5 - Onde há fumaça

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O soar ardido do alarme anunciou o fim do primeiro período de treinamento naquele dia

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O soar ardido do alarme anunciou o fim do primeiro período de treinamento naquele dia.

Os soldados deixaram aos poucos o campo. Após o anoitecer e um curto período de descanso, haveria mais provas. No céu, o azul do inverno se preparava para receber a vermelhidão do pôr do sol.

— Olha só o jeito dele — Miro falou para os colegas que andavam ao seu lado, em uma altura que Ricardo sabia que era para ele escutar. — Esses estrangeiros devem ter uma cabeça pirada. Tenho certeza de que o filho da puta me derrubou de propósito, não foi acidente porra nenhuma.

Ricardo permaneceu com o semblante impassível, prosseguindo sem pressa pelo seu caminho. Podia sentir a raiva crepitante de Miro por não ter as provocações rebatidas.

— Sempre tem algo errado na cabeça de gente assim.

Você não faz ideia, ele se limitou a manter as linhas da boca em uma reta inalterável, distante, por mais que curvas de satisfação ameaçassem surgir nos cantos. Como imaginou, Miro desistiu e seguiu para dentro do quartel com seu grupo.

Aproveitando o raro momento de solitude, Ricardo alterou sua rota. Queria averiguar melhor o perímetro, os campos e apreciar o silêncio. O ar resfriava seu corpo aquecido pelo treinamento.

Tocou a medalhinha que balançava na corrente sobre o uniforme; um lembrete constante do que não podia ser esquecido.

O pensamento se cortou, e o ritmo dos seus passos reduziu enquanto os olhos se enchiam com a visão inesperada da presença de Mahara.

Ela havia adormecido recostada ao tronco de uma árvore, com um caderno de desenhos no colo. Ricardo se aproximou em silêncio. Os cílios escuros dela caíam sobre as maçãs do rosto, demarcando um sono profundo causado pela exaustão. Não queria quebrar aquele descanso, mas estava frio para deixá-la dormindo ao relento.

Ele se agachou e tocou o ombro dela com cuidado.

— Ei. Sartori.

Ela se mexeu e abriu os olhos de súbito, puxando em um reflexo rápido uma pistola escondida embaixo da jaqueta. Ele foi pego de guarda baixa. Não imaginava que ela andava armada e que tinha um instinto apurado.

— Ei, ei, ei, sou eu. Ricardo. Está tudo bem.

Mahara olhou para os lados, parecendo assimilar aos poucos onde estava. O peito dela subia e descia velozmente.

— Desculpa. Você me assustou.

— Sem problemas. Seu instinto de defesa é bom.

De perto, ele conseguia ver linhas douradas no âmbar dos olhos dela, o tímido esboço de sardas no nariz, o castanho predominante do cabelo iluminado por algumas mechas tom de mel. Mahara se inclinou para trás, e o corpo de Ricardo perseguiu a sensação de proximidade de volta; uma vontade que ele travou antes que rompesse os próprios limites.

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