Criatura da noite

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Os passos ecoam no silencioso corredor. Muitas pessoas o chamaram de louco por aceitar ter ido até ali, apesar disso, o psicólogo se prepara para pegar seu bloquinho de notas e uma caneta. Ele nunca foi claustrofóbico, mas ali embaixo, a dezenas de metros abaixo da terra, parecia que tudo o fazia sufocar. Principalmente do que estava por trás da cela 37 com grossas grades de proteção. O guarda ao seu lado dá uma ordem pelo rádio quando eles param em frente a uma porta de ferro.

-Abrir cela 37! – Ele se vira para o psicólogo. – Não se preocupe, nós estaremos aqui fora para o que precisar. Ele não vai atacar o senhor ou tentar fugir com essas belezinhas aqui. – Apontando para a arma que segurava nas mãos. O psicólogo acena com a cabeça, tentando criar coragem, mas, finalmente, ele entra na cela iluminada por várias luzes brancas.

"Eles têm certeza que é esse o homem que vou interrogar?"

Ao entrar no quarto isolado, ele enxerga uma figura aparentemente frágil, encolhida embaixo de cobertores e lendo um livro em um dos cantos, entretanto, o psicólogo sabe que não pode se enganar pelas aparências. Ele vai direto ao ponto.

- Estou aqui para interrogá-lo. Eu soube que está preso porque sabe de algumas coisas que não deveria saber, coisas assustadoras que têm acontecido na cidade, rumores que se espalham pelo povo, mas essas historinhas não explicam a gravidade das mortes e dos assassinatos que estamos enfrentando. O que você pode me contar sobre isso?

O livro é fechado com força e o homem frágil vira a cabeça para lhe olhar de cima a baixo, analisando aquele novo intruso que estava na sua cela.

- Rumores, historias, mitos... E se eu te contasse que tudo é verdade? O que você faria?

- Eu diria que a extinção humana estaria muito próxima, mais próxima do que imaginávamos.

- Então, devia se preparar para o fim. Os rumores são verdadeiros, volte para casa e reze com a sua família enquanto ainda há tempo.

- O que você quer dizer?

- Que o tempo de vocês ACABOU! Aliás... - neste momento os seus olhos mudam de cor, eles se tornam tão vermelhos quanto a cor do sangue. - ... você devia saber que eu sou uma dessas coisas que as pessoas temem nos rumores.

Os olhos do psicólogo se arregalam de medo ao presenciar o horror à sua frente. O aparentemente homem frágil se tornou uma antiga criatura da noite que conhecemos muito bem, pois os intitulamos de "vampiros". Sua pele mudou para a cor do marfim, sua altura quase dobrou de tamanho, seus dentes ficaram pontiagudos e suas asas eram a coisa mais linda que o psicólogo já tinha visto, mas também era uma das mais aterrorizantes. A sua última lembrança será desse par de asas negras antes de sufocar até a morte.

Nem grades de proteção, nem armas de fogo e nem guardas impediriam a sua fuga. Guardas atiraram com todas as suas munições, no entanto, as balas deles fizeram apenas arranhões. A parte mais difícil era sair de sua cela, porém, a visita de hoje lhe proporcionou uma ótima oportunidade. Ele sabia que sua liberdade estava próxima de se concretizar quando viu aquele psicólogo fracote morrendo de medo. Agora, vinha a parte mais fácil, ele sabia o caminho da saída. Ele foi direto ao terraço e contemplou a cidade que brilhava de noite. Os dias dos humanos estavam contados. Uma nova era estava para surgir. Ele estava, finalmente, livre.


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