Aqui é tudo estranho. A cidade, as pessoas e até mesmo o ar que respiramos. Alguns moradores são sérios demais e mórbidos e outros são legais e mórbidos. Isso que é estranho. Esse contraste que existe no ar, como uma barreira invisível que você tenta juntar os dois lados opostos e não consegue. Pelo menos não sinto essa sensação na casa nova. Ela é pequena e aconchegante, simples e bonita. Eu e meus pais concordamos que seria uma boa mudar um pouco a paisagem e escolhemos juntos a nova cidade que moraríamos. Como meu irmão é mais novo, ele não pôde opinar. Chorou a viagem inteira, deixando eu e meus pais com dores de cabeça. Depois de duas semanas, ele só parou de chorar e de ficar triste quando ganhou um porquinho da índia dos meus pais. Agora, Eddie é o mais novo membro da família.
Que nome horroroso.
Neste momento, estou arrumando as prateleiras de livros na sala, tirando os velhos livros dos antigos donos da casa e colocando-os numa caixa para a doação. A metade é sobre livros didáticos e a outra metade é sobre livros antigos com folhas amareladas. Nada muito que me interesse. Tenho que tomar cuidado com eles, pois alguns estão com as capas soltas.
- Quando as pessoas não tomam conta dos livros, é isso que acontece.
Continuo retirando os livros e milagrosamente um me chama a atenção. O título é "A História da Cidade", mas não foi isso que me interessou e sim a capa. Eram duas fotos, mostrando um antes e depois. Com certeza muitas coisas tinham mudado. Um campo com poucas casas transformou-se numa cidade cheia de prédios. Espera. Tem alguma coisa aqui. Na foto da esquerda que mostra o antes da cidade, na extrema direita aparece uma mulher de meia idade usando roupas largas. Até ai estaria tudo bem, se não fosse pela coincidência de a mesma mulher aparecer na foto da direita também. Na mesma posição. Usando as mesmas roupas. A diferença de anos entre as fotos deve ter o que? Uns 200 anos? Parece ser um livro oficial com fotos oficiais da cidade, por que alguém faria uma montagem?
- Que falta de profissionalismo...
- O que disse? - pergunta um dos meus pais que está na porta da sala limpando as mãos com um pano.
- Nada não, tava falando comigo. Ei, esse pano não é que usamos no Natal?
- Quê?... MERDA, é sim.
Quando a noite chega, estou na minha cama morrendo de sono, mas não consigo dormir. Aquele livro. Aquele maldito livro me deixou assim. Por que a mesma mulher aparece nas duas fotos? Prometi que iria ler o livro amanhã pra procurar alguma história sobre ela, só que eu não consigo esperar. Levanto da cama e vou direto para a sala. Ligo a luz e procuro pelo livro. Eu o deixei em cima da mesinha do canto, do lado da TV. Ali está. Sento no sofá e começo a folhear as páginas, procurando por algo que nem sei o que é exatamente. Passo os olhos sobre o sumário e leio mentalmente "Origem", "Mapa da cidade", "Museus", "Lendas urbanas"...
Lendas urbanas parece divertido, vou ler só um pouquinho e depois volto para procurar sobres as fotos. Ali diz página 76. Vamos ver. Ué, só tem uma história? De qualquer jeito, assim é mais rápido de ler.
Título: A lenda da Rita
"Rita era uma mulher muito apegada ao seu gato. Ela nunca tinha se casado e era estéril, por isso não tinha filhos também. Seu bicinho de estimação era a sua única família. Ele se chamava Felpudo. Esse nome foi dado a ele, obviamente, por ser muito peludo. Rita o mimava e gastava maior parte do seu dinheiro para que Felpudo tivesse todo o conforto que ele merecia. Um dia, Felpudo sumiu e Rita deu-se por convencida que alguém tinha roubado seu gato. Ela foi na policia, fez a ocorrência e ao longo do tempo, o caso dela foi esquecido. Depois de meses trancada em sua casa e deprimida, Rita se mata tomando vários remédios. Seu corpo foi encontrado dias depois quando o cadáver já estava em estado de decomposição e Felpudo nunca foi encontrado. Porém, o que os policias não sabiam ao entrar na casa de Rita, é que seu espírito não tinha morrido e, na semana seguinte, quatro dos cinco policiais tinham falecido inesperadamente. Os rumores contam que o espírito da Rita seguiu cada policial até suas casas. Louca pela dor e enfurecida por nunca terem conseguido achar o culpado pelo sumiço do seu gato, ela matou cada bichinho de estimação e, consequentemente, os seus donos foram mortos também. A lenda conta que se uma pessoa for dono de um cachorro, gato, hamster, coelho ou qualquer outro animal que seja felpudo, o espírito de Rita chega em sua casa e acredita que o dono é o ladrão e o animal, o seu gato. Então ela mata tanto dono quanto animal de estimação. Levando as almas dos animais para que assim, eles possam ficar com ela pela eternidade, para compensar a morte do seu gato. Com isso, o dono do animal morre pela maldição de Rita."

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Contos de terror
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