Cap. 24

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(Camila's POV)



Deus do céu. Que tédio! Se eu soubesse que ficaria naquele estado absurdo de marasmo, teria me atirado de um prédio antes de ter que passar por aquele fim de semana.

Enquanto entrava em meu quarto, acendendo a luz e me livrando da escuridão na qual minha casa havia se transformado há algumas horas, bufava e pisava forte, tendo o barulho de meus passos levemente abafado por minhas pantufas do Bob Esponja. Me joguei estrondosamente em minha cama, bagunçando todos os meus bichinhos de pelúcia, e respirei profunda e lentamente. O dia realmente havia sido vazio, tão vazio como o branco do teto que eu encarava.

Mamãe havia sumido devido a tal da festa surpresa, e mesmo tendo ligado uma ou duas vezes, não era a mesma coisa. Me mantive sentada no sofá da sala o dia todo, me entupindo de sorvete e outras gordices enquanto assistia a filmes de comédia, drama e até mesmo alguns seriados. Agora era hora de fazer alguma coisa da vida, tipo tomar um banho e quem sabe dormir cedinho pra que aquele dia terminasse logo e alguém desse sinal de vida. Quem sabe Helena e Hussein não desistissem de tirar o atraso e me chamassem pra sair com eles no dia seguinte?

Me sentei na cama, sentindo uma preguiça monstruosa me dominar, originada pelo dia inteiro de inutilidade. Prendi meu cabelo de qualquer jeito, enrolando-o habilidosamente e dando um nó nele, de modo que formasse um coque firme, e fiquei de pé, ignorando a falta de vontade para isso. Caminhei (lê-se: me arrastei) até o banheiro de minha suíte – existem vantagens de se morar sozinha com sua mãe, sabia? - e me tranquei lá, apesar de saber que estava sozinha em casa e não havia perigo de alguém invadir minha residência, ainda mais naquele bairro tão tranquilo. Tirei o pijama sem pressa, liguei o chuveiro quentinho e me enfiei debaixo dele, deixando somente a cabeça de fora. Molhar o cabelo àquela hora não estava entre meus planos, eu detestava dormir com o cabelo ainda úmido. Sim, sou muito esquisita.

Fechei os olhos, sentindo o calor da água se espalhar por minha pele e relaxar meus músculos imediatamente. Um sorrisinho involuntário surgiu em meu rosto conforme o conforto se disseminava por todas as partes de meu corpo, e por um momento, até ri de minha idiotice. Me ensaboei devagar, brincando com a espuma excessiva que o sabonete líquido formou sobre minha pele, e me enxaguei na mesma velocidade. Estava tão bom ali que resolvi estender um pouco mais minha estadia no box, mesmo já tendo feito tudo que devia fazer.

Quase adormeci por várias vezes, mesmo estando de pé, de tão relaxada que fiquei após algum tempo sob o poderoso jato mágico de tranquilidade. Quando minha consciência ecológica começou a pesar e eu me dei conta de que estava gastando litros de água potável para nada, decidi que era hora de terminar o banho, e assim o fiz. Me enxuguei vagarosamente e me enrolei na minha toalha, sentindo um leve frio percorrer minhas pernas descobertas. Toda encolhida e me preparando para a brisa gelada que encontraria em meu quarto devido à ausência do vapor presente no banheiro, abri a porta num surto de coragem, e a primeira atitude que tomei foi fechar a janela, sem nem olhar para qualquer outra coisa. Rapidamente, fechei os vidros, olhando distraidamente para fora, e por um momento, meus olhos se fixaram num detalhe bastante atípico.

Havia uma Ferrari estacionada bem em frente à minha casa.

Engoli em seco, reprimindo as lembranças que aquele modelo de carro me trazia, e respirei fundo, procurando acalmar meu coração subitamente epilético. Era apenas uma coincidência, certo? Nada mais do que aquilo. Àquela hora, Valéria devia estar se enroscando com Bruno no baile da escola ou em seu apartamento, mal se lembrando de minha existência, ou então pouco se importando com ela. Assim como eu não dou a mínima para a dela. É, isso aí.

Me virei de volta ao quarto, perguntando-me quando deixaria de ser tão idiota, e foi então que uma forma estranha se revelou sobre minha cama, brincando vagamente com um de meus bichinhos de pelúcia. Assim que meus olhos focalizaram o intruso, não houve tempo sequer para pensar antes que meu cérebro travasse completamente. Apenas pisquei duas vezes, em pane diante do choque entre o que eu esperava ver e o que realmente vi, enquanto o visitante inesperado virava lentamente a cabeça para mim, notando minha presença.

My Biology - VamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora