45. Flashback.

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"Mãe to saindo" — Aviso mamãe que está preparando o café da tarde para o papai que chegará em breve.

"Ok querido, você viu sua irmã?" — mamãe me encara.

"Acho que está na casa da Rachel" — pego um copo de água e bebo.

"E você vai aonde?" — ela me olha com um olhar sapeca.

"Sair com Rachel" — ela ri e balança a cabeça. Mamãe sabia que ela estava ficando com o Chase.

Nos encontramos no parque. Ela estava linda mesmo parecendo um balãozinho de tanta roupa. Vestia uma jaqueta amarela e touca branca.

"Você está reluzente" — digo mexendo com ela.

"Ah obrigado. Amarelo vem sendo minha cor preferida a alguns dias" — ela sorri — "amarelo é a cor da felicidade, sabia?" — nego e ela concorda.

"O que vamos fazer?" — pergunto a ela.

"Você já andou de patins no gelo?" — ela aponta para o rio congelado onde algumas crianças estão patinando, eu nego e ela me puxa pelo braço — "você vai amar. Levamos Lis aqui também, quando ela veio  na primeira vez" — esperamos em uma fila gigantesca, às 15h conseguimos chegar no início da fila. Alugamos os patins e temos direito a 45 minutos.

Depois dos minutos que tínhamos, agradeço por ela ter me trazido aqui. Rimos e caímos muito. Eu havia me livrado dos patins rápido, enquanto Rachel desamarrava o cadarço, um garoto alto se aproxima de nós.

"O encontro deve estar ótimo, não é Rachel?" — ele ri e sai em seguida, olho para Rachel que está tremendo. Me agacho a seu lado e tiro seus patins.

"Tá tudo bem?" — ela não me encara e fica em silêncio, encaro novamente aquele funcionário, gravo suas feições em minha memória, ajudo-a se levantar e vamos até um banco no quiosque no meio da praça. Ela ainda está em silêncio, não ouso chamá-la.

"Miguel" — ela diz fraca eu a encaro — "desculpa. Ele é meu ex" — ela diz e engole em seco.

"Reencontros com ex deve ser péssimo mesmo, só imagino como seria se eu desse de cara com Anny" — sorrio e ela ainda está paralisada.

"Como era seu relacionamento?" — ela agarra o próprio corpo e eu me aproximo mais dela.

"Era muito bom, ficamos quase um ano junto" — digo e suspiro.

"Te incomoda falar disso?" — nego — "por que vocês terminaram?"

"Ela sofria de uma doença terminal, fibrose cística. Era muito complicado, duas vezes por mês ela tinha crises de ar, corríamos para o hospital quase sempre, mas não foi por isso que terminamos, óbvio que não, eu cuidaria dela para sempre" — dou um pequeno sorriso — "eu estava fazendo um curso no Canadá, por um ano. Nos conhecemos na escola, nos aproximamos e começamos a namorar. Quando meu curso terminou nós dois decidimos que era melhor terminar. Eu estava ciente que talvez ela não tivesse tanto tempo, e queria deixar ela aproveitar o máximo sua vida, eu era um pouco protetor demais, ela queria fazer tantas coisas e eu a restringia de quase tudo porque achava perigoso. A saúde dela é frágil, mas para Anny nada importava" — sorrio — "ela era aventureira, tem uma lista de coisas a fazer antes da morte" — baixo a cabeça e aperto meu joelho, Rachel se aproxima de mim e apoia sua cabeça em meu ombro — "talvez agora ela tenha feito quase tudo".

"Se resta tão pouco tempo, não era melhor vocês aproveitarem juntos?" — ela diz olhando distante.

"Eu coloquei isso na mesa pra ela, ela tinha uma vida fixa lá, faculdade, irmão, trabalho. Eu disse que trabalharia e daria um jeito de me sustentar, ela alegou que a vida no Canadá era muito cara. Eu acho que ela estava se sentindo um pouco sobrecarregada e pressionada sabe, eu a protegia demais e ela, ela não precisava de proteção. É um botão que floresceu" — eu sorrio, gosto de lembrar o quão independente ela é.

Meu último pedidoOnde histórias criam vida. Descubra agora