Quando o espadachim se deu conta, a noite tinha caído e bilhares de estrelas estavam no céu.
Giyuu não havia aparecido para jantar com ela como sugeriu, também não foi visto por ninguém no dia seguinte e nem no restante da semana. Mesmo assim, não tinha nada de incrível sobre o fato do rapaz não aparecer pela propriedade na maioria dos dias. Nesses em que ele não deu as caras, Shizue passou a reconsiderar o pedido que havia proposto. Sentia-se muito diferente do que era nos últimos anos — não imaginava que iria sentir falta de alguém que nem conhecia direito —, apesar dos olhos dele estranhamente lhe darem um conforto desconhecido.
Os dias passavam rápido, e sempre se surpreendia quando chegava a noite. Era algo natural para ela pensar sobre o rumo da sua vida quando estava sozinha, principalmente à noite. Não soube especificar por volta de qual hora era quando um crepitar de metal foi ouvido do lado de fora da casa. Não tinha nenhuma companhia naquela mansão e os outros caçadores, aqueles que a maioria nunca vira os rostos, certamente estavam ao redor da propriedade. Estava tão sozinha quando Giyuu deveria estar.
Ouviu de novo sons no engawa, então tomou coragem para ver o que era. Quando abriu a porta de correr e pôs metade da cabeça para fora, a cabeleira loira voando no processo também, viu imediatamente os cabelos negros do hashira da água. Ele respirava pesadamente e sua katana jazia ao seu lado com um pouco de sangue.
Shizue se aproximou dele até estar no limite do engawa.
— Tomioka-san...? — disse se aproximando mais, até seus olhos se arregalarem ao ver um ferimento em seu estômago. — Nani!? O que houve!? Você está ferido!
— Estou bem — respondeu com uma voz falha e cansada, mas, ao mesmo tempo, tentando se mostrar indiferente àquilo.
Era óbvio que ele não estava bem.
— Não está não. — Agachou para vê-lo mais de perto. A ferida parecia recente e saia um pouco de sangue, tinha provavelmente sido feita por um tipo de garra, pois o tecido estava rasgado na região do sangramento. — Isso é ruim, o que aconteceu? Você sente dor? Não o vejo há quase uma semana...
A preocupação era evidente no rosto da garota, o que deixou Giyuu intrigado.
— Isso não tem nada a ver com você... — Quase não parecia, mas a voz dele era sôfrega.
Shizue ficou levemente irritada.
— Você está vivendo na minha casa agora, então tem sim! — Olhou ao redor, indecisa sobre o que fazer. Giyuu pressionou o ferimento com a mão, a palma começava a ficar carmesim. — Eu, eu já volto...
Shizue se levantou às pressas e correu para dentro da casa. Subiu as escadas até o banheiro no quarto de seu avô, revirando-o até encontrar uma pequena cesta com suprimentos médicos. Num piscar de olhos, desceu de volta para o engawa onde Giyuu estava, ajoelhando-se ao lado dele e colocando a cestinha marrom no assoalho de madeira.
— Aprendi algumas coisas com um amigo médico do meu avô. Ele costumava vir até aqui para beber soju com Sazami-sobo, mas quando ele não estava me ensinava coisas básicas para passar o tempo — dizia enquanto retirava de dentro da cesta esparadrapos e um frasco com álcool. Giyuu tossiu e uma cara de dor imperceptível tomou seu rosto. — Preciso que você desabotoe o macacão...
— Você não precisa fazer isso — disse Giyuu sinalizando com a mão livre.
— Deixe-me te ajudar... — Pediu, um pouco relutante.
Tomioka ponderou um pouco, quase cogitou se levantar e ir para o próprio quarto, mas então começou a desabotoar os quatro botões da parte de cima do macacão preto. Shizue corou quando viu o tronco desnudo dele, a pela branca marcada por algumas cicatrizes. Foi impossível não corar, nunca tinha visto um homem daquela forma. Sequer havia chegado tão perto deste modo de um que não fosse Sazami. Ela saiu dos pensamentos quando Tomioka olhou para o próprio abdômen, passando a mão no ferimento para inutilmente aliviar o desconforto.
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SNOW WHITE, tomioka giyuu
FanfictionOzuno Shizue fora ungida como a princesa de sua família, mas perdeu muito antes mesmo de compreender o verdadeiro significado da perda. Criada em baixo das asas de empregados e caçadores, ela sempre viveu sob a proteção excessiva do avô. Apesar diss...