E a pessoa que amamos, sem que percebamos..

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Carlos saiu do banho e viu a notificação de mensagem e a ligação perdida de Tiago, ele abriu e a mensagem havia sido apagada, ele tentou ligar de volta mas o telefone estava desligado, ele achou estranho, então tentou o outro celular, que era usado somente para trabalho, chamou até cair na caixa postal. Preocupado, ele se vestiu e saiu para ir até a casa dele, eles moravam no mesmo prédio. Em frente a porta de Tiago ele bateu várias vezes e ninguém respondeu, ele tinha uma cópia da chave e então resolveu entrar, ele estava com medo de ter acontecido algo à ele, a casa estava bagunçada, mas não era novidade, ele ouviu o barulho da máquina, avisando o fim da lavagem das roupas. Carlos pensou, que se ele deixou a máquina ligada, significava que ele não tinha a intenção de demorar, ele abriu a geladeira, não tinha nada, com certeza ele foi ao supermercado, era o único dia da semana que eles podiam ir fazer compras. Carlos resolveu esperar ele voltar, concluiu que ele devia estar demorando porque o mercado estaria cheio, por ser sábado à noite. Enquanto esperava, ele resolveu estender a roupa dele, depois de finalizar, ele foi para a cozinha e lavou as vasilhas sujas, Tiago era bem desorganizado com as tarefas, sempre deixava para depois, e no sábado ficava atolado e nem conseguia sair pra se divertir, quando ele chegasse, não teria desculpas para não ir a um barzinho com ele. Levou quase uma hora para limpar toda a casa, ele no começo pretendia só limpar a cozinha, mas enquanto esperava, foi limpando e quando viu tinha acabado, ele gostava de limpar. Ele olhou as horas, nem sinal de Tiago, tentou ligar de novo e continuava caindo na caixa postal, preocupado ele saiu, pegou o carro e foi até o supermercado que costumavam frequentar, estava fechado, ele deu uma volta pelo bairro e encontrou um aberto, entrou para procurar por ele, mas nem sinal dele, foi até um dos funcionários mostrou a foto de Tiago e perguntou se ele o havia visto por ali hoje.
_Não reparei, passam muitas pessoas o dia todo.
_Entendi, obrigado mesmo assim, boa noite.
_Por nada, boa noite.
Carlos achou tudo muito estranho, Tiago não era de fazer isso, e era improvável ele ter ido em outro bairro só para fazer compras, ele voltou para casa dele, talvez eles tivessem se desencontrado pelo caminho. A casa estava do mesmo jeito e sem sinal de Tiago, ele voltou para sua casa, de repente ele se lembrou de Tiago dizer, que tinha a sensação de estar sendo seguido, mas quando ele procurava, não encontrava ninguém fora do comum. Com essa lembrança ele ficou com medo de ter acontecido alguma coisa, se ele não voltasse em 1 hora, ele iria ligar para a polícia.

_Mas como assim tenho que esperar 24 horas para relatar um desaparecimento?
_É o procedimento senhor, pois ele pode ter passado em outro lugar sem avisar antes ou simplesmente fugido. Só quando é alguma criança o desaparecimento é acionado imediatamente.
_Mas eu estou afirmando que ele não faria isso, ele me mandou sua localização, e uma mensagem que foi apagada logo em seguida, ele havia me dito que sentia estar sendo seguido, temo que algo de ruim aconteceu.
_Eu entendo que esteja preocupado com seu amigo, porém é o procedimento, se em 24 horas, ele ainda não estiver aparecido, o senhor poderá relatar o desaparecimento.
_Eu entendo, obrigado!
Ele desligou desanimado, sabia que era inútil insistir mais, mesmo assim, ele ficou com raiva, nunca havia imaginado em como era horrível para as famílias, a preocupação e a ansiedade que sentiam. Tiago era como seu irmão, ele não queria pensar no pior, mas passava pela sua mente todo tipo de situação horrível, seu telefone vibrou em sua mão o tirando desses pensamentos, com o coração acelerado ele olhou para a tela, era Teo, sua esperança que fosse Tiago se esvaiu, ele ficara tão preocupado, que havia esquecido completamente de ligar para ele.
_Oi.
_Oi vida, você não respondeu minhas mensagens, fiquei preocupado.
_Eu me esqueci completamente me desculpa, eu estava no telefone com a polícia.
_Como assim? O que aconteceu?
Sua voz tremeu, e seus olhos marejaram.
_Eu não consigo encontrar o Tiago em lugar algum, e faz horas que eu ligo e o telefone dá desligado.
_Tem quanto tempo que ele sumiu?
A preocupação nítida em sua voz, ele sabia o que Tiago significava para ele.
_Eu não sei, ele tinha me ligado eram um pouco mais das 19 horas, mas eu estava no banho e não vi, ai ele mandou a localização dele e uma mensagem, e quando eu fui ver, havia sido apagada, e quando eu liguei o celular já estava desligado.
_A bateria pode ter acabado, ou ele foi a algum lugar.
_Não! Eu também achei isso, e quando fui até a casa dele, a máquina de lavar estava ligada, geralmente no sábado ele sempre faz as tarefas de casa, e vai ao supermercado. Eu até limpei a casa dele para ele não ter desculpas para não ir beber comigo. E quando eu acabei a limpeza, ele não tinha voltado, fui em todos os mercados por perto e nem sinal dele, eu esperei até agora e ele ainda não voltou, estou preocupado, porque me lembrei de ele ter falado que parecia qual alguém o estava seguindo.
_Eu já estou a caminho daí, tenho certeza que nada de ruim aconteceu, vamos ligar para todos os hospitais e delegacias da região, e checar se alguém parecido deu entrada, não perca as esperanças, vamos encontrar ele bem, e vamos rir disso depois.
_Obrigado amor.
_Tente se acalmar, e não ficar pensando no pior, vou dirigir agora, logo estarei ai.
_Tá bom, até logo.

Tiago recobrou a consciência confuso, meio grogue, a cabeça latejando, teve um sonho muito real, massageou a cabeça olhando ao redor e pra seu espanto, viu que não tinha sido um sonho, ele estava em um quarto enorme que não conhecia, deitado na cama de aparência cara. Ele saiu da cama desesperado procurando em todos os cantos seus pertences, não havia nem sinal de nenhum dos homens que o trouxe. Ele foi até a janela, estava no segundo andar e haviam vários homens vestidos de terno no gramado lá embaixo, ele reparou melhor e viu grandes armas penduradas nos ombros deles. Chocado, ele se perguntou o que eles queriam com ele, não se lembrava de nada que havia feito de errado, qual era a intenção deles o sequestrando, ele não tinha nada de especial, era órfão, e ninguém pagaria resgate por ele. Nada do que pensava fazia sentido, então desistiu de tentar entender, e foi testar a porta, para sua surpresa ela abriu, achou isso tudo muito estranho, começando por ele não ter sido amarrado e nem amordaçado, ou a pessoa por trás disso estava confiante demais que ele não tentaria fugir, e nem se deu ao trabalho de o amarrar, ou ele estava sendo observado e quisessem que ele realmente tentasse fugir. Com esse pensamento Tiago procurou por câmeras escondidas, não conseguiu encontrar nenhuma, mas resolveu sair mesmo assim. Ele colocou a cabeça para fora do quarto e olhou de um lado a outro do corredor e não viu ninguém, com o coração batendo loucamente e a adrenalina em alta, ele saiu e fechou a porta com cuidado, não queria fazer barulho, quem sabe ele conseguiria pelo menos, achar um telefone, ou descobrir onde estava. Bem lentamente ele foi pelo lado direito, ele parecia estar no quarto que dava para um quintal, e por ali teria 100% de chance de perder a vida, então decidiu pegar o caminho contrário, haviam várias portas no corredor em que estava, se houvesse qualquer telefone, poderia estar atrás de alguma delas. Ele foi abrindo devagar porta por porta, torcendo pra não ter ninguém dentro. Ele espiou porta por porta, mas não encontrou nada de útil, ele chegou ao final do corredor, onde havia uma escada enorme de mármore que descia ao primeiro andar, ele parou um instante e escutou uma música tocar ao longe. Abafado por uma porta fechada, o som vinha do corredor que ficava do outro lado da escada, ele achou melhor evitar procurar por lá, e descer direto as escadas, não viu ou ouviu ninguém por perto, estava mais ansioso por não ver ninguém, temendo ter caido em uma armadilha. Quase correu até a porta que ficava em frente a escada, olhou pelo vidro lateral, e viu dois dos homens armados, vigiando a porta de entrada, eles não pareciam ter o visto, se escondeu debaixo da escada, enquanto pensava pra onde deveria ir agora. Ele poderia ficar escondido até surgir uma brecha na segurança, ou ele escolhia um dos caminhos com o risco de ser pego tentando fugir. Respirando fundo, para acalmar os nervos, ele saiu do esconderijo e andou devagar até um corredor lateral, não ia se esconder pra sempre e nem esperar, pelo o que for, que eles tenham planejado fazer com ele. Ele se perguntava o tempo todo, porque não havia ninguém o perseguindo em nenhum momento, não conseguia achar uma resposta, mas poderia pensar nisso, quando estivesse bem longe. Ele chegou a uma porta, abriu e se viu em uma sala de jantar bem extravagante, no centro dela estava uma mesa de madeira de aparência antiga, com cadeiras para 10 pessoas se sentarem, nos cantos haviam poltronas bem robustas, e estantes com porcelana e prataria brilhando de bem polida, Tiago ouviu barulho de panelas e pessoas conversando, vindo de uma porta vai e vem, que ficava no corredor do outro lado da sala, ele espiou pela janela e viu a cozinha onde haviam várias pessoas de uniforme preparando o jantar. Ele olhou por todo o cômodo, e do outro lado ele viu um dos cozinheiros abrir uma porta, tempo suficiente para enxergar a paisagem lá fora, bingo, Tiago achou uma saída. Um funcionário veio em sua direção, e ele se escondeu atrás de uma planta bem grande que estava por perto, ele observou o homem indo com uma bandeja nas mãos até a sala de jantar, provavelmente logo o jantar seria servido, e sua chance de escapar seria menor, ele notou uma pequena porta ao lado de onde estava escondido, ele esperou o homem entrar no cômodo, e entrou rapidamente pela porta ao lado, acendeu a luz e viu um armário com várias portas menores e alguns nomes escritos, ele tentou abrir alguns mas estavam trancados, ele viu um que não tinha nenhum nome escrito, ele testou a porta, e abriu facilmente, espiou lá dentro e havia um uniforme da cozinha masculino, Tiago o pegou rapidamente e começou a se vestir, finalizou com o avental e olhou no pequeno espelho que ficava na porta do armário pra ajeitar o cabelo, ele deixou suas próprias roupas dentro do armário e fechou a porta, ele saiu do quartinho e foi em direção a cozinha, tentou demonstrar confiança ao andar, assim que entrou, os funcionários olharam para ele com curiosidade, se perguntando quem era ele, mas deram de ombros e voltaram ao que estavam fazendo, para sua sorte acharam que ele devia ser algum funcionário novo, ele atravessou a cozinha, em direção a porta que tinha visto, viu uma mulher carregando um saco pesado com dificuldade, e foi até ela.
_Pode deixar que eu levo para você. Ele abriu um sorriso pra ela, e pegou o saco de suas mãos.
_Obrigada. Ela pareceu aliviada e surpresa quando viu o homem bonito na sua frente oferecendo ajuda.
Ele carregou o saco de lixo e foi até a porta, com certeza ela não seria vigiada. Ele saiu pela porta e realmente não tinha nenhum dos homens armados do lado de fora, ele olhou de um lado a outro, ele parecia estar bem longe da cidade, ali parecia ser uma fazenda, não se via nenhuma luz acesa, era um breu total, não parecia haver sequer uma casa vizinha, seria difícil ele conseguir andar todo o caminho de volta, e mesmo que ele soubesse o caminho, com certeza a chance dele ser recapturado eram altas, ele tentou pensar em uma alternativa.
_Acho melhor desistir.
Tiago se assustou deixando o saco cair no chão, quase espalhando todo seu conteúdo. Procurou de onde tinha vindo a voz, e encontrou agachado detrás da caçamba de lixo fumando, estava escuro e por isso ele não havia notado ele ali, ele não parecia ter mais que 16 anos.
_ De quê?
Ele tentou fingir que era um legítimo funcionário da cozinha para não levantar suspeitas.
O menino só riu e balançou a cabeça, deu um último trago no cigarro, o apagou no chão e se levantou, indo em sua direção. Ele vestia uma roupa que definitivamente não era de um segurança e nem uniforme da cozinha. Ele vestia uma blusa branca, calça jeans, e tênis brancos da Nike. Tiago ficou em silêncio esperando ele responder, mas ele não parecia que iria falar algo, só o observava, com uma curiosidade genuína.
_Bom, eu preciso ir, desculpe te interromper.
Tiago se abaixou para pegar o saco que havia derrubado, e foi até a caçamba de lixo. Depois de fechar a tampa, ele se virou e viu que o menino ainda estava ali encostado na parede despreocupadamente.
_Por acaso, você teria um celular para me emprestar?
Ele arriscou, se ele fosse dedurar que ele estava fugindo, já teria feito. Se ele conseguisse falar com Carlos, ou com a polícia estaria salvo. Talvez o menino nem soubesse o que tinha acontecido com ele, e achasse que ele realmente era funcionário da cozinha.
_Por um acaso eu tenho sim, mas não está aqui comigo agora, está no meu quarto.
_E você poderia trazer ele até aqui?
_Na verdade, está carregando, mas se quiser mesmo usar, eu te empresto.
_Sério? Seria de grande ajuda, eu perdi o meu sabe.
Ele balançou a cabeça, enfiando as mãos nos bolsos.
_Na verdade não gosto de tirar ele do carregador no meio da carga.
Ele pensou por um momento.
_Já sei! vamos, vou te levar até meu quarto.
Tiago achou muito suspeito a atitude dele e já ia recusar, quando o menino, pegou seu braço e o puxou pelo caminho de volta para dentro.

Teo estacionava o carro, em frente ao prédio dos rapazes, Sofia se ofereceu para vir junto, ela não se lembrava muito bem do amigo de Carlos, mas ele a havia levado em segurança no outro dia, e ela queria ajudar de alguma forma. Eles saíram do carro e foram andando em direção ao prédio de dez andares. Carlos estava do lado de fora, andando sem parar com o semblante preocupado.
_Nenhuma notícia dele ainda?
_Não, será que ele está bem?
_Eu acredito que sim, vamos acreditar que ele só encontrou algum colega e foram a algum lugar e o celular dele descarregou.
_Tomara que sim.
Mesmo assim ele não ficou aliviado, enquanto Tiago não chegasse ele não se acalmaria.
_Porque não esperamos lá dentro? Sofia falou.
_Isso, vamos entrar, vou fazer um café pra gente.
Carlos concordou com um suspiro desanimado.

Tiago seguia o menino desconhecido de volta de onde escapara, ele sabia que estava arriscando sua vida por confiar em uma criança, que podia muito bem o estar levando à pessoa que o trouxe ali, mas ele não tinha alternativa melhor que essa. Eles passaram pela cozinha com os funcionários observando, ele achou que iriam pela escada de mármore, mas ele foi na direção oposta, seguiram até uma pequena escada que parecia ser usada somente por funcionários, eles subiram até o terceiro andar, e caminharam pelo corredor até uma porta. O menino fez sinal de silêncio e pediu para ele esperar ali, Tiago concordou com a cabeça, ele entrou e fechou a porta, Tiago ficou olhando para os dois lados do corredor nervoso enquanto esperava. O menino abriu a porta e fez sinal pra ele entrar no quarto também, Tiago deu uma última olhada no corredor e entrou. O quarto era uma suíte bem grande e espaçosa, no centro do cômodo havia uma enorme cama com dossel, nela um velho estava deitado, o olhando atentamente, Tiago se assustou, achou q não teria ninguém ali, ele olhou para o menino como que pedindo uma explicação, mas ele já estava distraído com o celular, sentado em uma poltrona do lado direito da cama, e não falou nada. O velho continuava a observa-lo com olhos gentis. Tiago não moveu nenhum músculo do lugar, preso no olhar do senhor deitado na cama, ele se concentrou em sua respiração, que estava bem rápida para tentar se acalmar. O velho finalmente fez um gesto para ele se aproximar, como não tinha outra escolha, ele foi até a beirada da cama, o velho deu batidinhas no colchão, para ele se sentar ao seu lado da cama. Sem jeito ele o fez, o velho pegou em sua mão, o que deixou Tiago ainda mais confuso.
_Fico feliz que tenha chegado em segurança até aqui, Sebastian me falou que você estava tentando fugir.
Tiago arregalou os olhos surpreso, imaginou que esse era o nome do menino que o trouxe até ali, ele o encarou zangado, mas Sebastian nem prestava atenção na conversa.
_Não precisa ficar bravo com ele, ele estava ansioso para conhecê-lo melhor.
_Porque? Vocês não estão me confundindo com outra pessoa não?
_Seu nome é Tiago Dante não é mesmo?
_Sim, segundo minha certidão de nascimento esse é meu nome.
_Então não houve nenhum engano, você é realmente o neto, que eu acreditava estar morto.

Se for com você, ficarei felizOnde histórias criam vida. Descubra agora