Prólogo

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Mudança era algo bastante estressante. Bom, isso segundo a minha mãe já que era a minha primeira vez me mudando de um país para o outro. Eu nasci e passei meus 20 anos na Argentina, nunca saí daqui mesmo morrendo de vontade de conhecer todos os lugares do mundo.

Eu não tinha uma vida monótona, eu posso dizer que desde pequena eu sempre fui muito agitada, sempre procurei fazer todas as atividades que minha escola oferecia, e apesar de amar todas, a minha preferida era a aula de dança.

Eu amava dançar, principalmente porque a dança foi o meu refúgio quando meu pai nos abandonou quando eu tinha apenas quatro anos.

Naquela época minha mãe costumava omitir a verdade, ela dizia que era comum casais se separarem mas que nunca iriam deixar de me amar. O que não era verdade, pelo menos não da parte dele.

Quando eu já tinha uma idade para entender as coisas, eu pedi pra ela abrir o jogo do que realmente havia acontecido. Acontece que ela descobriu que meu pai a traía com a secretária dele, ele por sua vez não negou e ainda jogou a culpa pra cima da minha mãe. Eu não via ele há 16 anos, desde que ele saiu de casa.

Ele nunca procurou me ligar, nunca mandou mensagem e também nunca se preocupou em depositar a pensão que era uma obrigação dele e apesar da minha mãe ter o direito de brigar por isso na justiça, ela preferiu deixar pra lá e eu não a julgo por isso.

Minha mãe sempre esteve lá pra mim e mesmo com todas as dificuldades que passamos, ela nunca deixou que isso a abalasse, pelo contrário, a cada queda que nós tivemos ela se levantava e começava tudo de novo.

Eu, por minha vez, procurava participar de todas as atividades da escola pra me distrair dos problemas de casa, nunca fui muito de ter vários amigos, na verdade eu tinha apenas uma, Melissa. Ela era a minha melhor amiga, irmã de outra mãe, nos conhecemos quando tínhamos cinco anos de idade, estudamos juntas, e até dividíamos o mesmo aniversário.

Sim, por incrível que pareça ela fazia aniversário um dia depois de mim e desde sempre nós fazíamos festas conjuntas, sua família era muito próxima da minha mãe -o que ajudou muito na nossa aproximação-, e eles nos ajudaram bastante quando estávamos precisando. Podia dizer que éramos uma grande família.

- Sof! Anda logo! - Melissa gritava do andar de baixo.

Revirei meus olhos fechando a última mala e olhei em volta do meu quarto. Eu iria sentir falta dali, mas estava na hora de eu começar uma nova etapa na minha vida. Pego as malas e a minha bolsa e desço encontrando Melissa e minha mãe sentadas.

- Deixa que eu te ajudo, filha - minha mãe disse se levantando pegando as malas da minha mão. - Não acredito que minha menina irá se mudar - ela fala numa certa melancolia e eu rio baixo já prevendo o choro que iria vim em seguida.

- Vai ser por um tempo, mãe, e você pode ir visitar a gente sempre que quiser - digo lhe dando um abraço forte.

- Isso, vá sempre nos visitar porque eu não vou sobreviver com a comida da Sofia não - Melissa fala arrancando risadas de todos nós.

- Eu cozinho muito bem, ok? Aquele dia foi apenas um acidente porque eu me distraí.

- Sabemos, sabemos.

Rio balançando a cabeça. - Vou sentir muito sua falta, mas prometo ligar todos os dias.

- É bom mesmo, mocinha, não mate sua mãe do coração, estou muito nova para isso - ela ri.

- Pode deixar - rio.

- Meus pais já estão aí fora - Mel diz enquanto pega sua mala.

Assinto e me despeço de minha mãe mais uma vez antes de sair de casa. Infelizmente ela não poderia nos acompanhar até o aeroporto por causa do trabalho, então os pais de Melissa se prontificaram a nos levar.

Depois das diversas despedidas e choros, Melissa e eu entramos no avião, nosso destino agora era Miami e nosso objetivo era vencer o concurso. Todo ano eles faziam um concurso anual de dança, eles selecionavam 50 vídeos e os que eles mais gostavam ganhava a viagem para lá.

O concurso acontecia em Miami, jovens de 15 até 22 anos mandavam seus vídeos dançando e os professores escolhiam o que na opinião deles, eram os melhores. Eu nunca me achei a melhor na dança, eu admito que não era péssima, eu era boa, mas eu podia melhorar muito mais.

Melissa dividia comigo a mesma paixão pela dança, ela diferente de mim, começou a se interessar por esse mundo aos 12 anos, e desde então nós sempre criávamos coreografias das nossas músicas preferidas.

Quando recebemos o email de que nosso vídeo havia sido um dos selecionados nós não conseguimos acreditar, a mistura de felicidade e nervosismo corria dentro da gente, iríamos dar um passo juntas e sozinhas. Agora era apenas nós duas.

Two WaysOnde histórias criam vida. Descubra agora