Cap. 6

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Um mês e meio se passou desde a primeira vez em que dormi na casa de Dalila. E a cada vez que eu voltava àquele apartamento, as coisas melhoravam, o que eu achava ser impossível. Nunca pensei que pudesse me sentir tão feliz e completa com alguém como eu me sentia com ela, e eu sorria até nas aulas da Augustin, que agora me ignorava total e completamente. Só me dirigia a palavra quando era estritamente necessário falar comigo, e me tratava com indiferença, o que por mim, podia continuar assim pelo resto dos meus dias.

- Antes do fim da aula, eu quero lhes informar que houve uma pequena mudança quanto a excursão à reserva ambiental de depois de amanhã. – Dalila disse, durante os últimos minutos da aula de biologia, sendo fixamente observada por mim, claro. – Como vocês já sabem, a reserva fica a algumas horas daqui, então pode ser que a excursão só acabe pouco antes do anoitecer, e como de costume aqui na escola, vocês serão acompanhados por dois professores.

Como o final do bimestre estava próximo, os professores que já tinham dado todo o conteúdo previsto para aquele espaço de tempo costumavam marcar excursões com as classes, e pedir relatórios ou trabalhos sobre o que aprendíamos no passeio. Eu já estava sabendo dessa excursão, portanto nem me alarmei muito, só não sabia que pequena mudança era essa. E se eu soubesse que a resposta pra esse mistério me renderia maus momentos, preferia continuar não sabendo.

- Eu e a professora Guedes estávamos escaladas para acompanhar a classe de vocês. – Dalila prosseguiu, me lançando um breve olhar conformado, que eu devolvi com um pouco de tensão. – Mas a diretora resolveu fazer uma pequena alteração. De acordo com a nova escala, eu e a srta. Guedes acompanharemos o primeiro ano na excursão deles, que será amanhã, e quem irá acompanhá-los na excursão de vocês serão os professores Monte e Augustin.

Acho que é agora que eu rodo a baiana, não é? Que papo é esse de ‘vou com as menininhas putinhas e o bando de testosterona ambulante do primeiro ano amanhã enquanto vocês sofrem na mão da pedófila nojenta e sem escrúpulos da Augustin? Se ela achava que eu ia deixar isso passar em branco, estava muitíssimo enganada.

- Podem ir para o laboratório, até semana que vem e boa excursão. – Dalila encerrou, enquanto todos se levantavam com as mochilas nas costas rumo à aula da Augustin. Eu arrumava lentamente meu material, de cara fechada, esperando até o último aluno sair e me deixar sozinha com Dalila. Assim que todos haviam saído, ela fechou a porta da sala e já começou a falar:

- Eu sei que você não gostou da notícia, mas…

- Mas o que, Dalila? - cortei, inconformada, sem nem me mexer na cadeira enquanto ela se aproximava. – Por que você não me contou antes?

- Eu não pude evitar, só fiquei sabendo disso hoje! – ela explicou, agachando-se à minha frente. – Você acha que eu fiquei feliz de não poder mais ir com a sua classe?

Soltei um suspiro chateado e fechei os olhos. Ela realmente não tinha culpa, dava pra ver que ela estava sendo sincera. Voltei a encará-la, me imaginando naquela reserva ambiental tendo que respirar o mesmo ar de Valéria Augustin por mais de uma hora. O pior pesadelo que alguém poderia ter.

- Me desculpa, acho que eu surtei um pouquinho. – murmurei, sorrindo sem graça e colocando as mãos em seus ombros. – Mas é que ia ser simplesmente ótimo passar o dia todo com você, e além do mais, você sabe que eu odeio a professora Augustin.

- É, eu já notei essa birra que você tem com ela. – Dalila riu, erguendo as sobrancelhas.

- Essa birra que eu tenho com ela? – repeti, apontando pro meu próprio peito, um tanto incrédula. – Ela é que tem birra comigo e não é capaz de me dar uma nota justa pelos meus relatórios, você sabe bem disso!

My Biology - VamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora