Capítulo 23

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A ceia de natal foi um dos melhores momentos que aconteceram em minha vida desde o início desse ano

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A ceia de natal foi um dos melhores momentos que aconteceram em minha vida desde o início desse ano. A felicidade que senti se assemelha àquela do tempo em que a minha avó estava viva e juntos celebrávamos todas as datas importantes. Eu tenho certeza que naquela época a minha família era mais unida e muito mais feliz, mas em um piscar de olhos perdi todos aqueles que eu amava.

Enquanto todos sorriam das histórias que tínhamos para contar, comendo e bebendo à vontade, Adam mal tocou no prato. Perguntei se havia algo errado, mas ele apenas levou minhas mãos aos seus lábios e disse que não havia com o que eu me preocupar. É claro que não acreditei em suas palavras. No entanto, apesar de eu ter ficado um pouco triste por ele estar tão distante no nosso primeiro natal junto, decidi me juntar ao restante da família e deixar a empolgação das meninas me contagiar.

O almoço deu-se por encerrado quando Claire despejou sobre a mesa quase tudo o que havia comido durante a manhã, porque o restante ela vomitou no vestido da Ava, que levantara para tentar levá-la ao banheiro. Não sabia se ajudava Daphne a limpá-la ou se ria de Ava por estar em lágrimas pelo seu vestido caríssimo.

— Acho que vou descer com esse roupão, assim não corro o risco de ter mais um vestido arruinado.

Ava passara o restante da tarde no meu quarto para nos arrumarmos juntas, mas já perdi a conta de quantas vezes ela reclamou do acontecimento no almoço. Em todas as vezes eu não consegui conter o riso. Duvido que um dia eu encontre alguém tão dramático quanto ela.

— Você sabe muito bem que a Claire não participará do jantar de hoje — digo enquanto observo Anne terminar a maquiagem de Ava. Sim, ela havia conseguido uma maquiadora no dia em que as famílias se reúnem para um evento tão importante. Mas Anne disse que fica sozinha durante essa época do ano, por isso veio correndo quando Simon, depois de ser atormentado pela nem um pouco adorável irmã do Adam, pediu para ela o socorrer.  Preferi não perguntar o porquê para não parecer invasiva, e acho que Ava pensou da mesma forma.

— É sempre bom se prevenir.

Dou de ombros.

Ela levanta, aproxima-se mais ainda do espelho para olhar o resultado do trabalho de Anne, então dá uma volta pelo quarto como se estivesse em um desfile de moda.

— Como estou? — Indaga, parando em minha frente.

— Pronta para chamar toda a atenção da festa.

Ela gargalha. Entretanto, eu não estava sendo irônica, Ava está sempre tão bonita que é capaz de prender os olhares de todos ao seu redor.

— Eu ficaria muito feliz se isso acontecesse, mas o foco essa noite tem que ser você.

Ela caminha em direção ao Closet e eu vou atrás. Não é que eu não confie nela, mas Ava está sempre disposta a aprontar alguma coisa.

— Vamos ver o que você vai vestir — fala pensativa, analisando os vestidos em sua frente.

— Na verdade, eu pensei em usar o vestido que Adam me deu em Amsterdã.

Subitamente vira de frente para mim, empurrando-me até o banco acolchoado localizado no meio do closet.

— Pirou? — Ela grita, dando a entender que eu falei a coisa mais absurda do mundo.

— Ele tem um sign...

— Liz, querida. — Ela me interrompe, sentando do meu lado e envolvendo as minhas mãos com as suas — Simon deve surtar demais com você.

— Mas, Ava... — tento me defender, mas sou interrompida novamente.

— Quero que entenda uma coisa, você jamais deve repetir uma peça em eventos importantes.

— Eu não vejo problema nisso.

Desde o início do meu namoro com Marco me vi cercada por pessoas da alta sociedade, então sabia muito sobre o que Ava estava falando. Para a maioria dessas pessoas a aparência é mais importante do que o caráter. Mas nunca entendi por que pagar tão caro em um vestido que será usado apenas uma vez. Isso é um verdadeiro desperdício de dinheiro.

— Mas os convidados irão se importar.

Ajeitando o seu roupão, ela se volta para os vestidos novamente, analisando minunciosamente cada um.

Suspiro derrotada. Nada do que eu diga a fará mudar de ideia, além do mais, não quero envergonhar Adam.

— O que acha desse? — Ava pergunta, segurando um vestido longo de tom vermelho marsala em sua mão esquerda.

— É bonito.

— Ele é lindo, não bonito. — afirma, apertando a ponta do meu nariz — Agora venha, não temos muito tempo. Você tem que estar linda para falar com o meu irmão, mas isso tem que ser antes dos convidados chegarem.

Meu coração acelera assim que lembro do que irei fazer. Já criei inúmeros diálogos na minha cabeça, só espero que Adam siga o roteiro.

Enquanto Anne me maquiava, Ava colocava o vestido azul maya, com um decote simples, alças largas ombro a ombro e uma fenda que vai até o meio da coxa direita. Uma peça aparentemente simples, que se tornou grandiosa em seu corpo.

— Você está deslumbrante — elogio quando Anne termina de passar um batom da mesma cor do vestido que irei usar.

— Agradeço por pensar da mesma forma que eu — ela diz convencida.

Antes que eu formule alguma frase para provocá-la, ela me puxa da cadeira abruptamente. Às vezes eu penso que essa garota tem um parafuso a menos.

— Vista-o — ordena, estendendo o vestido em minha direção. E é exatamente isso que eu faço.

Olhar meu reflexo no espelho se tornou mais fácil conforme os dias foram passando, mas o meu cabelo quase sempre penteado apenas para um lado, com o objetivo de cobrir os fios ainda pequenos que crescem no lugar que precisou ser raspado e ponteado, me traz recordações que eu gostaria de esquecer. No entanto, sei que elas são necessárias para que eu consiga me encontrar.

— Você está quase mais linda do que eu nesse vestido — brinca Ava, quando percebe que o meu semblante está sério.

O vestido possui um decote que vai até um pouco acima do umbigo, além de deixar metade das minhas costas expostas. Ele passa longe do tipo de roupa que eu gosto de usar, mas estaria mentido se dissesse que não fiquei bonita nele.

— Admito que estou mesmo — sorrio, entrando no seu jogo.

Ficamos mais alguns minutos conversando amenidades quando, enfim, crio coragem para descer. Mas antes disso, agradeço a Anne pelo trabalho prestado e retiro o presente do Adam da gaveta da mesinha que fica ao lado da cama.

Adam sempre tem tudo o que quer à disposição, por isso não fazia ideia do que eu deveria comprar. Hellen disse para eu não dar uma gravata, pois ela já faria isso. Ava, atrevida como sempre, disse que eu poderia grudar um laço em mim mesma e me dar como presente. Contudo, foi a lembrança de Adam dizendo que os momentos são sempre mais importantes que me fez pensar em algo. Foi algo simples, mas tenho esperança de que ele irá gostar.

Ava me deseja boa sorte e eu sei que ela estava sendo sincera.

Suspiro e decidida desço cada degrau da escada, que parece ter se tornado dez vezes maior.

Adam deve ter escutado a minha aproximação, pois se aproxima e segura a minha mão desocupada, onde deposita um beijo delicado.

— Você está linda, ma chérie. Tenho certeza que ninguém conseguirá superar a sua beleza esta noite.

— E a sua beleza é tão grande quanto o seu patrimônio — elogio sorrindo.
Adam está trajando um terno preto feito à medida, realçando o seu corpo atlético. Tenho certeza que as mulheres não conseguirão evitar olhá-lo.

— Eu tenho algo para falar a você — digo de uma vez, antes que eu perca a coragem que passei dias acumulando.

— E eu tenho algo para lhe dar.

Ele retira uma caixinha de veludo preto do bolso do paletó, mas a minha atenção vai para as mãos trêmulas de Adam. Nunca o tinha visto assim antes, então suponho que o que ele dirá a seguir é de extrema importância.

Adam abre a caixinha, revelando uma encantadora pulseira dourada, com apenas um pequeno pingente de um pássaro voando.

A pedido dele estendo a minha mão, vendo-o colocar a joia no meu pulso. 

— Ah, Adam, não precisava. Você já me deu tantas coisas — digo admirando a simplicidade da peça. Ele realmente me conhece mais do que eu imaginava. Sabe que eu não aceitaria algo extravagante ou caro demais.

— Você merece muito mais — ele segura carinhosamente o meu queixo, inclinando-o em sua direção.

— Por que um pássaro?

— Sempre que olhar para ele quero que saiba que pode se sentir livre como um. Você tem asas, só precisa alçar voo. E eu estarei aqui para derrotar todos os predadores que tentarem impedir você de voar.

Sinto meu coração se aquecer e o meu amor por Adam transbordar em forma de lágrimas. Agora eu tenho certeza de que esperei demais para me dar uma chance de ser feliz com quem realmente me ama.

— Adam...
— Eu também quero que saiba que,  independente das escolhas que eu precisar tomar, é a você a quem meu coração pertence.

— Adam, eu...

—  Só me deixe abraçá-la, por favor — pede suplicante.

Apesar de estar confusa com as palavras de Adam, permito que ele me envolva em seus braços. Nunca alguém havia dito coisas tão bonitas, mas, de repente, senti como se esse momento fosse mais uma despedida do que uma declaração.

Somos interrompidos pelo som da campainha anunciando a chegada de algum convidado.

Adam deposita um beijo na minha testa, surrando em seguida um preciso ir.

Pensei que aquela havia sido a oportunidade perfeita para dizer que eu estou disposta a enfrentar todas as tribulações ao seu lado, mas deixei-a escapar pelos dedos.

Um Encontro Inesperado (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora