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P.O.V Prem

Após a morte dos meus pais eu passei a morar com minha tia que sempre foi como uma segunda mãe para mim. Ela supria todas as minhas necessidades tanto físicas quanto emocionais, claro que jamais ocuparia o lugar que meus pais deixaram vago em meu coração, mas amor e carinho nunca me faltaram.
Quando eu estava com 15 anos ela descobriu que estava com um problema grave no coração e foi aí que comecei a sentir meu mundo desabar.
Ao notar meu desespero e por não querer me deixar só, ela gastou todo o dinheiro que tinha e o que não tinha em tratamentos, tentando obter alguma melhora apenas para que pudesse "terminar de me criar" como ela costumava dizer.

Depois de certo tempo nem as cirurgias tinham resultado na situação em que se encontrava e isso nos deixava ainda mais temerosos com o que poderia acontecer.
Esses tratamentos foram eficazes por quase três anos, mas quando menos esperávamos o quadro de minha tia piorou significativamente de uma hora para outra. Passamos muitas e muitas noites no hospital, até que os médicos disseram que não teria mais jeito, a única coisa que poderiam fazer por ela seria mantê-la ali a base de remédios para que não sentisse dor ou incômodo enquanto esperávamos a hora em que ela partiria.
Eu fingia ser forte quando estava a sua frente, mas todas as noites após ela dormir eu chorava feito um bebê.
Era só eu e ela, não tínhamos mais ninguém.
Os amigos e familiares dos meus pais foram se afastando conforme o tempo foi passando e de certa forma me tornei insignificante para eles, sem tia Jane eu teria que continuar minha jornada sozinho.

Aquela noite parecia ainda mais fria do que de costume.
Parecia que sempre que algo ruim estava para acontecer o clima ficava instável, como se pudesse transmitir aquilo que eu estava sentindo. Minha tia mal falava por causa da dor constante que sentia, mas naquele momento sentiu uma necessidade absurda de falar comigo.

- Prem, eu preciso de pedir algo. - disse com sua voz que soava apenas como um sussurro.

- Pode dizer, eu faço o que a senhora quiser.

- Você já não é mais uma criança, então vou ser sincera com você. - Ela disse fazendo mais esforço a cada palavra que dizia, agora parecendo mais soluços do que sussurros pela falta de ar.

- Tia, pare de se esforçar tanto, só vai ficar cansada. Feche os olhos e durma um pouco, vai se sentir melhor quando acordar.

- Eu não vou mais acordar meu filho, eu quero que você me prometa que não vai desistir quando as coisas começarem a ficar difíceis.

Ao ouvi-la uma lagrima solitária rolou de meus olhos sem que eu percebesse.
Se tem uma coisa que aprendi em todos esses anos foi a permanecer sempre de cabeça erguida e guardar para mim todos os sentimentos ruins.
Segurei as outras lágrimas que estavam prestes a aparecer e engoli o nó que se formava em minha garganta. Nunca me imaginei passando por essa situação. Na minha mente essa cena só existia em filmes e livros.

- Pare de falar besteiras, você vai dormir, descansar e logo logo estará em casa novamente com sua mania de limpeza e fazendo seus bolos maravilhosos.

- Não faz isso, meu filho. Não entre em estado de negação, não vou durar muito tempo e você sabe disso. Só me prometa.

- Eu prometo tia. - disse

- Agora sim eu posso ir em paz. - Disse fechando os olhos.

Ela não morreu naquela noite se é o que estão pensando, nem no dia seguinte, nem no outro.
Eu queria poder dizer que ela se curou milagrosamente, mas isso tambem não aconteceu.
Uma semana depois o coração de minha tia que já estava fraco parou de bater.
Como quando meus pais morreram eu não me permiti chorar.
Lembram os parentes que eu disse terem me esquecido?
Então, todos os meus tios, tias, primos apareceram no velório dando os pêsames mesmo não se importando de verdade.

Ainda eram cinco horas da tarde quando cheguei em casa, tomei um banho quente e demorado tirando todos os vestígios de cemitério do meu corpo. Me deitei na cama com os olhos fechados e a mente vazia como se estivesse em modo vegetativo.
Coloquei os fones de ouvido e liguei minha playlist favorita esperando adormecer.

Alguns segundos depois de cair no sono eu estava no lugar de sempre.
Boun, o anjo com quem sonhava todas as noites se encontrava ali debaixo de uma árvore como de costume.

Ele estava bem diferente de quando nos conhecemos.
Suas feições mais maduras, os cabelos agora compridos e descoloridos, estava mais alto também.
Fiquei alguns minutos parado apenas o observando. Eu sei que minha vida estava caótica, mas ele me trazia um sentimento de paz.
Parecendo sentir minha presença ele abriu os olhos e me direcionou um sorriso. Aquele sorriso lindo que me desestabilizava.

Querem saber um segredo? Eu estava completamente apaixonado por aquele anjo carinhoso e brincalhão.
Aos 15 anos um pouco antes da minha tia descobrir sobre sua doença eu comecei a notar meu interesse por garotos e a falta de interesse em garotas. Fiquei em estado de negação por um longo tempo até que minha tia percebendo, me chamou para conversar e me disse que não havia nada de errado em gostar das pessoas do mesmo sexo.
Naquele dia ela me deu uma aula sobre orientação sexual me explicando que ser gay não era algo que se pudesse escolher. As pessoas nascem assim e de qualquer forma o amor é algo maravilhoso, que não se deve ser criticado de forma alguma.

Naquele mesmo dia quando adormeci comentei com Boun sobre o assunto e a conversa foi fluindo até que perguntei se ele era gay também e sua resposta me surpreendeu.

" Eu me apaixono por pessoas pequeno, não importa a aparência, os gostos, ou o órgão genital que elas carregam. Eu me apaixono pelo que elas são por dentro"

Aquela resposta me fez o garoto mais feliz do mundo e quando eu entendi o porque já era tarde demais.
Eu estava completamente apaixonado por alguém que era fruto da minha imaginação.

- Pequeno, veio cedo hoje.

- É, eu precisava te ver.

- Ela se foi, não é?

- Sim, eu não sei o que fazer. Tento parecer forte, mas estou com tanto medo.

- Eu já falei varias vezes que você não pode reprimir seus sentimentos. Você vai guardando tudo para si e quando vier a tona o impacto pode ser forte. Eu sei que você acha que não demonstrar seu sofrimento faz de você mais forte, só que as pessoas mais fortes e corajosas são aquelas que se permitem viver intensamente cada parte de sua vida, tanto felizes quanto dolorosas e convivem com seus medos. Pequeno, se permita sofrer. Extravasar vai te fazer bem.

Antes dele dizer as ultimas palavras as lágrimas começaram a cair sem que eu percebesse e quando vi estava chorando. Ele levantou e se aproximou de mim me puxando para um abraço fazendo com que eu chorasse em seu ombro.

- Eu disse para se permitir sofrer, mas não significa que tem que sofrer sozinho. Eu estou aqui por você e pode usar meu ombro sempre que quiser.

E foi então que desabei, depois daquilo trocamos poucas palavras, pois eu não conseguia parar de chorar.

Eu queria tanto que ele fosse real. Queria poder morar no seu abraço que era tão aconchegante quanto meu próprio lar.

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Mais um capítulo porque sou ansiosa e não aguento esperar.
Enfim, a fic flopou? Sim.
Eu vou parar de postar/escrever? Com certeza não.
É isso, até a próxima 🙆

My Angel ▪ BounPremOnde histórias criam vida. Descubra agora