anunciando as seis horas da manhã de mais um dia letivo. Até mesmo seu som propositalmente estridente parecia intimidado com a atmosfera densa que me rondava, e como que num gesto de compaixão desmerecida ou até mesmo pena, tocava com menos escândalo que o habitual naquela manhã. O que veio a calhar, já que eu não precisava de nada para me manter acordada.

Meus olhos estavam escancarados desde que me lembrava de ter deitado, fixos agora no dia que amanhecia e refletindo os tímidos raios solares que invadiam meu quarto. Minhas pálpebras ardiam levemente devido às lágrimas que haviam secado ao redor delas, as quais eu não me dei ao trabalho de enxugar. Soltei um suspiro fraco, fechando meus olhos insones por alguns segundos. Apesar do cansaço mental que fazia minha cabeça pesar o triplo do normal, as horas de reflexão haviam ajustado algumas ideias e estabelecido alguns fatos que eu me negava a aceitar há algum tempo. Pela primeira vez desde que tudo acontecera, eu estava sendo totalmente franca e objetiva comigo mesma.

Talvez tudo tivesse acontecido no momento certo. Talvez minhas suspeitas fossem concretas e eu já não amasse mais Dalila como antes.

Quer dizer... Se eu a amasse, ainda deveria estar doendo muito, não deveria?

Então por que eu só conseguia sentir um... Vazio? Era como se tivessem colocado uma pedra de gelo dentro do meu peito, porém, ela não doía. Ela apenas... Gelava tudo ao seu redor. Entorpecia os órgãos próximos, anestesiava qualquer tipo de dor que eu pudesse sentir, quando na verdade sua existência a deveria estar causando. Tudo ainda estava estranho demais dentro de mim para que eu conseguisse me definir com exatidão, mas uma noite em claro me permitiu enxergar certos pontos em meio ao breu que se instalara em minha mente.

Eu já não a amava mais, mesmo antes de descobrir sobre Laila. Apesar de meus receios diante dessa constatação, de meu medo de me desprender de algo que fora uma verdade absoluta para mim por tanto tempo, minha ausência de sentimentos em relação a ela agora era uma certeza.

Não era como se eu precisasse de muito esforço para apagar as imagens de Dalila com outra mulher da minha mente. Se Valéria não tivesse surgido, eu estaria agonizando naquele momento, sem dúvidas. Mas devido às mudanças drásticas em minha vida, agora eu podia dizer que até aceitava o fato de Dalila amar outra mulher. Eu apenas não aceitava a parte de ela ter me enganado a respeito disso.

Eu queria sentir raiva por ter sido enganada, mas não havia nada formigando em minha garganta. Eu queria sentir vontade de chorar só de pensar nela com Laila, enquanto eu sonhava com nosso futuro, mas meus olhos simplesmente se mantiveram secos ao visualizarem tal cena. Eu queria sentir alguma coisa... Mas, por mais que eu tentasse, só havia ele.

O vazio.

- Filha? - ouvi a voz baixa da minha mãe chamar da porta, e apenas dirigi meus olhos até seu rosto carinhoso. - Como você tá?

Funguei baixo, só então me dando conta de que o despertador ainda tocava, e o desliguei, vendo mamãe caminhar até mim. Ela se sentou ao meu lado na cama, e colocou a mão suavemente sobre minha testa, verificando minha temperatura. Mães e sua eterna proteção desmedida.

- Não sei. - murmurei, encarando-a com inexpressividade. - Igual, eu acho.

- Tem certeza de que não quer me contar o que aconteceu? - ela perguntou, aflita, acariciando meu rosto, e eu neguei com a cabeça. - Por favor, querida... Quem sabe eu possa te ajudar.

- Vai ficar tudo bem, é só uma TPM meio exagerada. - recusei, esboçando um sorriso que mais deve ter parecido uma dor de barriga. - Eu ando meio pressionada na escola, aí acaba juntando tudo e dá nisso.

My Biology - VamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora