Capítulo 1

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Até que ponto você pode aguentar a dor por um amor? Nunca imaginei que poderia ser tão machucada em uma relação, e não me refiro apenas a agressão psicológica

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Até que ponto você pode aguentar a dor por um amor?
Nunca imaginei que poderia ser tão machucada em uma relação, e não me refiro apenas a agressão psicológica. No meio do turbilhão de emoções que estou me afogando tento encontrar o lugar exato em que nos perdemos. Ou melhor, tento me lembrar de cada momento vivido sem que eu percebesse que tudo não passava de uma atuação da parte dele, um teatro de máscaras.

Eu sei que em algum momento do nosso relacionamento ele mostrou fragmentos do quão cruel poderia ser futuramente, mas era ingênua e apaixonada demais para perceber. Se eu valorizasse a razão mais do que a emoção teria notado que não há nada de protetor alguém praticamente te obrigar a trocar um vestido por achar que está curto demais, o que, de acordo com ele, ocasionaria a atração de olhares do sexo oposto ao meu.
Com o passar do tempo o seu lado obsessivo ficou mais intenso e a cada vez que eu o contrariava ele me agredia. Depois da agressão vinha o arrependimento, e meu erro era sempre perdoar. Aquilo já havia virado costume, ele chegava tarde do trabalho, bêbado e agressivo. Inúmeras vezes fingi estar dormindo, mas ele ficava descontrolado e me machucava mesmo assim. Não deveria ter me acostumado com aquela situação, mas, apesar do medo que sentia, ainda tinha esperança de que meu amor pudesse curá-lo - enorme equívoco.

Agora estou aqui, numa noite fria de outubro, jogada em uma rua escura qualquer e machucada demais para conseguir me mover. Não tenho noção da minha localização. Meu único medo é que ele consiga me encontrar e terminar o que começou há algumas horas. Minha vista está turva, meu rosto coberto de sangue, minha cabeça está latejando, como se estivesse sendo golpeada com um martelo, e sinto que minha consciência está se esvaindo.
Não sei o que farei a partir de agora. Deixei todos os meus pertences na casa que um dia foi nossa, não tenho em quem confiar nessa cidade e minha família mora em um estado longe demais daqui. E mesmo que fossem meus vizinhos, sei que não teria a quem recorrer. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que comentei com minha mãe sobre quando ele me deferiu um tapa por pensar que eu estava trocando olhares com seu colega de trabalho, nunca imaginei que alguém poderia ser tão apático como ela foi.

- Querida, escute bem o que eu irei lhe falar. Você é responsável por tudo o que está acontecendo no seu relacionamento. O Marco é um amor de pessoa, tenho absoluta certeza de que ele não faria isso sem ter um motivo. O melhor que você tem a fazer é pedir desculpa e obedecer seu noivo.

Recordo-me que mesmo não querendo acreditar nas palavras pronunciadas por minha própria mãe, tentei convencê-la de que a vítima da história era eu, mas ela não me deixou continuar.

- Ouça bem o que você está dizendo, Liz. Você tem noção da quantidade de garotas que gostaria de estar noiva de alguém como o Marco? Rico, bem-sucedido, lindo, educado e amoroso. Todo mundo o ama. Meu amor, eu sou sua mãe e lhe amo demais, jamais deixaria de lhe apoiar se tivesse certeza de que essa relação a prejudicaria de alguma forma. Então escute a voz de quem possui mais sabedoria, vá para casa e faça as pazes com ele.

Naquela tarde, eu soube que havia perdido minha família para o ilusionista chamado Marco Whilder.
Tento me mexer novamente, mas a dor que sinto no corpo é tão intensa que qualquer movimento se torna impossível. Mesmo assim, luto contra ela e me apoiando nas paredes do estabelecimento, a qual estava encostada, levanto vagarosa e dolorosamente. Meu cérebro, mais uma vez, alerta que devo sair o mais rápido possível daqui. Sei que na situação que Marco estava não vai sentir minha falta até o dia amanhecer, mas não posso arriscar minha vida ficando aqui para ser encontrada por ele. Dou um passo à frente e sinto uma rajada de vento contra meu corpo, intensificando automaticamente o frio que estava sentindo.

A rua está deserta e provavelmente já deve se passar da meia noite. Não tenho ideia de para onde irei, mas sei que devo procurar algum lugar seguro para me abrigar pelo menos essa noite. O grande x da questão é encontrar alguém bom de coração o suficiente para ajudar uma mulher sem documentos, com as roupas rasgadas e completamente machucada. Irão achar que sou uma moradora de rua. Na verdade, um morador de rua deve se encontrar mil vezes mais apresentável que eu.
Há alguns dias, quando planejava pedir o divórcio e sair de casa, nunca imaginei que seria da forma mais desesperadora possível. Estar no fundo do poço nunca passa pela cabeça de ninguém, nem pela do jovem universitário - prestes a se formar- que teme não conseguir um emprego decente na sua área. Quando eu estava fazendo faculdade, gostava de imaginar como seria meu futuro, trabalharia no que eu gosto e ainda arranjaria tempo para passar com minha família, o homem dos sonhos e meus três filhos. Parece que não passou de uma ilusão. Aos 26 anos, encontro-me na rua, morrendo de frio, após fugir de casa por ter sido espancada mais uma vez por quem um dia considerei meu marido.
Continuo caminhando, mesmo sabendo dos riscos a que estou sujeita. O bairro é escuro e essa cidade não é uma das mais pacíficas que já morei, sei o que pode acontecer com uma mulher quando anda sozinha a noite. E tenho que admitir, não estou em condições de ao menos tentar me defender.

Minha visão volta a ficar embaçada, porém, mesmo cambaleando não me permito cair no chão novamente, pois sei que se isso acontecer a probabilidade de eu conseguir levantar é quase nula.

De repente, um carro escuro vem em minha direção e meu coração erra uma batida. Não pode ser, penso. O motorista, que não consigo ver por conta do vidro escuro, diminui a velocidade e me acompanha vagarosamente. Estou desesperada, mas não sei o que fazer, não consigo me mexer e sei que nessa circunstância gritar por socorro será inútil.

A porta se abre. Um homem alto sai de dentro do automóvel e caminha na minha direção, não consigo me mexer e muito menos identificar a quem pertence a silhueta que se forma em minha frente. A única coisa que sou capaz de pensar é ele me encontrou, então tudo fica escuro e apago.

Um Encontro Inesperado (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora