2 - Portas fechadas

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Sequestro

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Sequestro. Cativeiro.

As duas palavras ecoavam na mente de Mahara enquanto ela deixava o emaranhado caótico de vozes da ala para trás e cruzava o corredor ladeado de paredes geladas.

A ida do príncipe André para Alignis do Sul em missão de paz era a última tentativa frágil para forçar a rendição dos terroristas, libertar o povo oprimido pelo poderio do medo e das armas, e, talvez obter uma chance de unificar os dois territórios outra vez. Entretanto, aquele ato desmanchava a árdua construção tecida nas reuniões diplomáticas entre os dois países nos últimos meses.

Continuaremos esperando por uma solução, mesmo contra todas as esperanças?

Mahara recostou as costas à parede, a temperatura corporal contrastando com a temperatura da superfície lisa. Um discreto tremor se insinuou pelas pontas dos dedos, instigado por sombras de memórias que ela forçou para o vale escuro do seu interior. As luzes ameaçaram tremeluzir no teto.

Podia jurar que estava escutando a batida melancólica de How deep is your love, do Bee Gees, e não sabia se a canção provinha do rádio de algum soldado ou das cenas tons de sépia que habitavam o passado.

Com um agitar de cabeça, seguido de uma ordem mental incisiva, inspirou fundo, endireitou os ombros, ajeitou os cabelos e se recompôs, seguindo para o consultório onde trabalhava no quartel quando não estava treinando com o batalhão ou atendendo no Posto de Saúde da cidade próxima à base.

Como um túnel escuro e bloqueado, algumas portas deveriam permanecer sempre fechadas; pois, por mais que uma melodia carregasse uma efervescência de sonhos eternos, também escondia uma ressonância perturbadora, que jamais poderia ser entoada outra vez.


***************


O entardecer derramou sua palidez invernal pelo céu.

Mahara, focada nos atendimentos de rotina dos novos recrutas, mal notou a transmutação do dia. Com a mente imersa no trabalho, evitou imaginar o que estaria acontecendo com o príncipe e sua comitiva, reféns da facção terrorista que dominava o Sul há quase duas décadas.

"Mahara! Mahara!".

O grito atravessou as paredes do tempo. Ela checou o prontuário. Restava apenas mais um soldado, e seu turno estaria encerrado.

"Não corra! Fique! É perigoso!".

A porta do consultório se abriu, rangendo nas dobradiças, roubando os flashes de fogo, sangue, metal e fumaça que piscavam atrás de suas pálpebras. Girou nos calcanhares, e seu olhar se alternou entre o rosto do soldado e o nome contido na ficha.

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