Capítulo 4

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Depois do aniversário de Eva, agosto chegou num piscar de olhos e trouxe consigo o aniversário dos irmãos Pedro e Susana, que tinham um ano e alguns dias de diferença.

Nesse meio tempo muita coisa aconteceu na vida de Eva e restante família. As aulas terminaram, os irmãos estavam de férias a divertir-se enquanto ela continuava o seu trabalho no gabinete de arquitetura, novamente na companhia das estagiárias de verão do ano anterior, Íris e outra rapariga que, estando no 12.º ano, ainda não sabia bem o que estava ali a fazer no estágio. Talvez nem soubesse que raio fazia naquele curso no geral.

Conviver com Íris diariamente ajudou Eva a perceber os sentimentos dela em relação ao seu irmão Pedro. Esperava, secretamente, que eles acabassem por se entender, embora temesse o facto de a amiga ser meio desligada emocionalmente. Não queria que o seu irmãozinho se magoasse. Ele próprio era meio desligado do mundo, mas no fundo era meigo e atencioso e só precisava de alguém que fizesse por merecer ter o melhor de si. Conhecia-o bem demais. Sabia que por baixo daquela faceta de durão se escondia um coração mole cheio de amor para dar, mesmo que ele ainda fosse muito novo para perceber isso e para se comprometer a sério com alguém. Contudo, ainda que temesse que entre Pedro e Íris as coisas corressem mal, decidiu deixar o assunto por conta do destino e por conta deles. Já eram crescidos para tomar as suas próprias decisões e para saberem o que sentiam um pelo outro. Que Deus os ajudasse...e a ajudasse a ela própria. Não queria de todo tomar partido entre o irmão e a amiga, eles que se entendessem.

Era nisto que pensava enquanto olhava para Íris por cima dos óculos que recentemente tivera de começar a usar.

A amiga estava tão concentrada no projeto que tinha em mãos que nem deu por Eva a observá-la. Decidiu guardar para si os seus pensamentos e não se intrometer na vida amorosa deles.

Esfregou os olhos, cansada. Estava quase a dar por terminado o dia de trabalho quando o telemóvel deu alerta de nova mensagem. Ao ver o remetente arregalou os olhos, surpreendida, e o seu coração parou. Era de Vicente. Cerca de três meses depois, ele dera sinal de vida. Logo agora que estava tudo a recompor-se na vida dela e estava a aprender a viver sem ele.

Olá. Tudo bem? Podemos falar?

Pousou o telemóvel em cima da secretária, junto do computador e dos óculos. Ainda com o coração a bater fora de ritmo, levou as mãos à cabeça e respirou fundo. Que raio queria ele? Pior, o que é que ela deveria fazer? Todos os conselhos que lhe tinham sido dados pelos irmãos, por Íris e pelos pais, vieram-lhe à cabeça. Ele não a merecia, nunca a merecera. Ignorou-a no seu aniversário, não lhe dirigiu uma palavra que fosse durante três meses e agora lembrava-se que afinal ela existia? Coisa boa dali não vinha, disso ela tinha a certeza.

Dentro da sua mente relembrou as longas conversas com a irmã Susana e tudo o que ela lhe dissera, mesmo assim o seu coração bateu mais rápido ao receber aquela mensagem. Ele ainda a afetava, embora ela julgasse que não.

Era estúpida, ela sabia-o, e sabia ainda melhor que o que estava prestes a fazer tornava-a ainda mais estúpida. Contudo, arriscou. Tinham razão quando diziam que ela não sabia quando desistir. Pegou no telemóvel, abriu novamente a mensagem que recebera de Vicente e clicou em responder.

Olá. Tudo, e contigo? Sim, diz!

Ainda a mensagem não tinha chegado ao destinatário e já Eva se tinha arrependido, mas estava curiosa com o que queria ele tanto falar com ela.

Já passava da hora de fechar o gabinete e de repente deu conta que estava sozinha. Naqueles escassos minutos todos se tinham ido embora, incluindo Íris, sem ela dar por isso, tão confusa e absorta nos seus pensamentos estava.

Quando o Coração Não PerdoaOnde histórias criam vida. Descubra agora