Tudo parecia explodir dentro dela. Tudo doía.
Por quê? Sua memória falhava.
Imagens se embaralhavam em sua mente. Clarões de luz penetrantes feriam seus olhos. Sons pungentes – dissonantes, violentos, aterrorizantes – aumentavam seu pânico. A respiração, acelerada e ruidosa, rugia em seus ouvidos.
Outro clarão de luz angustiante, borrões de movimento, música... cordas? Uma mulher negra se transformando em um homem moreno com uma gravata- borboleta vermelha. Informações desconexas. Ela precisava acordar. Tentou. Não conseguia.
Sua cabeça girava como um furacão em alto-mar... ondas a puxavam para baixo, prendiam-na às profundezas. Ela arfava... e tornava a ser engolida pelas águas... não conseguia respirar.
Quando a escuridão enfim a envolveu, foi bem-vinda como uma velha amiga.
Alguém se inclinou sobre ela e a acordou. Uma imagem desfocada. Uma voz distante. Seus pulmões doíam. O ar estava pesado. Líquido. As sombras pareciam encurralá-la, engolindo-a. Uma nesga de luz branca se encolheu até sumir.
Ela gritou. O que está acontecendo comigo? Nenhum som saiu.
Lembranças de sonhos e alucinações misturavam-se e distorciam-se, até se tornarem um espetáculo de horrores por detrás de seus olhos. Ela se encolheu, tentando se esconder, querendo sumir. Mas para onde ir? Seus gritos inúteis se transformaram em soluços.
Um pano morno na testa. Conforto. E uma fragrância pungente que ela não
conseguia reconhecer penetrou seu corpo, espalhando-se pela garganta, descendo pelo estômago, tomando todos os seus membros. O alívio era irresistível. Os sons foram abafados. A quietude a envolveu.
Ela voltou a adormecer.
Quando acordou novamente, uma conversa quebrava o silêncio nebuloso da noite.
– John. – A voz feminina era penetrante e aguda. – Esta jovem é uma anomalia. Os Curadores estão tentando descobrir suas origens, mas o código genético dela é incrível. Ninguém nunca viu nada parecido!
Um homem de voz calma e bondosa respondeu:
– Parece que o impossível e o absurdo são o playground de Deus.
A menina esforçou-se para abrir os olhos, mas foi em vão. Um peso mantinha suas pálpebras cerradas, exaurindo-a. Por que não consigo me mexer?
– Eles precisam de mais tempo para desvendar este mistério – disse a mulher.
– Parece que teremos tempo de sobra. A recuperação dela não será rápida – ponderou John com um suspiro. – Não entendo o que está acontecendo, Letty, mas de uma coisa eu sei: esta menina se tornou a minha anomalia.
Letty riu.
– Ouça só você, todo protetor e carinhoso!
Ela fez outro esforço. Acorde! Acorde! A dor reclamava espaço. Seu corpo pareceu perder o equilíbrio. Ela se retesou para lutar contra a sensação de estar caindo.
– Às vezes me pergunto: Por que eu? – disse John. – Por que Eva me convidou para participar disso?
– Talvez por você ter sido uma Testemunha?
– E o que isso tem a ver com esta menina?
Letty respondeu cantarolando baixinho. A sensação de desequilíbrio da menina cessou abruptamente. O corpo dela pareceu se endireitar. As vozes sumiram. Ela se sentia flutuando em uma lagoa de paz.
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EVA - William P. Young
General FictionEm algum um lugar entre mundos um "Catalogador" recebe uma missão, verificar e catalogar o que chegou pelo mar. Um contêiner com 12 corpos, 11 meninas e 1 homem. O que aconteceu com eles ninguém sabe. Mas John percebe algo estranho entre os pertence...