EVA - William P. Young

Capítulo 12: Seis dias

Lilly flutuava. A princípio ela se debateu contra o fluido espesso que a sufocava e abraçava ao mesmo tempo, especialmente quando ele entrou em sua boca. Como antes, quase ficou em pânico ao respirar aquela lama pegajosa. Seus pulmões se encheram de líquido.

Mas dessa vez ela se adaptou mais rápido, sabendo que não ia sufocar. Com os olhos abertos, porém sem enxergar nada, ela se deixou levar pela corrente. Logo uma paz a preencheu. Lilly sabia onde estava e se lembrou do que tinha acontecido. Na Sala dos Registros, ela colocara as mãos sobre a mesa.

O PRIMEIRO DIA

A detonação se espalhava, instantânea e contínua, não só uma luz arrebatadora que transmitia força e informação, mas também som em expansão, como uma canção universal. Primeiro veio uma inspiração reluzente, depois uma expiração de êxtase e arrebatamento, ao mesmo tempo irrefreável e contida dentro de um fogo voraz, uma rajada de vento e água: a culminação de uma Voz Todo-Poderosa que desembocava em uma união altruísta.

Grandes quantidades de matéria chocavam-se contra o caos, liberando fagulhas de poder que criavam espaço,energia e tempo.Tudo isso diante da presença edos aplausosde seres espirituais. Era um alaridoesmagador e dissonante, uma cacofoniaavassaladora, à medida que a harmonia se envolvia ao redor de umamelodia central.

Estava tudo acontecendo outra vez. Lilly estava revivendo a primeira explosão da Criação e a construção do útero em que Deus geraria o Homem. Mas agora ela sabia por que estava ali: para testemunhar as Eras dos Inícios. Não havia como voltar atrás ou impedir o processo, então ela se deixou levar, sentindo, experimentando e conhecendo, permitindo que aquela onda cósmica a arrebatasse, carregando-a em sua crista.

Lilly não estava ali para entender, medir ou censurar, mas para ouvir, ver e sentir; as tarefas de uma testemunha. Como ela poderia compreender luz, energia, seres espirituais e dobras que formavam camadas entre força e matéria? Como sua mente poderia assimilar os mistérios de cordas quânticas, quarks e múltiplas dimensões? Era impossível, e não importava. Mas o que Lilly sabia era que o foco do Amor de Deus estava concentrado em um planeta minúsculo, remoto e perfeitamente construído, instalado dentro dos limites de uma galáxia em espiral.

A Testemunha flutuava sobre o casulo de um novo mundo, um deserto sem vazio e forma, envolto por um dossel de poeira – resquícios de estrelas e gases. Lilly não conseguia ver, mas ouvia e sentia a pulsação lenta das asas do Espírito, bem como os gritos dos Anjos que a tudo assistiam e proclamavam o nome Dela: Ruach! Ruach! Ruach! O Espírito soprou para longe os escombros para deixar que a luz da estrela mais próxima penetrasse o caos da superfície.

A noite se transfigurou em manhã; e isso foi Bom.

O SEGUNDO DIA

A flamejante Alegria de Deus separou a matéria em alvoroço. O calor trazido pelo Sol e a umidade carregada de poeira brincavam com o rosto de Lilly, que assistia a tudo extasiada. A luz do primeiro dia havia penetrado as profundezas do oceano, despertando novas canções no fundo das águas. Uma dança viva e perfeitamente sincronizada respondia à melodia, enquanto a noite se transfigurava em manhã, e isso foi Bom.

O TERCEIRO DIA

A Terra tremeu. Sua crosta vergou. Vulcões urraram em louvor, erguendo-se em direção aos céus. O solo, depois de resfriado, cobriu-se de vegetação. Com um floreio, o Artista da Criação pintou a arrebatadora paisagem do planeta.

O Espírito saltitava como uma criança, totalmente entregue ao Amor do Pai. A noite se transfigurou em manhã; e isso foi Bom.

O QUARTO DIA

Lilly conseguia ver, nas alturas, as hostes celestiais. A lua clareava a noite, cercada por uma plateia de incontáveis estrelas. A luz do dia varreu para longe as nuvens de poeira, deixando o céu translúcido. As luzes que Deus havia concebido na explosão agora pendiam das alturas, visíveis e expectantes. O palco estava armado para o Dramaturgo, e os espectadores viram, ansiosos, a noite se transfigurar em manhã; e isso foi Bom.