Capítulo 24

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Não conseguir criar coragem suficiente para olhar nos olhos da Liz em um momento que deveríamos trocar carinhos e risadas foi uma das piores coisas que já fiz em minha vida

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Não conseguir criar coragem suficiente para olhar nos olhos da Liz em um momento que deveríamos trocar carinhos e risadas foi uma das piores coisas que já fiz em minha vida. Já estava me sentindo um verdadeiro lixo humano por ter que esconder a verdade sobre Edrin e Marco, mas tudo piorou quando a desgraçada da minha secretária me obrigou a fazer uma declaração em público sobre o nosso relacionamento. Sinto náuseas só de ouvir essa palavra.

Meu corpo inteiro parou de funcionar quando o meu cérebro processou as palavras que haviam saído da boca dela. Eu não tinha escolha. Se eu não cedesse as suas chantagens, Edrin contaria a verdade a Liz e a Marco.

A vontade que eu tive foi de mandá-la para o inferno, correr para os braços da Liz e revelar tudo o que eu sabia acerca dos passos do seu ex-marido. Seria muito melhor do que partir o coração da pessoa por quem tenho um sentimento tão forte. Mas não poderia arriscar envolvê-la ainda mais nessa história. Marco sabe que eu sou próximo da Liz e vai me usar para atingi-la. Fica mais fácil lidar com a situação se eu for o foco dela.

Conheço bem a Liz para saber que se soubesse a verdade ela tentaria me impedir, ou, pior ainda, participar disso tudo. Por isso, achei que preferia partir seu coração a ver novamente os resultados que aquele filho da puta pode lhe causar, mas estava mentindo para mim mesmo. Assim que vi a sua expressão de decepção quando chamei Edrin ao palco comigo, percebi que não sou muito melhor do que o Marco.

Eu poderia tê-la evitado, ou até mesmo dito que não sentia mais nada por ela. Só que eu sou um covarde e nem isso eu consegui fazer. Continuei alimentando as suas expectativas em relação a nós dois, mesmo sabendo que ela não tinha certeza a respeito da decisão que iria tomar, mas esta noite eu cortei totalmente o laço que vínhamos tecendo. E o pior é que a dor no meu peito só aumenta porque eu sou o culpado por tudo, mas tenho que continuar com um sorriso falso no rosto, desfilando pelo salão, enquanto desmorono por dentro.

— Não é mesmo, querido? — Edrin fala, se esfregando cada vez mais no meu braço.

— O quê? — Pergunto, sentindo-me distante.

Ela sorri da forma mais cínica que conheço e responde:

— Estava falando para o senhor Philip e sua esposa como o amor que sentimos um pelo outro surgiu de forma tão inesperada.

Edrin passa as mãos pelos meus braços tentando agir de forma sensual, em seguida tenta ajeitar minha gravata como se fossemos realmente um casal.

Seguro sua mão com firmeza.

— Tão inesperado que eu ainda não acredito que isso está acontecendo. — Respondo , os dentes quase quebrando de tanto cerrarem uns nos outros.

— Se me dão licença...

Saio dali às pressas, ouvindo o som insuportável do encontro dos saltos da Edrin com o piso brilhante da minha sala de recepção. Tudo nessa mulher tem me irritado ultimamente.

— O que você acha que está fazendo, Adam?

— Me deixa em paz. — Respondo friamente enquanto caminho a passos apressados em direção à área da piscina.

— Você me envergonhou falando daquela forma na frente dos acionistas. — Ela fala alterando a voz, mas eu continuo a ignorar.

— Adam!

O que eu fiz para merecer isso? Por que eu não recebi um sinal do além quando essa mulher apareceu na minha empresa para tentar uma vaga de secretária? Eu juro que se houvesse qualquer oportunidade de voltar no tempo, eu a agarraria e jamais olharia primeiramente para os peitos volumosos de Edrin antes de ler o seu currículo.

Ela se mantém aos gritos tentado acompanhar os meus passos. Paro abruptamente, fazendo com que Edrin tombe em meu peito. Ela tenta se equilibrar, mas eu seguro seus pulsos com força.

— O que você quer, caramba? Já não fiz o que você tanto queria? — Indago impaciente.

— Eu quero você. — Responde choramingando, então inclina-se em minha direção para tentar me beijar.

Afasto-a de mim brutalmente, abrindo finalmente a grande porta de vidro que leva para a piscina.

— Tenha um pouco de amor próprio, Edrin. — Digo ciente de que ela continua me seguindo.

— Tudo pode voltar a ser como no mês em que nos conhecemos.

Sento em uma das confortáveis cadeiras postas próximas à piscina e Edrin senta ao meu lado. Vejo-a cabisbaixa, mas não consigo sentir nada além de pena.

— Edrin.

Ela me olha com os olhos brilhando e consigo ver esperança neles, mas jamais conseguirei me envolver livremente com ela de novo.

– Você é louca. — Afirmo.

Antes que ela tenha tempo de formular uma resposta o meu celular toca, livrando-me por um momento daquela companhia detestável.

Observo por alguns segundos a tela brilhante do celular que exibe um número totalmente desconhecido por mim. Não costumo atender chamadas assim, mas, por um instante, desejo que seja algo que me obrigue a sair desse lugar.

Sorrio sarcástico comigo mesmo. Quando eu iria imaginar que um dia a minha própria casa fosse se tornar tão sufocante?

— Alô?

— Boa noite, aqui é do Hospital St. Andrew. Falo com o senhor Ross?

Edrin se aproxima para escutar uma conversa que não lhe diz respeito. Com o cenho franzido estendo a mão em sinal de pare e ela obedece.

— Sim. Aconteceu alguma coisa?

—O Dr. Miles me pediu para telefonar urgentemente e avisar que o atual paciente Simon Mathias Becker Diehl — ela pronuncia o sobrenome de Simon erroneamente, mas essa não é a minha maior preocupação — acabou de entrar na sala de cirurgia em estado grave.

Engulo a bile que se forma na minha garganta. O meu estômago está agitado e digo mentalmente que preciso me manter firme, mas parece que o mundo está desmoronando e não estou conseguindo fazer nada para evitar.

— Senhor? — Ouço a voz distante da mulher que completou o dia de merda que eu estava tendo, então percebo que o celular está no chão.

Abaixo-me para pegá-lo. As minhas pernas fraquejam e me vejo jogando no chão junto com o aparelho.

Seguro o objeto com o máximo de forma que consigo, como se isso fosse fazer as minhas lágrimas evitarem de cair.

— Adam — Edrin pergunta preocupada.

— Diga à Lucy e à minha mãe para me encontrarem na garagem.

— Aconteceu alguma coisa? Quem era no tel...

— Apenas faça o que eu mandei, Edrin.

Rapidamente ela desaparece da minha frente e eu, mesmo nervoso com a notícia, dou um jeito de chegar à garagem sem ser visto por ninguém.

— Vai sair, senhor? — Thomas pergunta, as sobrancelhas levemente arqueadas.

— As chaves da BMW branca! — Ordeno enquanto caminho apressado em direção ao carro.

Prontamente ele faz o que eu mando sem mais nenhum questionário.

Apoio-me em um dos carros da minha coleção e tento controlar a minha respiração. Simon e eu sempre nos provocamos, o que fazia algumas pessoas duvidarem da veracidade da nossa amizade, mas só eu sei a importância que ele tem para mim.

Tento me convencer de que tudo não passa de um mal entendido, que a telefonista exagerou ao dizer que ele estava em estado grave. Preciso me agarrar a esse fio de esperança.

— Aconteceu alguma coisa, filho? — Minha mãe pergunta com a sua voz calma e educada de sempre, mas consigo perceber um leve resquício de preocupação. Estava tão perdido em pensamentos que não percebi a chegada das duas.

Helen toca em meu braço, um pedido silencioso de quem espera uma resposta.

— Ainda não sei. Ligaram do hospital onde Kevin trabalha para dizer que ele está na sala de cirurgia.

Minha mãe leva a mão até a boca em sinal de surpresa e ao mesmo tempo tristeza.

Lucy pronuncia um oh meu Deus enquanto se afasta um pouco, os olhos já marejados.

— O estado parece ser delicado. — Acrescento, o que aumenta a aflição das mulheres em minha frente — Quero acreditar que não passa de um trote, mas preciso confirmar se a notícia é verdadeira.

Helen e Lucy se consolam abraçadas e eu resolvo me juntar a elas.

Permanecemos em silêncio durante o tempo que Thomas leva para retirar o carro da garagem. Ele insiste em me levar, mas eu nego.

— Mãe, por favor, mande servir o jantar e ache uma forma de entreter os convidados. Diga que eu precisei sair para resolver uma emergência. — Dou as recomendações e ela assente devagar.

— Lucy, avise a Liz sobre o Simon. — Digo, percebendo o olhar de decepção da minha secretária quando toco no nome da mulher que se tornou uma filha para ela.

Ignoro o desconforto que sinto e beijo a testa de cada uma, entrando no carro e dando partida logo em seguida.

Tento não pensar em nada enquanto percorro o caminho até o hospital a toda velocidade, sem me importar com as multas que terei que pagar. Estaciono o carro de qualquer jeito e corro como um louco em busca de informações sobre o estado do meu amigo.

Sou encaminhado para uma sala de espera, onde os acompanhantes aguardam por notícias dadas sobre as cirurgias.

Suspiro cansado, apoiando as mãos na cabeça. Cada segundo parece uma eternidade, sinal de que a noite será longa. 

O Capítulo foi pequeno, mas já estou escrevendo o de amanhã.
Espero que tenham gostado.
Bjs🥰.

Um Encontro Inesperado (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora