Capítulo 5: O jardim de Deus

12 1 0
                                    


– Venha, Lilly – sussurrou a mulher.

Por um instante, enquanto ela se levantava, a luz ao redor implodiu e ela pensou que estava perdendo a consciência outra vez. Quando voltou a enxergar, Lilly se espantou.

– Mãe Eva, onde estamos agora? – As cores, os sons e os cheiros de uma grande floresta invadiram seus sentidos.

– Do lado de dentro dos portões do Éden. – Enquanto Eva falava, Lilly sentia a força de sua presença. – Quando você testemunhou o nascimento de Adão, estávamos do lado de fora.

O lugar era impressionante, mas, de alguma forma, a deixava perfeitamente à vontade. O calor, a umidade – tudo trazia conforto, tranquilidade e prazer. Então é assim que o normal deveria ser, pensou. Porém, esse pensamento foi logo seguido de outro: Você é tudo, menos normal. Não pertence a este lugar.

– Gostaria de ver mais, Lilly?

Quando a menina concordou com a cabeça, Eva apanhou sua mão e ambas alçaram voo, flutuando em pleno ar. Era como se seus pés ainda estivessem em terra firme, embora ela pudesse ver o solo se afastar ao olhar para baixo. Lilly perdeu o equilíbrio, mas recuperou-o com facilidade. Não conseguiu resistir e bateu o pé no vazio. Sim, era como se houvesse algo ali. Eva olhou para ela e sorriu.

Acima da copa das árvores, elas desaceleraram até parar, ainda suspensas no ar.

– Este é o jardim de Deus – disse Eva –, criado para ser habitado por todos nós.

– É enorme! – exclamou Lilly.

Ele se espalhava para todas as direções por centenas de quilômetros, até que, no horizonte distante, as muralhas se erguiam do solo até desaparecer no céu, como gêiseres monumentais de água multicolorida. O ar era límpido, fresco e acolhedor, e estava em perfeita sintonia com ela.

– Você disse que o Éden é um cubo, correto? Mas, por maior que ele seja, duvido que todos nós coubéssemos aqui.

– O Éden se expande e contrai de acordo com a necessidade. Não é um lugar, da maneira como você entende. Na era vindoura, depois que tudo tiver sido concluído, ele crescerá para incluir toda a criação.

– Você parece triste – disse Lilly. Eva sorriu.

– Não é tristeza, minha filha. É nostalgia. Esta é a morada da virtude.

– Virtude?

– Relacionamentos corretos, baseados na sinceridade e na confiança.

– Isso é possível? – Lilly ficou constrangida com a própria impulsividade. – Quero dizer, relacionamentos assim existem?

Eva apertou a mão da menina.

– Sim, minha querida. E não precisa sentir vergonha. Nossos medos mais profundos nos lembram de que perdemos algo fundamental e precioso. Esses medos são a esperança de retornar.

– Retornar para onde?

– Para este jardim.

– Mas Deus não expulsou você? – perguntou Lilly.

Eva parecia prestes a responder quando algo desviou sua atenção.

– Ouça.

Lilly conseguia ouvir. Uma canção bela e ligeiramente desafinada vinha de longe.

Era a voz clara e alegre de um menino atravessando a floresta.

– Este é...?

– Adão? Sim! Olhe!

EVA - William P. YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora