Capítulo 2

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Apesar das poucas horas de sono que tivera durante a noite, quando o despertador tocou na manhã seguinte às sete horas, Eva levantou-se de um salto. Se havia coisa que ela não se dava ao prazer de fazer era ficar mais cinco minutos na ronha. Sabia por experiência própria que aqueles cinco minutos levavam a mais cinco, outros cinco e ainda lhe custava mais a sair da cama, sobretudo naqueles dias de inverno em que pareciam estar no Alasca.

Pedro, ao contrário da irmã mais velha, perdia meia hora com os seus só mais cinco minutos, acabando por se atrasar quase sempre. Menos naquele dia. Se Eva andara às voltas toda a noite por culpa de Vicente, Íris invadira a mente de Pedro sem ele querer e nunca mais de lá saíra.

- Já acordado, mano? – Observou Eva, sentando-se à mesa.

O rapaz resmungou entre dentes qualquer coisa que ela nem conseguiu perceber.

- Não lhe digas nada. Parece que acordou com os pés de fora. – Disse Susana, juntando-se a eles.

- Hmm... porque será... - Brincou Eva, piscando o olho à irmã mais nova.

- Podem deixar-me em paz, se faz favor? Já chega desse assunto. – Pedro exaltou-se, levantou-se da mesa e deitou o resto dos cereais pelo ralo do lava-loiça.

As raparigas nada disseram, limitaram-se apenas a olhar uma para a outra e a erguer o sobrolho.

-Deixa-o estar. – Disse Eva, quando a irmã se preparava para ir atrás dele. – Não vale a pena. Dá-lhe algum tempo.

- Foi uma brincadeira, não era suposto ele ficar assim.

- Vai acabar por lhe passar, não te preocupes. – Disse Eva, sorrindo-lhe.

Eva tinha razão. Apesar de não ter visto mais o irmão antes de ele sair para a escola, Susana encarregara-se de lhe enviar uma mensagem mais tarde, num dos intervalos das aulas, a informá-la que o mau humor de Pedro desaparecera no exato momento em que Íris entrara pelo portão da Escola Secundária e lhe dirigira um sorriso de bom dia.

Sorriu satisfeita para o telemóvel.

Por seu lado, Vicente deixara de dar notícias desde a discussão do dia anterior, e sabia Deus o quanto Eva detestava ser ignorada. Os irmãos tinham razão; ela não sabia desistir, mas também merecia algo melhor que aquela relação que, pensando bem, desde o início estava condenada ao fracasso. Só que nessa altura, Eva tinha apenas 20 anos, tão cega de amor que não viu a verdade à frente dos seus olhos. Mas em três anos ela cresceu, traçou novas metas, sonhou novos sonhos e quis outras coisas. Vicente não, era sempre o mesmo e sê-lo-ia sempre. No fundo, ela sabia que por mais promessas que ele lhe pudesse fazer e por mais vezes que ela pudesse cair nesse erro, ele nunca mudaria realmente. E era essa certeza que a magoava mais. Talvez ela própria não fosse o suficiente para o fazer querer ser melhor, ou talvez ele não quisesse mudar.

Fosse como fosse, Eva sentia-se a chegar ao ponto de rutura, ao ponto de exaustão, onde não dá mais para suportar, onde apetece abrir as mãos e deixar a areia cair por entre os dedos.

Mas agora tinha outra preocupação; Pedro e Íris num almoço a três. Ainda não tinha entrado no restaurante e já se sentia pau-de-cabeleira entre aqueles dois. Contudo, para sua surpresa, ou nem tanto, Pedro estava atrasado e Íris estava sozinha numa mesa onde caberiam quatro pessoas, entretida a olhar para lá da grande janela envidraçada que dava para a rua. Dali, Íris poderia ver Pedro chegar, pensou Eva.

- Então? Deixa-me adivinhar; o meu irmão está atrasado. – Brincou Eva, cumprimentando a amiga.

Íris sorriu. – Óbvio!

Enquanto o rapaz chegava e não chegava, houve tempo para ambas colocarem a conversa em dia.

- Estou a atrofiar completamente com o projeto final do curso. – Confessou Íris com um certo desespero nos olhos. – O tempo a terminar e eu sem saber o que fazer.

Quando o Coração Não PerdoaOnde histórias criam vida. Descubra agora