Sonho

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— Querido, olhe para mim.

Jimin levou mais do que cinco segundos para obedecer ao comando. O céu azul sem nuvens o hipnotizava e o fazia ignorar tudo ao seu redor, até mesmo a voz conhecida que dominava seus pensamentos alguns anos antes. Ao abaixar sua cabeça, o ex-soldado não olhou para o lado imediatamente. As folhas das árvores do parque estavam mescladas em tons de verde e marrom, indicando a aproximação do outono. Balançavam de um lado para o outro, eram carregadas com o vento, mas ele não conseguia ouvi-las. Era como se estivesse dentro de uma caixa oca. Jimin conseguia ver tudo, mas não ouvia os sons que as imagens faziam.

Sua mão, repousada sobre sua coxa, sentiu o toque de dedos gelados e macios em sua pele, mas não os rejeitou mesmo com o susto que havia tomado. O coração de Jimin começou a bater rápido. Ele conseguia ouvi-lo, mas ainda não ouvia as folhas se mexendo. A pessoa sentada à sua direita, que Jimin já sabia bem quem era, não precisou chamá-lo de novo para receber sua atenção. O ex-soldado virou a cabeça para o lado, lentamente, e segurou a respiração dentro de seus pulmões.

Eunju estava séria. Jimin costumava vê-la com um sorriso largo no rosto, que mostrava seus dentes brilhantes e formava pequenas rugas ao redor de seus olhos, e não daquele jeito. Seus olhos estreitos pareciam menores, como se estivessem o analisando, como se estivessem atentos. Seus lábios um tanto cheios e retos estavam levemente curvados para baixo, fazendo a agonia no peito de Jimin crescer. Por que ela estava decepcionada? Era sua esposa, não podia estar decepcionada. Significava coisa ruim.

Espera.

Eunju não era mais sua esposa, certo?

— Sim, Eunju?

— Nós não tivemos a oportunidade de conversar sobre isso desde que nos separamos. — Eunju suspirou. O som era mais agudo do que sua própria voz, e sempre, sempre deixou a pior das sensações no peito de Jimin. Delicadamente, a mulher colocou a mecha de cabelo comprido que caía sobre seu rosto atrás de sua orelha. — Sabe como isso faz mal para mim.

— Eu sei. — Jimin concordou. Sua mão viajou até chegar perto do rosto da mulher, hesitando por alguns segundos, até ele próprio passar os dedos por trás da orelha dela, querendo manter a mecha de cabelo em seu devido lugar. Eunju encarou seu próprio colo. — Você sempre queria resolver as coisas com diálogo.

— Então você entende como isso tudo aconteceu porque você não estava por perto. — Eunju olhou para cima novamente com um pequeno sorriso triste em seu rosto. As adoráveis rugas não contornavam seus olhos. No entanto, algumas lágrimas os deixavam ainda mais brilhantes que o normal. — Você não estava aqui quando aconteceu, querido. Como nós íamos conversar se você não foi um bom marido, não esteve presente?

— Me desculpa. — Jimin murmurou, sentindo suas próprias lágrimas se formarem em seus olhos. Acima dele, o céu já não era tão azul. Nuvens cinzentas se aproximavam com velocidade, e o vento, se pudesse senti-lo, tornava-se mais frio. As folhas das árvores começavam a cair aos poucos. O cenário já não era mais tão belo. — Eu sei que foi um erro meu não estar por perto. Eu sei que eu deveria ter me dedicado mais.

— Foi natural que eu me afastasse, Jimin. — Eunju soltou outro suspiro, dos agudos. Uma única lágrima dramática escorreu por suas bochechas cheias, e Jimin sentia como se mal conseguisse respirar direito. — Eu não tive outra escolha.

— Eu sei que não. — Jimin sentia seus lábios tremendo, sentia a ponta de seu nariz ardendo, e sua garganta fechava aos poucos. Seu coração estava desgovernado, seus pulmões doíam. Eunju se levantou, mostrando que estava indo embora, e uma onda enorme de desespero quebrou em seu peito. — Me desculpa, foi tudo culpa minha, eu sei–

De Volta à Primavera • yoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora